A Petrobras confirmou ontem que está em negociações com países consumidores de petróleo sobre a possibilidade de obter financiamentos em troca da garantia de fornecimento futuro do produto.

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Entre os motivos que levam a estatal a buscar essa forma, classificada pelo diretor de financeiro da estatal, Almir Barbassa, como “não ortodoxa”, está a necessidade da empresa busca recursos para o financiamento do Plano de Negócios que está em US$ 174,4 bilhões. “Devido às circunstâncias, precisamos buscar novas mecanismos de financiamento e essa é uma possibilidade”, confirmou o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. “Não se trata de venda antecipada, é um mecanismo de garantia de fornecimento no longo prazo.

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Na medida em que alguns países acham isso importante, podem negociar algum financiamento”, disse o executivo da estatal.

Segundo Barbassa a oportunidade surgiu e a empresa consultou alguns países. “A resposta foi positiva e assim, estamos negociando com três ou quatro países consumidores”, afirmou. José Gabrielli preferiu não revelar, entretanto, com quais governos já existe essa negociação.

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Aliás, a empresa já negocia cerca de 50% dos projetos que ainda não foram contratados e que estão no Plano de Negócios da estatal para os próximos cinco anos. Segundo explicação do presidente da Petrobras, não há meta de redução nos custos para os projetos que estão na fase de aprovação para implementação.

“Não podemos determinar uma meta a alcançar quando se está à mesa de negociações. Quanto mais [redução] melhor”, pontuou Gabrielli.

O presidente da estatal explicou que há 35% dos novos projetos que ainda estão em fases que ainda não entraram nem na fase de projeto básico. São esses empreendimentos que a Petrobras está reavaliando para reduzir com um nível de preços mais inferiores. De acordo com Gabrielli, a empresa está em um período de readequação desses projetos que inclui a redefinição de equipamentos, com a preferência de padronização ao contrário daqueles específicos para um projeto.
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Essa forma beneficiaria a produção dos fornecedores e assim ajudaria a baixar os custos de ambos os lados.

Para o economista e professor Nivalde de Castro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a meta da Petrobras em reduzir os custos dos projetos com o atual custo do barril de petróleo no mercado internacional é legítimo do ponto de vista empresarial. Ele explica que é natural a queda do número de encomendas quando o petróleo desacelera da forma brusca como aconteceu nos últimos meses. No cenário anterior, havia falta de equipamentos para o setor, fato que sofreu reversão, agora há ociosidade na indústria e para atender os poucos pedidos que existem, há uma redução dos valores para manter a empresa em operação.

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Análise

Pelo lado dos fabricantes de máquinas e equipamentos há a vontade de negociar os valores atuais dos contratos ainda não assinados, como das licitações da P-61 e P-63 que foram canceladas em meados de janeiro com o objetivo de rever os preços, segundo a estatal, muito acima do que esperava em seu orçamento.

Para o diretor executivo para petróleo, gás, bioenergia e petroquímica da Associação Brasileira da Indústria de quinas e Equipamentos (Abimaq), Alberto Machado Neto, nesses casos são possíveis as renegociações, mas lembra que antes de qualquer medida, a Petrobras deve realizar uma análise dos preços individualizada por fornecimento quando se tratar do conteúdo nacional.

Esse alerta é feito em decorrência da necessidade em avaliar a estrutura dos custos de produção de cada item. Machado explica que o preço de determinados produtos pode não sofrer a queda esperada pela estatal porque a influência dos custos com mão-de-obra não dá para ser revertido. “Não podemos reduzir o valor dos salários dos trabalhadores, a lei não permite isso”, relembra ele.

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Além disso, outro problema que ele aponta é a alta carga tributária, que não baixou e continua onerando o setor produtivo.

Negociações

O executivo diz que os fornecimentos mais propensos a redução de custos são aqueles em que a estrutura que compõe o preço final tem mais influência no mercado de commodities, por exemplo, aqueles que utilizam muito aço. “Por esse motivo não dá para falarmos em um corte linear de custos”, afirmou o diretor. “Governo, Petrobras, empresários e trabalhadores precisam sentar à mesa de negociações para avaliar essa redução, que é possível de ser feita, mas que não funcionará se ocorrer de forma arbitrária porque poderá levar a demissões e falências no Brasil, reduzindo o nível de empregos e renda no País”, alertou o diretor da entidade.

Segundo Nivalde, a Petrobras possui uma vantagem muito grande no mercado para conseguir negociar preços. Uma dessas vantagens da estatal é a potencialidade de produção de óleo e gás que o pré-sal conferiu à estatal como uma das poucas empresas que possuem grandes reservas de recursos minerais a explorar. Essas reservas, continua ele, deixarão a Petrobras como uma das maiores compradoras do mercado por longo tempo.

“Por essas razões, é possível que a Petrobras consiga alcançar essa meta de redução dos preços”, definiu Castro.

O próprio diretor da Abimaq disse que em uma visão empresarial procuraria fazer o mesmo que a Petrobras, pois as licitações que foram realizadas em plena euforia da indústria elevaram os preços dos equipamentos e insumos em função da demanda, mas reafirma que a análise é necessária quando há a presença de mão de obra intensiva, que é especializada e cuja formação demora vários anos para chegar à maturação necessária.

“O break even point não deve ser o da Petrobras e nem o do fornecedor, mas do Brasil”, enfatizou Machado ao lembrar que a maior parte da receita da estatal é obtida no Brasil e em reais, em função do tamanho do mercado interno, diferente de muitas empresas como a PDVSA, que depende das vendas ao exterior. “O setor de petróleo e gás é um dos principais formadores de cadeia de produção e um dos maiores incentivadores da economia nacional”, completou ele.

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Fonte: Estadão