Um em cada três municípios de Minas Gerais depende da mineração. Nos últimos anos, com a atividade em expansão, eles viram jorrar dinheiro nos cofres públicos. O mundo comprava muito minério para produção de aço, o preço estava em alta e a arrecadação também. Até que veio a crise, com uma queda generalizada nas encomendas, e, como diria Carlos Drummond de Andrade, colocou uma pedra no meio do caminho do crescimento.

A arrecadação desses municípios é atrelada à mineração. O reflexo direto aparece na Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem), que corresponde a 2% do faturamento líquido das mineradoras. Mas também há impacto na arrecadação de ICMS e ISS. Para se ter uma ideia da importância do setor no Estado, 53% da Cfem recolhida no país está nas mãos dos 277 municípios mineradores de Minas Gerais.

Junto com a siderurgia, a mineração responde por 40% da produção industrial mineira e as duas atividades estão entre as mais impactadas pela crise no Brasil. "Por essa característica econômica, Minas Gerais é o Estado que mais sofre", diz o gerente de Economia e Finanças da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Guilherme Velloso Leão.

Em Itabira, cidade natal de Drummond e berço da Vale, a Cfem corresponde a 25% da receita. Só até março, esse recolhimento já caiu pela metade e a expectativa é cair ainda mais. O prefeito João Izael diz que a Cfem deve despencar 66% ao longo do ano e a cidade deve perder R$ 30 milhões em arrecadação.

O motivo é a redução de produção de minério. Houve demissões na indústria e as prestadoras de serviço acompanharam nas dispensas. Com isso, o nível de emprego e renda caiu, o comércio desaqueceu e os impostos gerados pelo varejo encolheram, situação que se repete nos outros municípios mineradores. Quem vai pagar a conta é a sociedade, já que a alternativa das prefeituras é enxugar gastos.

Cortes. Em Itabira, a tesoura já está em ação. A prefeitura suspendeu por tempo indeterminado todas as obras de infraestrutura. Um exemplo é o asfaltamento da estrada que liga o distrito de Ipoema a Itabira. Outro setor afetado foi o de eventos, que perdeu 50% do orçamento. "O Carnaval, que normalmente custa R$ 1 milhão, este ano custou R$ 500 mil", diz. Até o futebol "pagou o pato". A ajuda de custo dada pela prefeitura à Liga Itabirense de Futebol Amador (Lifa) caiu pela metade.

"Enquanto a mineração ia bem, a cidade também ia. De repente veio a crise, a Vale demitiu, fez acordos de redução de jornada e salários, diminuindo o poder de compra. Os comerciantes estão inseguros. No momento, acreditamos que a salvação está nas mãos da China, que precisa voltar a comprar minério como antes", afirma.

Fonte: Estadão