Os investidores que conseguiram superar a frustração de ver suas aplicações encolherem drasticamente no último semestre de 2008 agora começam a ser recompensados. Passado o pico da crise global, o mercado acionário brasileiro volta a ganhar fôlego e já acumula alta de mais de 35% no ano. Alguns papéis, porém, tiveram desempenho muito acima do Ibovespa na primeira metade de 2009.
É o caso das empresas do setor de construção. O pacote habitacional, lançado em março pelo governo, trouxe nova vida ao setor, provocando uma disparada nas ações das empresas. Dos 20 papéis que mais subiram no ano, sete são de construtoras e incorporadoras – e todos tiveram alta de, pelo menos, 100% (veja na tabela abaixo).
“O setor de construção foi o que mais sofreu com a crise. Como as ações estavam muito depreciadas, criou-se espaço para uma forte alta. Mas só vamos saber se essa valorização vai se sustentar daqui um tempo, dependendo do comportamento da economia”, diz Eduardo Silveira, analista da corretora Fator.
Com a volta dos investidores estrangeiros ao Brasil, as ações da Tenda saltaram para a liderança do ranking dos papéis mais valorizados, acumulando alta de 220,7% no ano. A construtora, que foi recentemente comprada pela Gafisa, é apontada pelos analistas como uma das que serão mais beneficiadas pelo programa “Minha Casa, Minha Vida”, ao lado de MRV e Rodobens, que também têm o perfil voltado para a baixa renda. Mesmo após a forte valorização dos últimos meses, a corretora Brascan ainda vê um potencial de valorização de 56,7% para a Tenda. Pelos cálculos do analista Cristiano Hees, os papéis da companhia, que no dia 18 de junho fecharam cotados a 3,72 reais, podem chegar a 5,83 reais até o final do ano. Já para a Gafisa, a expectativa é de valorização de 44,2%, com as ações subindo até 23,22 reais.
A MRV aproveitou o bom momento do mercado para anunciar uma nova oferta de ações na Bovespa. A empresa espera levantar 535,5 milhões de reais com a operação, dinheiro que seria utilizado na aquisição de novos terrenos, construção e incorporação de empreendimentos e para capital de giro. Mas, na avaliação da Fator, as ações da companhia têm pouco espaço para subir daqui pra frente. Os papéis já teriam incorporado os efeitos positivos do pacote habitacional e, como a demanda ainda está em recuperação, o potencial de valorização seria limitado. Por isso, o preço-alvo projetado para junho de 2010 é de 30,40 reais, o que representa um potencial de valorização de 20,2%.
“Eu recomendo cautela com o setor. Os juros do crédito imobiliário estão caindo mais rápido do que esperávamos, mas ainda é preciso melhorar as condições de emprego e renda para que isso se reflita no desempenho das empresas”, pondera Silveira. “Além disso, resta saber como ficarão os empreendimentos para média e alta renda, já que os estoques ainda estão bastante altos.”
A expectativa é de que os resultados do segundo trimestre sejam superiores aos registrados de janeiro a março, como conseqüência do efeito psicológico provocado pelo lançamento do pacote habitacional. Mas as vendas dentro do programa “Minha Casa, Minha Vida” ainda são poucas, pois é baixo o número de projetos enquadrados no programa. “Sempre há o risco de que a burocracia impeça o pacote de deslanchar”, diz Silveira. “Mas nós estamos esperando que, no segundo semestre, as vendas aumentem.”
Nome de valor
Quem apostou nas empresas do empresário Eike Batista também não tem do que reclamar. Em seis meses, os investidores conseguiram mais que dobrar suas aplicações. Grande parte do resultado, na opinião de especialistas, pode ser atribuída ao próprio Eike Batista. “Ele tem muitos bons contatos e sabe fazer negócio”, diz uma fonte que prefere não se identificar.
De suas quatro companhias, a que trouxe maior retorno ao acionista foi a mineradora MMX. Os fracos resultados de 2008, decorrentes da crise econômica global, e o alto endividamento da empresa derrubaram as ações. “O risco de investir no papel era grande, mas dado o preço extremamente baixo, valia a pena arriscar”, diz o analista da Brascan, Rodrigo Ferraz.
Os rumores de que a empresa seria vendida total ou parcialmente atraíram os investidores, interessados em aproveitar o tag along (direito que os acionistas minoritários têm de receber por suas ações o mesmo valor pago aos controladores em caso de venda da companhia). Os boatos não se confirmaram, mas outro negócio surgiu: um possível acordo entre a MMX e a siderúrgica chinesa Wuhan Iron and Steel (Wisco), que garantiria novos aportes à mineradora.
As fortes chances de que o acordo seja fechado levaram a corretora Brascan a projetar um potencial de valorização de 124% para os papéis, que têm preço-alvo de 15,86 reais. O negócio forneceria à mineradora os recursos necessários para concretização de seu plano de investimentos, elevando assim seu valor. “Além disso, a Wisco deve se comprometer a adquirir toda a produção de minério de ferro deste sistema. Isso reduziria significativamente o risco da empresa, já que seu fluxo de caixa ficaria mais previsível”, explica o analista Rodrigo Ferraz.
As projeções para as demais empresas de Batista também são otimistas. A corretora Itaú, que opera de modo independente do Itaú Unibanco, prevê bom desempenho para a petrolífera OGX no decorrer do ano, com a estimativa de preço justo de 1.315 reais para as ações em dezembro – o que representa alta de 16,2%.
Para a LLX Logística, o potencial de alta é de 114,8%, dado o preço justo de 8,10 reais para o final do ano. No mercado, cogita-se a possibilidade de a empresa fechar uma parceria com a Usiminas para exportação de minério de ferro. A siderúrgica tem planos de instalar um terminal em Itaguaí, no Rio de Janeiro, enquanto a LLX planeja construir um porto em área contígua ao futuro terminal da Usiminas.
O negócio, para a corretora Itaú, faria todo o sentido. “A Usiminas não tem acesso direto ao mar, o que significa que a siderúrgica pode precisar juntar forças com a LLX, a Vale ou a CSN”, destaca a corretora em relatório. A associação com a LLX permitiria à empresa de Eike Batista expandir a capacidade de seu porto, reduzindo custos.
As ações que mais subiram em 2009 |
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Ação |
Código |
Oscilação (%) |
Tenda ON |
TEND3 |
220,7 |
Triunfo Part ON |
TPIS3 |
188,0 |
MRV ON |
MRVE3 |
162,4 |
Banco Pine PN |
PINE4 |
160,2 |
Bicbanco PN |
BICB4 |
155,8 |
MMX ON |
MMXM3 |
155,2 |
LLX ON |
LLXL3 |
149,7 |
Helbor ON |
HBOR3 |
119,9 |
OGX ON |
OGXP3 |
115,2 |
Rodobens ON |
RDNI3 |
111,3 |
MPX ON |
MPXE3 |
105,4 |
SulAmérica (Unit) |
SULA11 |
103,2 |
Eztec (ON) |
EZTC3 |
102,5 |
Rossi (ON) |
RSID3 |
102,4 |
CSU Cardsystem ON |
CARD3 |
100,9 |
Guarani ON |
ACGU3 |
100,2 |
Marfrig ON |
MRFG3 |
100,0 |
Abyara ON |
ABYA3 |
99,7 |
Minerva ON |
BEEF3 |
97,3 |
BM&FBovespa ON |
BVMF3 |
97,1 |
Ibovespa |
|
35,6 |
* Até 18 de junho de 2009, considerando os papéis que foram negociados em todos os pregões |
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Fonte: Economática |
Fonte: Estadão
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