Fazer essa pergunta até há poucos dias soaria esnobe. Seria como se preocupar com a decoração e a qualidade dos móveis de uma casa pegando fogo.
Mas, agora que o incêndio parece ter passado – ou diminuído sensivelmente -, os analistas voltam a se debruçar sobre os grandes temas da economia brasileira, menos vinculados ao curto prazo.
O economista e professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo é um deles.
Para Belluzzo, que trabalhou no Ministério da Fazenda na época do Plano Cruzado, o Brasil é um país com vocação para o crescimento (aliás, até os anos 1980, era o país com a maior média de expansão no século 20), mas que precisa urgentemente resolver alguns problemas estruturais. “Estamos em uma sinuca de bico: a economia precisa avançar, mas ainda tem uma base frágil para isso”, afirma.
O Estado de Minas ouviu outros economistas para falar sobre esses entraves. De modo geral, eles citam a infraestrutura deficiente, a má qualidade do gasto público, o marco regulatório confuso e ineficaz, a baixa taxa de investimento (e de poupança), a alta carga tributária e a desigualdade social, aliada à pobreza. Como se vê, não é pouca coisa, o que mostra o tamanho do desafio que o país tem pela frente. O lado bom é que parece ser consensual a necessidade de encarar esse jogo. E, o que é melhor ainda, todos dizem que o momento para isso é agora. Nathan Blanche, sócio-diretor da Tendências Consultoria Integrada, afirma que tem se surpreendido com os resultados da economia brasileira desde o início da crise.
“Estamos voltando à normalidade dentro da anomalia de uma crise mundial secular. O Brasil surpreende, dado o tamanho da escassez de crédito e da retranca de movimento de capitais em nível mundial. O desafio agora é recuperar investimentos e o nível de atividade”, acredita. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de investimento no país – formação bruta de capital fixo – fechou os três primeiros meses de 2009 em 16,6% do Produto Interno Bruto. Trata-se do menor número para primeiros trimestres desde 2005, quando ficou em 15,9% de janeiro a março. “O país precisa de investimentos voltados para a infraestrutura, uma vez que a capacidade ociosa das indústrias ainda é grande e isso significa que os investimentos no setor vão demorar mais a acontecer”, aponta.
Para tentar resolver a questão, o governo tem nas mãos o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “O problema é que ele ainda não decolou o suficiente por problemas de licenciamento ambiental, falta de recursos, de definições técnicas e dificuldades políticas”, explica Gilberto Braga, professor de economia do Ibmec no Rio de Janeiro. Como 2010 é ano de eleição presidencial, nem mesmo uma esperada pisada no acelerador em 2009 garantirá um aumento significativo da velocidade de implementação do PAC.
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O atraso nas obras do programa coloca em risco, por exemplo, o fornecimento de energia no Brasil em 2012, uma das questões cruciais para o desenvolvimento do país. Além disso, a indefinição de marcos regulatórios como o do pré-sal, que o governo vem anunciando desde o final de 2007, também afugentará investidores e atrasará a produção de petróleo em águas profundas no Brasil. “Os tempos de crise são um momento ideal para investimentos em infraestrutura porque eles preparam o país para os tempos de bonança e geram renda e riqueza”, completa Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
A carga tributária e os maus gastos do governo são outro entrave para o crescimento, lamenta o diretor do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), Fernando Steinbruch. Dados da entidade mostram que 2008 foi encerrado com uma carga tributária de 36,5% em relação ao PIB no Brasil.
“Esse percentual vem crescendo acima do PIB nos últimos anos e isso indica que a população brasileira está ficando mais pobre”, diz. As despesas de longo prazo do governo federal com a folha de pagamento podem comprometer o lado fiscal do país, funcionando como um empecilho ao crescimento.
Fonte: Estadão
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