João Coelho da Costa

A qualidade dos projetos edas obras, hoje, não é a mesma de anos passados. Até a década de 1970 havia planejamento e investimento em obras, com prazos e preços adequados para execução dos serviços. Mas, a partir daquele período, também chamado de "década perdida", os investimentos rarearam e, consequentemente, os projetistas, que detinham o acervo de qualidade e conhecimento, foram migrando em massa, por uma natural questão de sobrevivência, para outras áreas. Isso afetounegativamente toda a cadeia construtiva, tendo impacto nas escolas de engenharia e, por extensão, na entrega e operação das obras.
Por falta de oportunidades, os jovens entravam nas escolas de engenharia e se especializavam na chamada "área comercial", deixando a técnica de lado. Algumas matérias profissionalizantes deixaram de ser obrigatórias, tornando-se optativas e a procura chegou a níveis muito baixos. Em alguns casos, como a matéria "pavimentação", chegou a ter apenas um aluno por semestre letivo.
Por falta de investimentos públicos em infraestrutura, os preços das obrastornaram-se cada vez mais baixos, chegando a níveis inexequíveis. Como consequência, sobreveio a baixa qualidade dos serviços. Os projetos passaram a ser "caricatura de projeto", pois eram contratados por menor preço e prazo insuficiente, às vezes com o rótulo do famigerado "projeto básico", para que na construção a "mesa fosse virada" gerando aditivos de preços que pudessem compensar os prejuízos causados pelos preços baixos iniciais.
A Lei 8666 (Contratos e Serviços), que editada para melhorar as condições de contratação, porémpassou a ser interpretada como "menor preço" e não "melhor preço". Daí, as distorções são cada vez maiores, com os Tribunais de Conta vendo sobrepreços em vários serviços, sem analisar devidamente as particularidades de cada obra.
Contratar projetos por menor preço, ou mesmo através do pregão eletrônico, é querer continuar sem qualidade nos projetos e consequentemente com obras ruins. Nenhuma autoridade, quando tem um problema de saúde, procura o médico pelo "menor preço" e, sim, pelo "melhor preço" (qualidade com preço adequado). Ou então procura omelhor especialista – aquele que detenha a melhor técnica.
Em resumo, o que se deve fazer é investir maciçamente na formação de profissionais, tanto de nível superior quanto de nível técnico e operacional, eefetuar um planejamento de governo e não de um governante; elaborar projetos decentes, rever a lei de licitações, eliminar do mercado os profissionais e empresas que só dão prejuízos aos cofres públicos, e fazer com que o Sistema Confea/Creas atue devidamente na fiscalização do exercício profissional são imperativos para reconquistar e manter a qualidade na engenharia.

João Coelho da Costa é vice-presidente de Ciência e Tecnologia do Sinaenco e presidente da Ecla – Engenheiros Consultores.

Fonte: Estadão