Tatiana Bertolim

Estado terá recursos de R$ 37 bilhões nos próximos quatro anos

No tabuleiro econômico da Bahia tem muito mais do que turismo, automóveis e produtos químicos. O maior Estado do Nordeste vive uma ebulição de projetos, que promete resultar em investimentos de mais de R$ 37 bilhões nos próximos quatro anos.

A construção de plataformas para a Petrobras no Estaleiro Paraguaçu, o porto para exportação de minério de ferro em Ilhéus, a ferrovia de integração que vai ligar o litoral do Estado ao Tocantins, a chegada de novas empresas e a ampliação das fábricas já existentes no pólo de Camaçari são alguns dos fatores que abrem perspectivas de negócios promissores e já aquecem a economia baiana. Governo estadual e prefeituras acenam com benefícios fiscais para atrair mais projetos e acompanham a movimentação com grande expectativa.

Não é para menos. O montante dos investimentos anunciados até agora equivale a um terço do Produto Interno Bruto (PIB) da Bahia, que giram em torno de R$ 120 bilhões ao ano. “Caso todos esses projetos sejam finalizados e as empresas sejam de fato implantadas, falamos em uma ordem de grandeza de mais de 40 mil empregos gerados na Bahia”, afirma o secretário estadual de Indústria, Comércio e Mineração, James Correia.

No fim de junho, um símbolo importante dessa efervescência econômica ganhou contornos reais. Em pleno feriado prolongado de Corpus Christi, a plataforma P-59 conquistou as águas do Rio Paraguaçu, no Recôncavo Baiano, para ser instalada no litoral baiano. A unidade foi construída pelo Consórcio Rio Paraguaçu, integrado pelas construtoras Norberto Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC Engenharia. O grupo ainda trabalha na construção da P-60. As duas plataformas de perfuração autoelevatórias foram encomendadas pela Petrobras em 2007.

Caminhando rumo ao interior do Estado, um investimento de US$ 2 bilhões começa a tomar forma no município de Caetité, a 757 km de Salvador. Conduzido pela Bahia Mineração (Bamin), o projeto Pedra de Ferro – ainda em fase de licenciamento ambiental – vai produzir 19,5 milhões t/ano de minério de ferro. A previsão é de que fique pronto em 2014.

Como esse minério tem baixo teor ferroso, a companhia também vai construir uma usina de beneficiamento a base de água para fazer a extração, além de um sistema de suprimento desse insumo. A água será captada do rio São Francisco, no município de Malhada.

Complexo Porto Sul

Para escoar a produção, a Bamin está construindo um terminal de embarque privativo no Porto de Ilhéus. A estrutura vai ocupar cerca de 300 ha e terá uma ponte a 3,5 km da praia para transportar o minério de ferro. Segundo a mineradora, o insumo chegará até lá por meio de uma esteira – que será coberta, de forma a reduzir os riscos para o meio ambiente.

O terminal faz parte do Complexo Porto Sul – um projeto de R$ 14 bilhões que, segundo o governo baiano, pode gerar até 24 mil postos de trabalho. Ali, será instalada uma central intermodal, formada pelo terminal da Bamin, o aeroporto de Ilhéus, rodovias e a Ferrovia de Integração Oeste-Leste, que cortará toda a Bahia e chegará até o Tocantins.

Iniciadas neste ano, as obras da ferrovia estão orçadas em R$ 6 bilhões. A estrutura vai percorrer um trajeto de 1,5 mil km, dividido em três partes: a primeira, de Ilhéus a Caetité (537 km), tem inauguração prevista para o ano que vem; a segunda, de Caetité a Barreiras (485 km) está programada para 2013; o último trecho tem 505 km e vai deBarreiras a Figueirópolis (TO), ainda sem cronograma definido.

O projeto vai criar uma alternativa de escoamento da produção industrial e agrícola numa região hoje carente de soluções logísticas. Além da Bamin, a mineradora Steel do Brasil, que tem projetos cuja soma pode representar um investimento de US$ 5 bilhões para a produção de minério de ferro no norte de Minas Gerais, também deverá se instalar ao redor da Oeste-Leste.

“A ferrovia vai promover o setor de mineração e o desenvolvimento da produção de grãos no oeste baiano. Além disso, serão criados cinco parques ferroviários e um novo distrito industrial ao longo da ferrovia”, afirma Correia, o secretário baiano.

Camaçari

Mas os investimentos em logística e mineração, embora vultosos, não contam toda a história da efervescência econômica em que se encontra a Bahia. O município de Camaçari – o mais importante pólo industrial do Estado – também vive dias agitados.

Empresas já instaladas na cidade estão ampliando suas fábricas para atender o crescimento da demanda por bens de consumo no Nordeste e no restante do país. A Ford é uma delas. A montadora anunciou que suas fábricas da Bahia e do Ceará vão receber grande parte dos investimentos de R$ 4,5 bilhões que serão feitos no Brasil até 2015.

Alguns fornecedores da empresa americana vão seguir o mesmo caminho, de forma a acompanhar o aumento das encomendas. A fabricante de pneus Continental destinou US$ 210 milhões para aumentar sua capacidade de produção em Camaçari – que passará de 4,5 milhões para 5 milhões de unidades para carros de passeio e de 315 mil para 450 mil no caso dos pneus para veículos de carga. “O Brasil reúne todas as qualidades para se tornar uma potência global no setor de componentes automotivos. Por isso, estamos aumentando a produção”, afirmou o presidente da Continental no país, Maurício Muramoto, quando anunciou o projeto.

Além do crescimento em setores já consolidados no município, Camaçari está atraindo mais empresas. De acordo com o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Hélio Côrtes, há pelo menos 32 novas companhias chegando à cidade.

No começo de julho, o grupo espanhol Gamesa inaugurou, em Camaçari, sua primeira fábrica de aerogeradores para energia eólica no Brasil. A unidade vai atender a demanda de empresas como Iberdrola e Inveravante, que têm planos de ampliar a geração de energias renováveis no Nordeste.

O pólo petroquímico de Camaçari também vai ganhar reforços. A multinacional alemã Basf anunciou em março que estuda a implantação de uma central de produção de ácido acrílico, acrilato de butila e polímeros superabsorventes (SAP) – usados em produtos como fraldas e absorventes íntimos. Para isso, a companhia firmou um memorando de entendiment

o com a Braskem, que vai fornecer propileno, a matéria-prima necessária à obtenção do ácido acrílico.

“Com esses investimentos, seremos a primeira empresa a produzir ácido acrílico e superabsorventes na América do Sul, o que nos permitirá atender melhor aos nossos clientes e fortalecerá nesses mercados”, afirmou, por meio de um comunicado, o presidente da Basf para a América do Sul, Alfred Hackenberger. A decisão final sobre o projeto deve ser tomada ainda neste ano, quando a Basf comemora seu centenário no país.

No fim de junho, a fabricante de autopeças Magna Cosma assinou com a prefeitura um protocolo de intenção para abrir uma linha de produção na cidade. O investimento previsto é de R$ 70 milhões e, segundo a empresa, devem ser gerados 300 empregos diretos quando a fábrica entrar em atividade, em 2013.

Incentivos fiscais e inchaço urbano

Nos últimos anos, a prefeitura de Camaçari lançou mão de uma boa dose de incentivos fiscais para atrair todos esses projetos. O município concede isenção do Imposto Sobre Serviços (ISS) às empresas que se instalam ali, além de uma redução de até 50% no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) na etapa de construção da fábrica, dependendo do número de empregos que o projeto vai gerar. O governo da Bahia também acena com a isenção na cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para as empresas que investirem no Estado.

Além dessas vantagens – que são motivo de controvérsia com alguns Estados –, Côrtes afirma que Camaçari tem conseguido reunir outras condições favoráveis às companhias, principalmente em termos de logística. As duas principais vias de acesso ao município – a BA-093 e a Via Parafuso – estão sendo reformadas. Paralelamente, a calagem do Porto de Aratu será ampliada, facilitando o escoamento de produtos do pólo petroquímico.

Tamanha movimentação econômica, entretanto, impõe desafios a Camaçari. Nos últimos cinco anos, o município ganhou nada menos que 50 mil habitantes – muitos deles atraídos pelas oportunidades de emprego. A população atual já soma 250 mil pessoas. “Isso cria alguns problemas sociais. A prefeitura tem que correr para acompanhar em termos de educação, saúde e habitação”, diz Côrtes.

Na esteira dessa expansão, o comércio local também está mudando de patamar. “De três anos para cá, a atividade do comércio cresceu quase 90% ao ano. O setor de serviços também está se desenvolvendo”, afirma o secretário municipal.

A Bahia como um todo também cresce em ritmo acelerado. O PIB do Estado aumentou 7,5% em 2010, acompanhando o patamar de crescimento da economia brasileira. Os novos projetos – especialmente os de infraestrutura, como a ferrovia e o porto – devem contribuir para diversificar a atividade econômica local. Atualmente, a riqueza do Estado está altamente concentrada na região metropolitana de Salvador e no Recôncavo Baiano.

Na avaliação de Correia, secretário estadual de Indústria, os investimentos em curso ou programados para os próximos anos levam a um ciclo de desenvolvimento econômico e à consolidação de um crescimento sem depender de uma única matriz econômica. “As empresas estão entendendo que o nosso principal mercado consumidor está aqui mesmo, no Brasil, no Nordeste, na Bahia. O processo de diversificação da produção é de grande importância para a busca de uma maior participação nesse mercado, agregando valor ao seu produto e suprindo a demanda”, conclui.

Fonte: Estadão