O Brasil tem gente que sonha com a economia virtual, como se fosse possível o País ter um crescimento vigoroso sem a indústria desempenhar papel algum. Essa gente tanto já aprontou que conseguiu fazer com que a indústria brasileira perdesse em pouco mais de uma década tudo o que ganhara em mais de trinta anos de forte industrialização.
De fato, fruto do desenvolvimento industrial empreendido desde meados dos anos de 1950 até meados dos anos de 1980, a participação da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB) aumentou de 20% para 32% do PIB e, desde este período até 1998, decresceu para os mesmos 20% do PIB do ponto de partida.
O que significa dizer que houve uma regressão de 30 anos em 10 anos na importância da indústria na economia do país. Esta desindustrialização precoce ocorreu principalmente por causa da política macroeconômica que vigorou desde o início da década de 1990.
Embora a queda da participação da indústria no PIB tenha começado ainda na década de 1980, como decorrência da crise inflacionária no País e da aplicação de planos econômicos para combater a ameaça de hiperinflação, o processo teve seguimento nos anos 1990 em diante, radicalizando-se até 1998, agora, sim, como resultado propriamente das políticas que caracterizaram aquele período e que de certa forma se prolongam até hoje.
Se os juros altos e a carga tributária elevada prejudicam o desempenho do parque industrial brasileiro, a abertura apressada e mal conduzida do mercado nacional para importações do início dos anos 1990 e a excessiva valorização do real ocorrida entre os anos 1994 e 1998 também puxaram a participação da indústria nacional para baixo, contribuindo para a desindustrialização.
Em 1999, depois da desvalorização do real, a participação industrial no Produto Interno Bruto (PIB) voltou a crescer, chegando a 23%, em 2004.
Mas, apesar desta melhora, a indústria brasileira não deslanchou e não foi capaz de voltar aos níveis anteriores de participação o PIB porque a política macroeconômica de juros altos permaneceu inalterada e porque a moeda nacional nos últimos três anos voltou a ter forte valorização em termos reais, acumulando um percentual de 25,4% em relação a uma média de 24 moedas dos principais parceiros comerciais do Brasil.
Por conta da manutenção dessa política adversa para a economia real, o Brasil não está acompanhando a evolução da indústria e dos serviços industriais modernos nos países emergentes de maior dinamismo.
No período de 1990 a 2003, enquanto a média anual de crescimento do produto da indústria de transformação no Brasil foi de 1,6%, na China alcançou 11,7%, 7,4% na Coréia do Sul e 6,5% na Índia.
Apesar dos fatores altamente negativos que emanam da política macroeconômica, nem tudo está perdido, pois a indústria brasileira mantém significativa diversificação, preserva setores de ponta tecnológica, além de deter uma alta capacidade de ampliar sua produtividade e de concorrer competitivamente em mercados externos.
E pode reassumir seu papel de puxar o desenvolvimento do País se houver mudança na política macroeconômica, juros mais baixos e compatíveis com a atividade produtiva, tributos menos extorsivos e câmbio adequado.
Portanto, o Brasil precisa decidir de uma vez se continua caminhando para trás ou se atravessa a fronteira da competitividade de volta para o futuro industrializado e com maior potencial de desenvolvimento. Há espaço para reduzir juros, é possível melhorar o câmbio para o exportador, a política industrial e tecnológica pode ser aperfeiçoada e, se houver de fato determinação do governo, a médio prazo a carga tributária será menor.
Temos os instrumentos para impulsionar a reindustrialização do país. O que estamos esperando?

Fonte: Estadão