No primeiro semestre do ano, as exportações brasileiras de álcool cresceram 70,9% em volume e 98,7% em faturamento, segundo dados do Departamento de Açúcar e Álcool do Ministério da Agricultura. De janeiro a junho, 1,546 bilhão de l de etanol foram enviados a outros países, resultando num faturamento de US$ 698 milhões. Em 2006, as exportações do combustível chegaram a 904,6 milhões de l, com receitas de US$ 351 milhões. Hoje, o Brasil possui 325 usinas em operação, somando-se a outras 86 que deverão ser implantadas até 2012. A expectativa é de que, nos próximos cinco anos, sejam investidos R$ 34 bilhões no setor entre novas usinas e expansão dos plantios. O principal comprador do produto brasileiro são os Estados Unidos, com 29,6% do total, com 458,3 milhões de l entre janeiro e junho. Em 2006, o volume chegou a 42%, mas caiu neste ano. No entanto, a recente visita do presidente George Bush ao Brasil deu uma amostra do interesse redobrado dos norte-americanos pelo etanol, pela tecnologia e estrutura de produção desenvolvida no País. As exportações de álcool, no primeiro semestre, para a Europa dispararam 119,5% em volume, se comparadas ao mesmo período de 2006, passando de 82 milhões de l para 180 milhões l. Para o Japão, as exportações passaram de 111,5 milhões de l para 172,8 milhões de l no primeiro semestre deste ano. Não é à toa, neste ano, que diversos grupos com alta capacidade de recursos estão anunciando investimentos no setor. É o caso da Odebrecht, que entrou nesse negócio com previsão de aplicar R$ 5 bilhões nos próximos oito anos. A empresa quer tornar-se uma das líderes no ramo. A companhia pretende alcançar a capacidade de 30 a 40 milhões de t de cana-de-açúcar, aproximando-se da Cosan, líder atual no Brasil. A meta da Odebrecht inclui o domínio de todo o ciclo de produção, passando pela parte de logística e comercialização, tanto no Brasil quanto no exterior. “Nossa idéia é colocar capital próprio, mas o programa tem grande dimensão, então avaliamos possíveis parceiros e até o mercado de capitais”, afirma Ruy Sampaio, diretor de Investimentos da Odebrecht. A empresa deve operar através de núcleos (clusters) que reúnem algumas unidades próximas, com áreas de cultivo em comum – no Sudeste e no Centro-Oeste – além de possíveis aquisições. Outro braço do grupo, a Braskem, maior petroquímica da América Latina, também detém planos de produzir polietileno a partir de álcool. Os grupos privados disputarão com outra companhia de peso, a Petrobras, um filão ao mercado. Em junho, o primeiro volume de etanol produzido pela estatal (73 mil l) chegou ao Japão, na cidade de Kobe, já com características físico-químicas adequadas para utilização pelas indústrias japonesas. Trata-se de uma parceria entre a BR Distribuidora e uma coligada japonesa, a Brazil-Japan Ethanol. É a primeira operação de importação japonesa desde a desregulamentação do setor de álcool no Japão ocorrida em abril de 2006. Apesar do volume envolvido não ser expressivo, foi importante para avaliar todas as etapas do processo da logística necessária. “Demonstra que estamos capacitados a garantir os altos padrões de qualidade da indústria japonesa, com custos competitivos”, destaca Graça Foster, presidente da BR Distribuidora. O mercado potencial de álcool industrial no Japão é da ordem de 300 milhões l/ano, exigindo alta qualidade e padronização. Segundo Foster, a empresa também aposta na expansão do biodiesel em sua matriz e trabalha para incluir o etanol em seu portfólio, investindo na logística e distribuição, para atender à demanda gerada pelas vendas dos automóveis flexfuel. O produto já é exportado para a Venezuela e Estados Unidos, há mercados sendo avaliados como Japão e Nigéria, e negociações paralelas com Chile, Colômbia, Itália, Tanzânia, África do Sul, Angola, Portugal e México. “A Petrobras quer colocar no mercado internacional, até o fim do ano, cerca de 850 milhões l de álcool e, dentro do nosso Plano Estratégico, 3,5 bilhões l até 2011”, diz. Desde maio de 2006, a BR Distribuidora oferece o B2 (biodiesel adicionado ao diesel comum numa proporção de 2%) em 5.139 postos de serviços de sua bandeira, em todo o País, e cerca de 3.600 grandes consumidores (em misturas como B2, B5, B20 e B30). Até o início de 2008 entrarão em operação as três primeiras plantas industriais de biodiesel da Petrobras, investimento de R$ 170 milhões, que produzirão cerca de 170 milhões l/ano. As plantas funcionarão em Quixadá (CE), Montes Claros (MG) e Candeias (BA). Com a entrada em operação destas plantas, a Petrobras terá capacidade para produzir até 180 mil l de biodiesel a partir de diversas oleaginosas. Para finalizar, Maria das Graças Foster reforça a disposição da companhia em participar, de forma integrada, do mercado de biocombustíveis. “Essas atividades se mesclam e se complementam com as que temos na área de combustíveis fósseis, desde a exploração e produção até a distribuição”.
TIO SAM NO SAMBA
A Adecoagro, empresa formada por empresários brasileiros e estrangeiros, entre eles o megainvestidor George Soros, acredita no oeste da Bahia como ponto de partida para seus negócios. A empresa, que entrou no Brasil em 2004, está investindo cerca de US$ 900 milhões na plantação de cana e na construção de três usinas no Mato Grosso do Sul. A primeira entra em operação no próximo ano, e as outras duas em 2009 e 2010. A meta é processar 11 milhões t/ano e 1 bilhão l/ano de álcool, o que vai fazer com que a receita anual do grupo salte de US$ 125 milhões para US$ 600 milhões até 2015. Além da Bahia, a empresa possui fazendas no sudeste de Tocantins e a usina Monte Alegre, em Minas Gerais, que processa 1 milhão de t de cana por safra. Para Marcelo Vieira, a associação de sua empresa Alto Alegre com a Adecoagro, de Soros, surgiu de sua busca por um parceiro capitalista de interesse do investidor em ter um sócio experiente para produzir etanol no Brasil. A Adecoagro possui 235 mil ha de terras próprias, sendo 200 mil na Argentina, 30 mil no Brasil e 5 mil no Uruguai. Outros grupos interessados em entrar no mercado brasileiro são o Pacific Ethanol – que tem como sócio o bilionário Bill Gates, fundador da Microsoft, o alemão NordZucker SudZucker, que atua no setor de açúcar na Europa, e a indiana BHL, dona de usinas em seu País. A empresa contratou a consultoria KPMG para coordenar sua expansão para o Brasil. “Há sete anos, eu tinha um único cliente em operações de fusões e aquisições interessado no etanol brasileiro. Hoje, 80% de minha carteira é formada por in
teressados nesse setor”, diz André Castello Branco, sócio da área de fusões e aquisições da KPMG. (M.R.S.)
Fonte: Estadão
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