E eventual retomada rápida dos investimentos pode levar a nova escassez

A falta de pneus de grandes dimensões, no auge do recente boom econômico que antecedeu à atual crise, tirou o sono de muitos funcionários das mineradoras. Agora, em outro cenário, a situação mudou, porém as notícias ainda são boas nesse segmento específico. Feliciano Almeida, diretor de Marketing e Vendas para pneus de Mineração e Terraplenagem da Michelin, explica que as fábricas da empresa em Vitoria-Gasteiz, na Espanha, e Lexington, nos Estados Unidos, seguem em ritmo forte de produção e continuam com seus planos de expansão.
Almeida explica que as grandes mineradoras ligadas às operações de urânio, xisto e carvão continuam com bom nível de atividade e mantendo os investimentos. Já nos clientes ligados a metais, como ferro e níquel, a demanda caiu porque os projetos foram postergados. "Tivemos uma queda na demanda, que está um pouco achatada, mas não perdemos venda. Quando os projetos forem retomados, podemos ter outra crise de demanda", pondera. Segundo o executivo, parte dessa demanda perdida nas operações ligadas a metais não teve reflexo nas vendas de pneus radiais, se concentrando mais nos fabricantes de pneus off-road convencionais. Alguns concorrentes asiáticos que produzem nas medidas 57" a 63" já sentiram os efeitos da crise, segundo o executivo. "Se tivéssemos mais pneus, poderíamos até vender mais. O setor deu uma freada, mas vai retomar o crescimento. Estamos voltando ao que era no passado e nossa empresa tem um compromisso forte com o setor, não veio para vender apenas quando o mercado está aquecido", comenta Almeida.
Embora fazer previsões não seja prudente no momento, ele cita o fato de começarem a surgir alguns sinais de retomada da produção de aço na China, informação importante para a economia brasileira, exportadora de minério de ferro. A discreta elevação dos preços do cobre também é considerada positiva.
No segmento de pneus para construção civil e infraestrutura a situação é diferente. "Esse segmento foi mais afetado. Houve um reflexo imediato do investimento público e tudo vai depender do andamento dos projetos do PAC", conta. Mas o executivo destaca também um aspecto positivo da crise, que é a possibilidade de aumentar a participação dos pneus radiais nesse mercado. "Acreditamos que a radialização aumentará quando precisarem de produtos que rendam mais", afirma.
A queda maior para a empresa foi nas vendas de pneus para equipamentos originais dos mercados de construção e infraestrutura, com redução de mais de 50%, reflexo da queda das exportações para os Estados Unidos.
A nova fábrica da empresa, construída no Rio de Janeiro, segue em fase de ramp-up, com a produção crescendo de acordo com o programado. Embora não cite números, Feliciano Almeida confirma a necessidade de uma análise semanal da situação junto aos clientes, de modo a não ter estoques altos nem deixar os clientes sem os pneus necessários.

De onde vem a tecnologia da eurotire?

No ápice da escassez de pneus de grande porte, para uso fora-de-estrada, diversas marcas chinesas apareceram no mercado. As mineradoras logo descobriram que os pneus não duravam mais do que 10% da vida média dos produtos das três marcas tradicionais. Assim, quando a Eurotire começou a divulgar suas linhas na America Latina, a pergunta imediata que surgiu foi "de onde vem a tecnologia"?
Em 1980, havia um instituto de desenvolvimento de tecnologia para pneus de grande porte na Ucrânia, que atendia a todos os países na antiga União Soviética. Mantinha relacionamento próximo com as empresas japonesas Bridgestone e Yokohama, e as negociações incluíam o fornecimento de petróleo e carvão para aquele país. Em 1989, a trading Mitsubishi e a Yokohama construíram uma fábrica para pneus radiais com cordoneis de aço na Romênia, com os equipamentos industriais e suporte técnico fornecidos pela segunda empresa.
Nesta mesma época, a Eurotire, formada por dois investidores americanos e três locais, comprou as instalações do institututo de pneus na Ucrânia, em Dnepropetrovsk. A pedido do governo começou a produzir 10 pneus por semana, na medida 33.00-51, em 2003. No ano seguinte, iniciava-se nova crise de escassez de pneus fora-de-estrada no mercado mundial, e a fábrica ucraniana começou a produzir em três turnos, 24 horas por dia.
Em 2005, a empresa investiu US$ 150 milhões em projeto e ferramental para produção de pneus radiais de grande porte na fábrica da Romênia, que também passou a controlar. Ao longo de 2009, serão realizados testes de campo para o novo pneu 33.00 R51 Eurotire, próprio para o caminhão 785 Cat, de 150t, com início de vendas programado para 2010.

Fonte: Estadão