Aadequação dos municípios às novas regras, a partir da regulamentação da Lei de Saneamento (11.445/2007) e do lançamento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), abre caminho para projetos e obras de melhoria dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário. Porém, dados oficiais não escondem o quanto ainda se precisa trabalhar nesse campo.
O Ministério das Cidades informa que hoje 62,4% das residências no País possuem abastecimento regular de água. Este índice cai para 46,8% quando se trata de coleta de esgoto. Já com relação ao manejo de resíduos sólidos domiciliares, apenas 59,6% das casas são atendidas com regularidade.
O atendimento precário das moradias nos três itens, de acordo com o ministério, tem os seguintes índices: 33% (abastecimento de água), 44,1% (esgotamento sanitário) e 27,3% (manejo de resíduos sólidos domiciliares). Sem atendimento algum com relação ao abastecimento de água constam 4,5% das residências; 9,1% delas não possui esgoto sanitário; e 13,1% não são atendidas com coleta de lixo.
Porém, os planos do governo são ambiciosos até 2015: cobrir 99% das áreas urbanas do país com abastecimento de água, e 94% com coleta de esgoto. Na área rural, onde o problema é mais grave, a previsão é chegar ao índice de 64% das residências com água, e 39% com esgoto. Até 2014 o governo pretende investir mais R$ 45 bilhões em saneamento, incluindo nas áreas de fornecimento de água, esgoto sanitário, programa de redução de perdas, drenagem, estudos e projetos diversos e diminuição de resíduos sólidos, com verba proveniente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A Lei de Saneamento, cujo decreto de regulamentação foi assinado no ano passado, é um trunfo para atingir a meta, já que estabelece diretrizes nacionais de atuação, com a obrigação dos municípios apresentarem planos locais de saneamento até 2013, que envolvem dentre vários itens, a execução de projetos que reduzam desperdício e deem destino adequado aos materiais descartados pelos diversos agentes da sociedade. Porém, a universalização dos serviços que garantam as condições sanitárias básicas no País é prevista para 2030, com investimentos totais da ordem de R$ 300 bilhões – cuja viabilidade continua sendo questionada.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos é outro ponto importante da pauta de saneamento e que deverá também mudar as condições de manuseio e descarte de materiais. A ação prevê responsabilidade compartilhada, por meio de um conjunto de atribuições individualizadas e desencadeadas dos diversos agentes da sociedade, e deverá representar uma mudança cultural com relação ao destino do lixo. A iniciativa tem entre suas diretrizes acabar com os chamados "lixões" e dar disposição final otimizada dos rejeitos em aterros sanitários.

Consórcios municipais
A gestão pública na área de saneamento é um desafio permanente para os municípios. A formação de consórcios nas diversas regiões para enfrentar problemas comuns de saneamento básico e ambiental se tornou realidade em vários lugares.
O Consórcio Pró-Sinos (RS), por exemplo, aposta na construção de uma usina regional de reciclagem de resíduos da construção civil, a partir de projeto de tecnologia social da Fundação Banco do Brasil. No Ceará, o consórcio do estado em parceria com a Funasa (com suporte técnico e financeiro), investe em um laboratório de controle da qualidade da água no Sul do território cearense. Já o Consórcio Intermunicipal de Saneamento Ambiental do Paraná apoia a construção do Centro de Referência em Saneamento Ambiental em Maringá e a criação de autarquias de água em municípios no interior do estado.

Novas tecnologias
No âmbito das soluções técnicas com o objetivo de atender às novas demandas na área de saneamento, a Revista O Empreiteiro apresenta a seguir duas delas.
A primeira é da Albrecht e é focada na secagem térmica de lodo de estações de tratamento de água e de esgoto. A segunda refere-se à implementação da modelagem hidráulica, proposta pela Bentley. As duas têm em comum o fato de apresentar soluções que minimizam custos e traz benefícios que garantem melhores condições para o setor avançar no país, seguindo as regras determinadas pela Lei de Saneamento e a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
A secagem térmica de lodo de estações de tratamento de água e esgoto é uma iniciativa com capacidade de diminuir consideravelmente o volume final da disposição de resíduos sólidos.
O engenheiro Luiz Francisco Ferreira, da área de Meio Ambiente e Saneamento da Albrecht, empresa brasileira que desenvolve equipamentos e detém a patente de um secador térmico de resíduos industriais e sanitários, acredita na secagem térmica de lodos como uma solução econômica e ecologicamente viável para o setor de saneamento e a indústria.
Há vários motivos para se preocupar com o lodo. O primeiro é o elevado custo de transporte devido a sua não compactação. Depois, a disposição deste material, já que ele desestabiliza o aterro no qual está depositado por conter elevados teores de água. Além disso, gera um grande volume de chorume, líquido oriundo da decomposição dos mesmos. O chorume é um dos mais graves problemas dos aterros sanitários, já que a sua infiltração no solo contamina o lençol freático.
"A secagem, além de reduzir o peso e o volume deste material e consequentemente o passivo ambiental, ainda higieniza, eliminando os patógenos, que são responsáveis pela transmissão de doença", explica Ferreira.
O processo de secagem do lodo é realizado por meio térmico, por convecção. O equipamento utiliza um ar aquecido que pode ser proveniente de uma fonte de energia residual (gases de escape de chaminé de fornos, caldeiras, estufas etc.), de uma fonte fixa (queimador a gás GLP/Natural, fornalha a lenha, entre outros), ou, ainda, do próprio biogás gerado na estação de tratamento de esgoto (ETE).
"O secador utilizado para a secagem de lodo de ETE é do tipo rotativo, com três estágios e dois moinhos internos. Com este sistema, conseguimos fazer uma secagem direta e indireta. Trabalhamos em um fluxo paralelo, onde os gases quentes caminham no mesmo sentido do lodo. Neste tipo de secador, tanto a fração sólida (lodo seco e granulado), como os gases saturados, saem do secador em baixas temperaturas", continua o engenheiro da Albrecht.
Após a secagem, u

m multiciclone faz a separação dos sólidos (lodo seco) dos gases de secagem. Posteriormente, os gases serão conduzidos a um lavador de gases para abater o material particulado, gerado no processo de secagem.
Luiz Francisco Ferreira expõe que não há riscos no trabalho de secagem "pelo fato do equipamento ser dotado de sensores que controlam a temperatura de operação, inversores de frequência que comandam a velocidade de operação de cada componente do secador, além de um supervisório responsável por monitorar e registrar tudo que foi previamente programado".
De acordo com ele, o único ponto que requer maior atenção é quanto ao teor de umidade residual no lodo. "O lodo seco possui elevado poder calorífico e caso este esteja excessivamente seco, o mesmo poderá entrar em autocombustão. Para evitar que isto ocorra, o sistema supervisório monitora os parâmetros operacionais mantendo-os estáveis", esclarece.
A secagem térmica pelo equipamento também é capaz de gerar combustível que poderá ser utilizado para a geração de energia elétrica ou térmica. Um sistema pode ser acoplado ao secador para a geração de energia térmica para suprir a energia do próprio secador de lodo.
A secagem térmica dos lodos representa redução de riscos ambientais de maneira significativa e permite que às informações operacionais possam ser disponibilizadas à população via internet.

Modelagem hidráulica
simula perdas na rede

A modelagem hidráulica é uma ferramenta de simulação do comportamento hidráulico de rede de distribuição de água, apresentando parâmetros de referência para redução de perdas, gerenciamento de bombeamento e instalação de válvulas redutoras de pressão em pontos críticos da rede na rua. A metodologia permite delimitar com maior certeza as zonas com maior probabilidade de presença de problemas e tornar mais eficientes os programas de economia de água.
Roberto Varela, gerente da Bentley Systems, detentora deste software, esclarece que o programa "permite aos profissionais verificarem rapidamente os potenciais impactos de novas obras, como a construção de um novo shopping center, por exemplo, na infraestrutura existente, permitindo antecipar eventuais gargalos no fornecimento de água e a necessidade de novos investimentos".
De acordo com Varela, a implantação deste tipo de solução tem como base o cadastro da rede existente, de onde são extraídos dados como material, diâmetro e comprimento de rede, entre outros. "A solução disponibiliza um construtor de modelos a partir de diversas fontes de dados, tais como desenhos CAD, tabelas em bancos de dados, planilhas Excel, arquivos Shapefile etc.", continua.
O principal benefício da adoção deste tipo de tecnologia é a melhoria no processo de tomada de decisões operacionais e gerenciais e a redução de custos no fornecimento de água. "A maior dificuldade é quando a empresa desconhece os ativos que possui. O modelo é uma representação da realidade. Se a empresa desconhece a rede que tem instalada nas ruas não há como simular seu comportamento", aponta Roberto Varela.
A tecnologia de modelagem é utilizada no Brasil por alguns departamentos municipais de água e esgoto e empresas estaduais, como Sabesp, Sanepar, Corsan, Casan etc. No entanto, a ferramenta tem se tornado um dos mais importantes recursos na área de operação de rede, ultrapassando as barreiras antes limitadas aos departamentos de engenharia. Ferramentas recentes agregaram recursos de produtividade ao modelo hidráulico, simulando custo de energia envolvido no bombeamento e predição do ponto provável de vazamento na rede de distribuição.
"Com recursos voltados a otimização do bombeamento, por exemplo, a solução permite encontrar o ponto ótimo de operação da rede com base no custo de energia. Assim, é possível determinar a forma mais econômica de operar a rede de distribuição do ponto de vista do consumo de energia elétrica. De forma análoga, a partir do modelo hidráulico, é possível identificar as prováveis áreas em que estão ocorrendo perdas técnicas, priorizando o trabalho das equipes de localização de vazamentos nas áreas mais críticas, de forma a reparar os vazamentos mais significativos no menor espaço de tempo, entre outros benefícios", esclarece o gerente.
Entre o principal exemplo na implantação da tecnologia da Bentley já com foco na modelagem hidráulica no custo de energia, estão os casos da Sabesp Metropolitana Leste, que reduziu suas perdas técnicas de 52% para 36,7%, economizando cerca de 8.000KWh/mês em energia, e a área de Adução Metropolitana da Sabesp, com uma redução esperada da ordem de 20% nos custos de energia.

Montes Claros (MG) aproveita biogás na secagem

A Albrecht instalou na cidade de Montes Claros (MG) o primeiro sistema de secagem de lodos de ETE, com aproveitamento de biogás como fonte de energia térmica. Este projeto é referência em nível nacional por ser a primeira planta de tratamento de esgoto a utilizar o próprio biogás gerado na estação como combustível para fazer a secagem e higienização do lodo.
No Brasil, embora haja grande quantidade de sistemas anaeróbios que produzem o biogás, o aproveitamento deste raramente é adotado. Além de incentivar a racionalização do uso dos recursos naturais, minimizando o consumo de matéria-prima e desenvolvendo mecanismos de redução da geração de resíduos, o aproveitamento do biogás otimiza a matriz energética, já que utiliza um combustível renovável e abundante, além de evitar a emissão destes gases para a atmosfera, possibilitando, inclusive, a obtenção de créditos de carbono por meio deste projeto.
Com a secagem térmica garante-se a redução do peso e do volume do lodo, facilitando o manuseio, o transporte e a disposição, bem como a higienização do lodo (eliminação dos patógenos).

Fábrica usa lodo seco como combustível
A Albrecht instalou na Fábrica de Papel da Amazônia (Facepa), na cidade de Belém (PA), o primeiro sistema de secagem de lodos de estação de tratamento de efluentes industriais com aproveitamento do próprio lodo seco como fonte de energia térmica.


Escândalo em Campinas embaça o foco do encontro

A 41ª Assembleia Nacional da Assemae (Associação Nacionais dos Serviços Municipais de Saneamento), realizada no fim de maio, em Campinas (SP), discutiu o compartilhamento de responsabilidades e descentralização de recursos que, em alguns casos, reduziu a participação dos estados em políticas financiadas pela União para a área.
Sílvio José Marques, presidente da entidade, ressaltou a impor

tância de debater o papel do município com relação à adoção de políticas públicas de saneamento básico. "Além da desigualdade de condições econômicas, culturais, sociais e administrativas entre municípios e regiões do país, há obstáculos institucionais que dificultam a qualidade da gestão do saneamento no país", explicou.
O evento contou com a participação de representantes de todo o País e aconteceu também em clima de preocupação com o destino dos recursos para áreas essenciais. É que escândalos envolvendo diretores e funcionários da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa) e da prefeitura de Campinas emergiram na mesma ocasião, depois que a polícia cumpriu 20 mandatos de prisão por determinação da justiça a pedido do Ministério Público. Entre os acusados estavam o vice-prefeito, Demétrio Vilagra, secretários, funcionários graduados do governo e empresários.
Paralelamente à assembleia, foi realizada a Feira de Saneamento, com exposição de produtos e serviços de mais de 70 empresas e organizações.

Fonte: Estadão