Andreh Jonathas, Fortaleza (CE)

A Ferrovia Transnordestina segue com as obras a todo vapor.
O novo modal ferroviário promete transformar a realidade da logística do Nordeste. Com isso, o País vai experimentar transporte mais ágil na exportação para o comércio exterior

Outra equação comercial vai surgir. Aliás, já está sendo colocada nos trilhos uma nova realidade para colher os frutos de um grande investimento. A logística, peso pesado na conta dos negócios de exportação, vai mudar – para melhor. O que empolga tanto o segmento do comércio nacional e internacional beneficiado é a Ferrovia Transnordestina, com 1.728 km de extensão e remodelação de 550 km, nos estados do Ceará, Pernambuco, Piauí e Alagoas.

O projeto tem um investimento estimado em R$ 5,42 bilhões – R$ 4,45 bilhões no período 2007-2010, conforme informou a assessoria de imprensa do Ministério dos Transportes, com dados do 10o balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do dia 30 de abril. A Transnordestina, associada ao transporte de cabotagem (por navio, dentro do País), vai interligar a Região Nordeste e dar suporte a negócios em todo o País. O objetivo é reduzir o tempo de transporte de cargas, principalmente, com destino à Europa e a Ásia, mercados para os produtos brasileiros. A previsão é concluir as obras em 2012.

Um dos exemplos práticos dos benefícios da ferrovia vai ocorrer no Ceará, na cidade de São Gonçalo do Amarante, mais especificamente, no distrito de Pecém, onde está localizado o Porto do Pecém. O terminal, que vai ser interligado ao Porto do Suape (PE), já é o maior exportador de frutas do Brasil, um dos maiores exportadores de calçados e um dos grandes no setor de carne. Isso ocorre em função da sua posição geográfica. Com a nova ferrovia, esses setores podem ser impulsionados, bem como o segmento de grãos, que poderão ser recebidos em menor prazo do Piauí e do restante do País, lembra Francisco Zuza de Oliveira, presidente da Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece).

"O Porto do Pecém é um dos mais importantes do País. É uma excelente saída de transporte para a Europa e, por isso, a Transnordestina vai representar o aumento das possibilidades brasileiras de exportação", diz. Zuza não descarta a opção de trazer frutas do Vale do São Francisco, dos estados de Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, para serem exportadas via Pecém.

Pelas expectativas do presidente da Adece, a exportação de minérios também deve ser beneficiada. "A Transnordestina vai proporcionar economia de um dia em cada parada. Em dez dias de movimentação, vai-se ganhar o equivalente a um frete para a Europa", garante. Ele informa que o aluguel em um dia no porto chega ao valor de US$ 45 mil (cerca de R$ 80 mil).

Com a ampliação do Canal do Panamá e com a conclusão da Transnordestina, a viagem que demora atualmente 35 dias para a Ásia, saindo do Pecém, será mais rápida. "A maioria das cargas do Brasil que sair do Ceará terá ganho de 15 dias de frete. Isso significa que São Paulo pode trazer de cabotagem para exportar pelo Pecém", aponta Zuza.

As possibilidades se estendem à medida que os pontos de ligações interestaduais vão sendo construídos ou melhorados. "A cada equação que vai sendo fechada, mais negócios serão beneficiados", comenta.

Andamento das obras

– Missão Velha (CE) – Salgueiro (PE) – 96 km – infraestrutura com 98% executados – 75% das obras de arte especiais.

– Salgueiro (PE) – Trindade (PE) – 163 km – infraestrutura com 45% executados em 19/05/2010.

– Trindade (PE) – Eliseu Martins (PI) – 420 km – 10% da infraestrutura executada no Lote 2 – obras nos Lotes 1, 2, 6 e 7.

– Salgueio (PE) – Suape (PE) – 522 km – desapropriados 344 km – 253 km em obras nos Lotes 1, 2, 3e 4.

– Pecém (CE) – Missão Velha (CE) – 527 km – 193 km desapropriados.

– Cabo (PE) – Porto Real do Colégio (AL) – 550 km – 98% reconstruídos.

Metas

– Missão Velha (CE) – Salgueiro (PE) – executar 100% da infraestrutura – 90% das obras de arte especiais até 30/08/2010

– Salgueiro (PE) – Trindade (PE) – executar 65% da infraestrutura até 30/08/2010

– Trindade (PE) – Eliseu Martins (PI) – executar 15% da infraestrutura até 30/08/2010

– Salgueiro (PE) – Suape (PE) – iniciar obras nos lotes 5 a 7 até 30/07/2010 e executar 25% da infraestrutura até 30/08/2010

– Pecém (CE) – Missão Velha (CE) – iniciar obras até 30/07/2010

Cabo (PE) – Porto Real do Colégio (AL) – concluir 100% até 30/06/2010

(Fonte: 10o Balanço do PAC, repassado pela assessoria de imprensa do Ministério dos Transportes)

Impacto da Transnordestina

– Menor custo de logística (transporte) para produtos exportados.

– Valorização fundiária e imobiliária, no Sertão e Cerrado nordestinos.

– Fortalecimento e organização na produção agrícola.

– Novos empreendimentos podem ser atraídos para a região.

– Projetos, como a produção de biodiesel e de minérios ferrosos e não ferrosos, serão impulsionados.

– Geração de emprego e renda em áreas pobres.

– Aumento da arrecadação de impostos.

– Mais possibilidades para melhoria de educação e saúde em políticas regionais.

Próximo da Transnordestina

Na Rede Ferroviária Federal S.A., ele acompanhou a expectativa do crescimento do transporte de combustível e minério não ferroso, como o calcário, por meio do modal ferroviário. Agora, na Transnordestina Logística – empresa responsável por tocar a Ferrovia Transnordestina -, vê de perto as possibilidades se ampliarem para além do que era imaginado.

Aurélio Batista (foto), líder da estação Mucuripe, da Transnordestina Logística, sabe bem o que representa os novos trilhos que chegam pelo Porto do Mucuripe, em Fortaleza (CE), para o projeto. Há 21 anos no mesmo ramo, 12 só na empresa atual, destaca o que pode acontecer nos próximos anos.

"Com certeza, vai ter captação de novas cargas de minérios de Pernambuco, produtos agrícolas, soja e derivados. Vai crescer também a importação de contêineres para São Luiz (MA)", diz.

No Porto do Mucuripe, onde mostrou à reportagem da revista O Empreiteiro os trilhos importados para a ferrovia, Batista informou que está prevista a compra de 135 mil t de trilhos até o final do ano, só por Mucuripe. De lá, o material vai para Missão Velha (CE), depois, para Salgueiro (PE), de caminhão.

E ressalta: "Isso aumenta o volume de movimentação, mas o custo rodoviário é mais caro. Com a Transnordestina, os custos vão baixar muito&qu

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Fabricante participa com máquinas

Mais de 50 equipamentos da Case estão trabalhando nas obras da Ferrovia Transnordestina, nos municípios de Salgueiros, Serra Talhada e Custódia, em Pernambuco.

Eles foram fornecidos para empreiteiras, que trabalham no local, pela Brasif Rental, segmento de aluguel de máquinas da Brasif, concessionária Case.

As máquinas são retroescavadeiras 580M, utilizadas em diversas aplicações; motoniveladoras, utilizadas para espalhar material; escavadeiras hidráulicas CX220B (22 toneladas), para o carregamento de caminhões e o acabamento de taludes; escavadeiras hidráulicas CX350B (35 toneladas), na escavação e carregamento de caminhões; e as recém lançadas escavadeiras CX470B (47 toneladas), também utilizadas na escavação e carregamento de materiais.

A CX470B carrega até 150 caminhões por hora nessa obra, segundo o fabricante. A máquina tem capacidade para 47 t e é voltada, principalmente, para os setores de mineração e construção pesada, que exigem grandes esforços de desagregação e movimentação de carga.

"A Case está se consolidando como uma provedora completa de escavadeiras. Agora temos sete modelos, entre 130 e 470 toneladas, usadas nos mais diversos tipos de obras e aplicações", explica o gerente de Marketing do Produto, Edmar de Paula. Ele informa que a CX470B está tendo grande aceitação e que, na obra da Ferrovia Transnordestina, as unidades estão operando na escavação e carregamento de materiais.

A CX470B possui motor ISUZU de 6 cilindros, design inovador e avançados conceitos de engenharia, motor com potência adicional de 17%, reduzido consumo de combustível e ciclos de trabalho mais rápidos, além de ser de fácil manutenção e ter maior durabilidade.

Edmar de Paula explica que o grande diferencial tecnológico da linha CXB é o motor e o sistema hidráulico reprojetado. As máquinas de 12 a 24 toneladas possuem 4 cilindros e as de 35 e 47 toneladas, 6 cilindros. Uma exclusividade no mercado nacional que, segundo a empresa, traz benefícios diretos ao cliente, como redução de ruído e vibração, diminuição do consumo de combustível, aumento de potência, melhor relação peso/potência, facilidade e redução no custo de manutenção, maior eficiência, menor índice de emissão de poluentes, maior vida útil e maior produtividade.

Principais características da CX470B:

seis cilindros e potência líquida de 362 hp;

– sistema de injeção eletrônica de combustível common rail em duas etapas;

– controle de emissão de poluentes Tier III;

– vibração, ruído e consumo de combustível reduzidos;

– aumento da potência e melhor relação peso/potência;

– facilidade e baixo custo de manutenção;

– maior eficiência, com menor índice de emissão de poluentes;

– maior vida útil e maior produtividade.

Fonte: Estadão