Douglas Fadul Villibor, formado pela Escola de Engenharia de São Carlos da USP (EESC), entrou para os quadros do DER-SP em 1966, vinculado à área de pesquisa. Foi assim que, certa vez, teve a oportunidade de avaliar tecnicamente o comportamento de um pavimento no interior do estado, na região de Araraquara. Devido à necessidade de liberar o tráfego pesado da Via Washington Luis, que ganharia um novo trevo no prazo de dois meses, foram projetados, pelo engenheiro do DER Fernando Custódio Correa, já falecido, dois desvios usando como base o solo arenoso fino laterítico (SAFL), abundante na região. O pavimento foi feito com a base deste material recebendo um revestimento betuminoso de 1 cm de espessura, indo contra o padrão das normas internacionais, adotados em todo o Brasil, que considerava esse tipo de solo inadequado para base de pavimentos.
No entanto a obra atrasou e levou mais de dois anos para ser concluída. O que surpreendeu foi o desempenho daquele pavimento temporário, mantendo-se em perfeito estado mesmo tendo enfrentado um trânsito de alto volume de tráfego. Esse resultado aguçou o senso investigativo dos professores da USP, Job Nogami e Douglas Villibor, que já buscavam estabelecer uma tecnologia nacional para a execução de pavimentos. Os dois se juntaram ao engenheiro Fernando Correa, então também professor da USP, em um grupo de pesquisa, presidido pelo engenheiro Heitor Utyama, do DER-SP, e constituído pelo mesmo, que projetou e supervisionou 300 km de pistas experimentais de pavimentos com base de SAFL que foram acompanhadas ao longo de 12 anos, com a permanente execução de testes e ensaios de laboratórios.
Esse e outros estudos levaram à formulação da tecnologia MCT (Miniatura, Compactado e Tropical) para a execução de pavimento, assim como o desenvolvimento de uma metodologia nacional de classificação mais adequada dos solos tropicais, com o estudo específico dos solos lateríticos para uso em base de pavimentos de baixo custo. A metodologia usa corpos de prova de dimensão reduzida (em minitaturas), mas capaz de permitir detecção as propriedades do solo tropical. O trabalho aprofundou-se ainda na análise da característica de erosão dos solos tropicais para revestimento primário.
Antes das pesquisas dos professores, o modelo de pavimentação adotado por todo país era baseado somente em especificações e normas americanas da década de 1950, que exigiam a execução de bases de pavimentos com solos de granulação grossa, chamadas de bases estabilizadas granulometricamente, encontradas apenas em áreas restritas. Assim, era necessário, para executar o pavimento, buscar o material geralmente em regiões distantes da obra, encarecendo o processo e demandando a adição de brita e pedregulho, para que se obtivesse a granulometria, as características plásticas e o suporte adequados, aumentando em 40% os custos do serviço. Mas para que isso ocorresse, os dois pioneiros amarguraram desconfiança em torno da viabilidade do novo sistema de pavimentação.
Segundo o professor Douglas Fadul Villibor, hoje está comprovado que a nova metodologia MCT de uso dos solos tropicais, além de permitir redução do custo da obra, beneficia os custos de conservação. "Trata-se de uma tecnologia mais adequada às condições do solo e do ambiente brasileiro e que já possibilitou grande melhoria dos pavimentos no Estados de São Paulo e Acre, além de ter sido utilizada em vários trechos do Paraná, Mato Grosso e, agora, em algumas pavimentações no Nordeste. Como a maior parte das pesquisas foram feitas em São Paulo, o estado foi o que mais avançou mais sua aplicação. Seria necessário ampliar as pesquisas sobre os tipos de solos de cada estados para ampliar o espectro de aplicações. Algo parecido tem sido feito no Acre, que já teve grande avanço nas condições de suas estradas.
A tecnologia foi normatizada pelo DER, contabilizando mais de 10 mil km de rodovias vicinais, além de ser aplicada também em diversas obras de infraestrutura urbana como obras portuárias e linhas de metrô. Também vem sendo melhor aceita pela comunidade acadêmica, tendo sido encampada por universidades como Unesp, Mackenzie (SP), Coppe (RJ), entre outras, que criaram espaço em seu currículo para ensinar a nova técnica.
Entretanto, apesar dessa luta dos professores Villibor e Nogami, ainda é adotado por todo o País o padrão de pavimentação importado dos Estados Unidos, desprezando o contexto climático e as características do solo brasileiro, além do custo bem mais elevado. "Durante
muito tempo utilizou-se o modelo norte americano sem que isto fosse questionado. Cansei de ouvir de colegas meus que utilizar o solo arenoso fino laterítico era um absurdo, pois as estradas não poderiam durar, segundo o que detreminava a norma convencional. Mesmo provando cientificamente, foi e ainda é difícil para muitos aceitar essa idéia", lembra Douglas.
Os benefícios da tecnologia podem ser comprovados em São Paulo, que conta atualmente com mais de 70% dos pavimentos das rodovias vicinais executados sob a sistemática criada por Nogami e Douglas Fadul Villibor. Somente agora, depois de 20 anos de uso, parte desta rede está sendo recuperada pelo Programa Estadual de Recuperação das Rodovias Vicinais do estado, ora em desenvolvimento, com participação parcial da Lenc, e que obteve inclusive o aval do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Em 1995, a empresa patrocinou a publicação do primeiro livro sobre o assunto, "Pavimentação de Baixo Custo com Solos Lateríticos", de autoria de Job Nogami e Douglas Villibor. Agora, em outubro de 2009, também patrocinado pela Lenc, acaba de ser lançado no IV Simpósio Internacional de Avaliação de Pavimentação e Projetos de Reforço (IV Sinappre), o segundo livro de Villibor e Nogami, sobre o assunto "Pavimentos Econômicos – Tecnologia do uso dos solos finos lateríticos", que traz o estado atual das pesquisas sobre o assunto.
Esses livros juntam-se às mais de 100 publicações dos autores e demais colaboradores da Lenc sobre o assunto. Para se ter idéia, tanto o Presidente Alexandre Zuppolini Neto, quanto o Diretor de Novos Negócios, Paulo Serra, foram alunos do professor Villibor durante seus programas de mestrado. Boa parte destas publicações, em revistas nacionais e internacionais, receberam menções honrosas pela contribuição à engenharia brasileira e à possibilidade de sua aplicação em outros países com características climáticas e de solos, semelhante às do Brasil.
Fonte: Estadão
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