Versão brasileira editada em conjunto pelas revistas


Engineering News Record e O Empreiteiro traz ainda o projeto estrutural para fundações de torres eólicas offshore, o boom de construção rodoviária no Kuwait, e o uso da modelagem BIM para gerar dados para gerenciar o ciclo de vida das edificações
A complexa estrutura metálica tubular, que lembra duas espirais contrárias interpostas, projetada pelo arquiteto e engenheiro estrutural espanhol Santiago Calatrava para uma ponte de pedestres em Calgary, no Canadá, provocou atrasos na sua montagem já que o contratante municipal priorizou os aspectos estéticos e de qualidade, deixando o prazo em segundo plano. Assim, sua conclusão foi adiada de 2010 para meados de 2011.
Ao custo de US$24,5 milhões, a ponte Peace de 126 m de extensão e 6,2 m de largura mantém seus suportes fora d’agua com sua estrutura helicoidal, com encontros enterrados em ambas as margens do rio Bow. Vai servir a 5 mil habitantes de dois bairros em expansão, ligando-os ao centro da cidade e ao sistema de VLT.
A cidade de Calgary buscava uma estrutura que pudesse se tornar um ícone do local e encomendou o projeto a Santiago Calatrava, a despeito de algumas criticas do próprio conselho municipal. As 16 seções de aço com formato de diamante foram fabricadas e pintadas na Augescon, em Valencia, Espanha, e embarcadas para Ontário de onde foram transportadas por caminhões até Calgary, em setembro passado. Os trabalhos de montagem foram contratados à Graham Infrastructure.
Somente quando as seções chegaram é que os técnicos envolvidos perceberam a complexidade do intrincado projeto e a precisão dos encaixes. Calatrava trabalhou com as equipes locais para determinar os cortes necessários para efeito de montagem e a soldagem posterior de modo que as emendas ficassem visualmente imperceptíveis. Priorizou-se que a visão do arquiteto espanhol ao conceber a estrutura se materializasse na ponte pronta, com suas formas fluidas percorrendo o vão do rio Bow.
Uma ponte provisória faz a travessia, a 10 m do eixo da nova ponte Peace. Quando a estrutura metálica estiver montada, ela será colocada sobre a ponte provisória e daí será içada e instalada sobre os encontros. Uma cobertura de vidro vai permitir seu uso em qualquer tempo, sendo o tráfego de pedestres separado do de bicicletas. Terá iluminação noturna e câmeras de segurança.

Desenho cônico previne recalque em torres eólicas offshore
Após falhas nas fundações de algumas torres já equipadas com turbinas eólicas, em 2009, a Det Norske Veritas, de Noruega, reuniu um grupo de estudo com especialistas vindos de companhias de energia, projetistas, fornecedores e empreiteiras, para desenvolver novas normas. Esses problemas ocorreram em um certo número de torres construídas sobre uma única coluna de aço de grande diâmetro, chamada monoestaca, cravada no leito do mar em profundidades de até 20 m de lâmina d’agua, podendo medir 70 m de comprimento total e 5 m de diâmetro.
Uma peça de transição na forma de uma luva, chamada TP, geralmente pintada de amarelo, se encaixa no topo da monoestaca como uma plataforma para suportar a torre e a turbina eólica. Na instalação desta, a TP fica apoiada sobre escoramento interno montado sobre o topo da monoestaca. Ao final, a TP é erguida com macacos hidráulicos, abrindo um vão de alguns centímetros entre as seções concêntricas dela e da monoestaca, que é grauteada.
A falha ocorreu justamente nesta conexão grauteada, fazendo a TP e a turbina se apoiarem no escoramento interno, que não foi dimensionado para esta carga, podendo a levar à fadiga estrutural. Os estudos revelaram que houve distorção nas peças de grande diâmetro, falta de controle da tolerância projetada, deslizamento provocado por momentos de torção induzidos por vento ou ondas – danificando a conexão grauteada.
A DNV recomenda que as seções cilíndricas superpostas sejam substituídas por seções ligeiramente cônicas, de modo que em caso de falha na conexão haverá um esforço de compressão na parte grauteada, elevando sua resistência. Nas torres com conexões cilíndricas existentes, a DNV recomenda instalar suportes adicionais para transferir cargas axiais – uma medida corretiva de alto custo, a ser implementada em alto mar. Monoestacas suportam dois terços das 1136 turbinas eólicas que abastecem nove países europeus no fim de 2010.
O projeto Sheringham Shoals, na Inglaterra, decidiu adotar medidas preventivas nas 90 torres suportadas por monoestacas, que medem de 50 a 55 m, diâmetro de 4,2 a 5,2 m e peso total de 600 t cada. O custo adicional foi de cerca de US$ 16 milhões neste empreendimento de 317 Mw, posicionado a 17 km da costa em Norfolk.
Três projetos offshore lideram em capacidade de geração– o complexo eólico Thanet em plena operacão, a 12 km da costa inglesa, 300 Mw, controlado pela Vattenfall dinamarquesa, com 100 torres de até 60 m e 4,9 m em diâmetro, nas quais somente a peça de transição TP pesa 210 t; Greater Gabbard, de 500 Mw, com 140 torres, a 25 km da costa de Suffolk, controlado pela Scottish and Southern Energy e RWE; e London Array, no estuário do rio Tâmisa, de 630 Mw, com 175 turbinas, cujas torres de 70 m e 5 m de diâmetro, já incorporam as conexões cônicas propostas pela DNV.

Uma ponte antes tri agora binacional na África
Após a desistência da Zimbabwe, Zâmbia e Botswana tiveram que alterar o projeto da ponte para deixar fora aquele país, localizado num local onde convergem as três fronteiras, a jusante do encontro dos rios Zambezi e Chobe, 64 km acima da famosa catarata Victoria Falls. A Egis BCEOM foi mantida para reprojetar a ponte que teria 923 m, com estrutura de concreto protendido, estaiada no extradorso. A ponte agora terá um vão principal de 465m , comportando uma via férrea, pista rodoviária de 7 m e passeios laterais de 2 m. O projeto inclui 3 km de acessos, pedágio e postos policiais de fronteira.
A modalidade do projeto será BOT e o prazo de construção será de seis anos. A agência de cooperação internacional que realizou o estudo de viabilidade, financiado pelo African Development Bank, mostrou interesse em financiar as obras. A ponte é um elo crucial para a ligação norte/sul da África, a partir de Lubumbashi( na República Democrática do Congo) ao porto de Durban, na África do Sul.

Boom rodoviário no Kuwait
O ministério de obras públicas do Kuwait assinou um contrato de US$ 870 milhões com um consórcio europeu para modernizar 15 km da via Kamal Abdul Nasser, que faz ligação com a rodovia Jahra, de US$950 milhões, iniciada em setembro passado. Estas duas rodovias vão aliviar um corredor congestionado que liga a cidade de Kuwait aos subúrbios ocidentais, além de facilitar o acesso a agências governamentais , através de uma série de viadutos que somam

15 km, segundo a Louis Berger Group, dos EUA, que desenvolve os projetos e supervisiona as obras, juntamente com a projetista local Pan Arab Consulting Engineers.
O contrato de 5 anos e meio da rodovia Jamal Abdul Nasser foi assinado com um consórcio controlado pela Rizzani de Eccher, Pozzuolo Del Friuli, ambas da Itália, e OHL da Espanha. A rodovia Jahra está sendo executada pela Arab Contractors, do Egito, que inclui 18 km de viadutos e rampas.

Nevascas fazem engenharia questionar códigos de obras
Não só o Brasil sofre com fenômenos climáticos, que provocam deslizamentos de terra e inundações, atingindo regiões inteiras despreparadas. A Nova Inglaterra, ao norte dos EUA, sofreu nevascas severas quando o inverno já estaria no final pelo menos em teoria. Numerosos telhados entraram em colapso inclusive um edifício inteiro. Embora a neve tenha se congelado nos telhados, aumentando a carga, os projetistas americanos estão questionando os critérios de cálculo e os códigos de obras – que precisam se antecipar às mudanças climáticas cada vez mais extremas .

ENR destaca o uso de informações para
gerenciar o ciclo de vida das obras

Proprietários começam a usar a modelagem digital das obras e o enorme volume de dados para gerenciar seus ciclos de vida, inclusive na manutencão. Isso tem início na modelagem BIM na fase de projeto, atravessa as diversas etapas de construção, quando modificações feitas também são registradas em tempo real. O proprietário da obra que precisa organizar tamanha quantidade de informações tem que se entrosar com o projetista e a construtora para implementar um software para coleta de dados no campo utilizando tablets, capturando-os no ato e no local.
Batizado de Facility Management – ou FM – o gerenciamento do ciclo de vida das edificações esta sendo adotado por organismos do governo americano responsáveis por extensas listas de instalações físicas de uso público, como a General Services Administration e a U.S.Army Corps of Engineers, bem como empresas como Ely Lilly, hospitais, universidades e governos estaduais e municipais.
Projetistas, empreiteiras e subcontratadas também participam do processo, bem como os fabricantes de equipamentos e sistemas, fontes das especificações, garantias e programas de manutenção que os gestores de FM necessitam.

Fonte: Estadão