East London, região onde está sendo erguido o complexo olímpico,
ganhou baixo número de empregos durante a construção.
Esse fator será crucial na fase pós-jogos, quando um complexo comercial poderá abrir até 18 mil postos de trabalho
Sob título que em português significa algo como “A maior partida preliminar realizada na Terra”, a conceituada revista The Economist, na sua edição de 24 de julho passado, considera exagerados os custos para realizar a Olimpíada de 2012, em Londres, e as obras de reurbanização da parte Leste decadente da capital britânica. |
A publicação chamou, literalmente, a Olimpíada de partida preliminar e considera as intervenções urbanas em East London como sendo o jogo principal do evento esportivo global. Uma ironia tipicamente britânica.
A título de comparativo, Londres quando realizou a Olimpíada pela segunda vez, em 1948, depois da II Guerra Mundial, não construiu nenhum estádio novo e alojou os atletas em escolas e habitações de madeira. Gastou 732 mil libras esterlinas, equivalente de US$ 30 milhões em moeda atual e teve lucro de 29 mil libras.
O governo trabalhista anterior reservou 9,3 bilhões de libras para a reurbanização de uma região industrial abandonada ao Leste de Londres, esquecida há um século, transformando-a no Parque Olímpico. O Locog, o comitê olímpico, vai gastar 2 bilhões de libras para sediar os jogos, sendo um terço fornecido pelo comitê olímpico internacional e o restante proveniente de patrocínio, ingressos, brindes, etc. Após os jogos, outro tanto será ainda necessário para transformar o parque em um local para uso da população.
Segundo The Economist, os resultados concretos não serão percebidos durante muitos anos. Ela reconhece porém que a reurbanização dessa região nem seria cogitada não fossem os Jogos Olímpicos. Quando Londres ganhou a competição para ser a cidade-sede, em 2003, o orçamento proposto era de 4 bilhões de libras. Em 2007, o total já havia subido para 9,3 bilhões – sendo 600 milhões reservados somente para segurança.
Dois terços da vasta programação de obras estão bem avançados, incluindo-se aí o Estádio Olímpico, de 80 mil lugares, ao custo de 516 milhões de libras, o Centro Aquático, que tem o perfil de uma onda, de 257 milhões de libras, os ginásios para basquete e handebol, e o centro de mídia, para 20 mil jornalistas. Mas, a parte mais cara é menos visível – as redes elétricas aéreas foram enterradas e as pontes e acessos viários, renovados, ao custo de 1,9 bilhões de libras. Obras de transporte ficaram com outros 863 milhões de libras. A Vila Olímpica, que terá uso habitacional, após os jogos, não atraiu recursos privados suficientes por causa da crise global e a diferença de 700 milhões de libras foi coberta pela agencia Olympic Delivery Authority (ODA), responsável pelo realização do evento esportivo.
Para o The Economist, o retorno desse investimento depende do mercado imobiliário. Pelos cálculos mais otimistas, pode haver um superávit de 600 milhões de libras no orçamento, após a venda de todos os ativos possíveis. Mas, diversas obras do governo britânico não foram computadas nessa conta. Entre elas estão a ampliação da rodovia M25, ao redor de Londres, a modernização da ferrovia que atravessa o túnel sob o Canal da Mancha e o ramal costeiro, as melhorias no metrô, que somadas totalizam 5 bilhões de libras.
Após a Olimpíada, calcula-se que outros 450 milhões de libras serão necessários para preparar o parque para uso da população. A revitalização dessa região de 290 acres, a mais pobre de Londres, onde moram imigrantes pobres que chegam ao país, pode demandar mais recursos públicos e muito mais tempo. Acredita-se que 45% dos seus residentes vivem abaixo da linha de pobreza, contra a média de 22% da capital britânica como um todo. Tem ainda a taxa de emprego mais baixa da região metropolitana londrina – 56%.
O que a região precisa é de mais empregos – e, nas obras do Parque Olímpico, que devem gerar 10 mil vagas esse ano, apenas um quinto foi contratado com residentes locais. A maior esperança está no centro de comunicação e mídia, que pode estimular a fixação de mais empresas “criativas” na região, como as ligadas ao cinema, propaganda e indústria gráfica. Outro pólo será o Stratford City, um gigantesco complexo de shopping, hotel e escritórios, perto da estação de metrô de mesmo nome, que pode demandar 8.500 empregados quando abrir em 2011. Nas etapas futuras, esse número pode chegar a 18 mil trabalhadores.
A revista Economist afirma que ao combinar a realização da Olimpíada com a revitalização dessa região, o governo britânico tornou ambos os projetos mais caros. Construir um estádio olímpico ao custo de meio bilhão de libras, usá-lo algumas semanas, e em seguida desmontar uma parte dele para reduzir seu tamanho, “parece quase insano”. “A aposta está sendo feita com dinheiro público, em tempo de vacas magras”, critica a publicação britânica.
Fonte: Estadão
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