Bem antes de São Paulo ser escolhida para receber o jogo de abertura da Copa de 2014, já havia projetos para melhorias viárias da Zona Leste da cidade. Contudo, a construção da Arena Corinthians em Itaquera redirecionou os planos que estão acelerando o crescimento local
Nildo Carlos Oliveira
Oconsórcio Vizol, formado pelas empresas OAS e S. A. Paulista, começou, este mês (setembro), os preparativos para realizar o conjunto de intervenções a fim de melhorar os acessos no entorno do futuro estádio do Corinthians, em Itaquera. As obras se desenvolverão conforme convênio pelo qual o governo estadual investirá R$ 345,9 milhões e a prefeitura, R$ 132,2 milhões, o que resulta no valor total de R$ 478,2 milhões.
As obras deveriam ter sido iniciadas até a primeira semana de junho último, o que não ocorreu porque a 9ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo decidiu suspender a licitação, em atendimento a pedido das empresas Serveng Civilsan e Construcap. Ambas ficaram em segundo lugar na concorrência e argumentavam que o consórcio vencedor oferecera preços unitários que elas consideravam impraticáveis. Contudo, no dia 15 de agosto a Justiça liberou o pacote de obras que, pelo cronograma, deve estar concluído em março de 2014.
O conjunto das obras inclui a abertura da avenida de ligação norte-sul, no trecho entre a avenida Itaquera e a avenida José Pinheiro Borges (Nova Radial), incorporando as transposições em desnível sobre as linhas do metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
Está prevista uma nova avenida articulando a ligação norte-sul com a avenida Miguel Inácio Curi junto à adutora da Sabesp ali em funcionamento. Será construída uma passagem em desnível na rua Dr. Luís Aires (Radial Leste) no trecho em frente às estações do metrô e da CPTM. Além disso, será feita uma adequação viária no cruzamento da avenida Miguel Inácio Curi com a avenida Engenheiro Adervan Machado e executadas as obras de novas alças de ligação no cruzamento da avenida Jacu-Pêssego com a avenida José Pinheiro Borges (Nova Radial), em uma segunda fase das obras.
As obras integram um projeto maior, que prevê a agregação de vários órgãos públicos no chamado Polo Institucional de Itaquera. Fazem parte desse projeto mais amplo, além da arena esportiva, a construção de um fórum, uma Fatec/Etec, uma sede do Senai e outras edificações. No conjunto, o estádio, as edificações para fins de ensino e para outras finalidades, além das melhorias dos acessos para uso de trens, metrô e veículos particulares, estão sinalizando para uma nova etapa do crescimento da Zona Leste, conforme preveem empresários, sobretudo do mercado imobiliário.
De repente, a mudança de paradigma
Já vinha se falando, há alguns anos, de mecanismos para o desenvolvimento econômico e social da Zona Leste. Tanto é, que a operação urbana consorciada Rio Verde-Jacu, resultante da Lei 13.872 de julho de 2004, previa a criação de condições para a atração de investimentos geradores de emprego e renda e incentivo a instalações de atividades industriais e de prestação de serviços na região. Havia uma ênfase especial nas escolas voltadas para a formação e capacidade profissional.
O engenheiro Leonardo Pedro Lorenzo, diretor técnico da Geométrica Engenharia de Projetos, lembra que, à época, depois que projetara o prolongamento da Radial Leste, a empresa venceu licitação, da Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), para o projeto também na Jacu-Pêssego.
A Radial Leste chegava até à estação Corinthians-Itaquera e, pela proposta, deveria continuar. A avenida que se liga à nova Radial Leste (avenida José Pinheiro Borges), em Artur Alvim, é atualmente a Calim Eid. Para o prolongamento, seria preciso construir uma passagem inferior, sob a linha da atual obra do metrô e a posterior interligação até o bairro de Guaianazes, utilizando a antiga faixa desativada da rede ferroviária. Ela seguiria no sentido Guaianazes e, no sentido oposto, chegaria a Artur Alvim.
“Estas eram obras importantes para a melhoria da infraestrutura de mobilidade da região e adjacências e nada tinham a ver com a questão do estádio, assunto que só veio a ser ventilado muito mais tarde, com a escolha da cidade para receber o primeiro jogo da Copa”, diz o engenheiro.
O projeto básico do prolongamento da avenida Jacu-Pêssego, desde a avenida Ragueb Chohfi, seguia até a avenida Ayrton Senna, em Mauá. Este projeto acabou atraindo a atenção do governo estadual porque se constituía numa ligação metropolitana. A Desenvolvimento Rodoviário S. A. (Dersa) decidiu incorporá-lo aos demais planos viários previstos para a região e a obra foi então licitada e executada, sendo inaugurada no trecho até a Ragueb Chohfi.
“Esta melhoria na Jacu-Pêssego, incluindo aquela abertura para a rodovia Ayrton Senna ”, informa o engenheiro, “possibilita uma ligação muito boa com os principais eixos rodoviários locais e, hoje, se inclui na estruturação dos acessos para a Arena Corinthians”.
Leonardo Lorenzo diz que a Geométrica teve participação importante naquelas duas obras e que o conhecimento acumulado na fase da elaboração dos projetos lhe permite uma visão de conjunto, mesmo das obras para quais a empresa não trabalhou – aquelas que atualmente estão sob a responsabilidade do consórcio Vizol. “São obras muito significativas para a melhoria da mobilidade urbana na região”, reconhece ele.
O engenheiro concorda com a opinião, que hoje circula no mercado imobiliário, de que o futebol, basicamente o estádio do Corinthians, e as melhorias que ele vem provocando, está apressando as mudanças da infraestrutura da Zona Leste.
“Sempre uso o paradigma suscitado pelo eixo central – Prestes Maia-Tiradentes – quando falo de uma via expressa na Zona Leste, no sentido norte-sul. Acho que, quando essa via expressa estiver implantada, haverá maior fluxo de investimentos para a região. E a valorização imobiliária, em razão dos serviços e empresas ali instalados, será notável. Então, a mão de obra abundante que
ali existe e que hoje migra para outras regiões paulistanas, poderá concentrar-se nas atividades que ali estarão se desenvolvendo”.
A exemplo de empresários que hoje estão atentos ao desenvolvimento da região, Leonardo Pedro Lorenzo acredita que a zona leste poderá mudar com muita rapidez,”o paradigma de desenvolvimento da cidade”. Seria, em resumo, a força do futebol, ajudando a desencadear esse processo.
Fonte: Padrão
Compartilhar
Compartilhar essa página com seus contatos!