É preciso retomar o auge do transporte ferroviário que o Brasil viveu nas décadas de 1960 e 1970. A indústria ferroviária nacional tem condições de absorver a demanda, ela tem tecnologia para isso, porém é preciso que o governo inv
É preciso retomar o auge do transporte ferroviário que o Brasil viveu nas décadas de 1960 e 1970. A indústria ferroviária nacional tem condições de absorver a demanda, ela tem tecnologia para isso, porém é preciso que o governo invista na construção de ferrovias. Este foi o recado deixado pelos participantes do Fórum SAE Brasil de Tecnologia Ferroviária, realizado no dia 18 de outubro, em Campinas (SP).
Diversos especialistas do mercado ferroviário nacional debateram a situação do setor e os investimentos que o País precisa para mudar e modernizar o sistema. Vicente Abate, presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), comentou sobre a capacidade da indústria ferroviária fez um paralelo entre o que o setor já representou ao Brasil e o que representa hoje.
De acordo com Abate é preciso desagregar o transporte de carga do transporte de passageiros. “O volume está aumentando muito e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) precisa ter suas linhas liberadas do transporte de cargas, por isso, o plano do governo é que, até o final desse ano, seja finalizada uma linha férrea que levará direto ao Porto de Santos”, explicou.
Abate contou que o faturamento do mercado ferroviário dobrou em quatro anos e a previsão para 2012 é crescer 12%. “Hoje, o Brasil possui 30 mil km de vias férreas, o ideal seria que chegasse a 50 mil km”, disse.
O executivo lembrou que, na década de 1960, o Brasil transportava 100 milhões de passageiros pelas vias férreas. Na década de 1970, cerca de 2% do PIB era aplicado em transporte ferroviário e atualmente não se aplica nem 1%. “Isso precisa mudar com urgência, a realidade hoje é outra e o País precisa continuar a crescer”, concluiu.
Atualmente, o investimento do governo em ferrovias é de R$ 1,3 bilhão, proveniente do PAC da mobilidade, que conta com R$ 32 bilhões. Segundo Abate, esses números mostram que o governo federal acredita no transporte ferroviário como solução para resolver o gargalo da logística no Brasil.
Tecnologia
No âmbito da tecnologia, o professor doutor Fabiano Fruett, da Unicamp, apresentou um equipamento desenvolvido por um estudante da instituição, que mede o nível de conforto no transporte. O dispositivo reconhece, por meio da aquisição de dados de aceleração, os pontos do percurso que houve mais oscilações, temperaturas elevadas e ruídos em excesso.
De acordo com Fruett, o sensor é capaz de mensurar, com precisão, quais os fatores que interferem na qualidade do transporte particular ou público. “Um equipamento como esse pode ser muito importante para o mercado, para quem oferece o transporte ou mesmo para o usuário”, explicou.
O consultor em soluções de logística, Jean Carlos Pejo, disse que o encontro promovido pela SAE BRASIL é uma ótima oportunidade para reunir diversos públicos e proporcionar maior facilidade de sugerir mudanças. “O setor ferroviário é muito conservador, então isso pode ajudar e muito na discussão de ideias e saídas para os diversos problemas”, comentou.
No primeiro painel, intitulado Inovações para o transporte de passageiros, Pejo afirmou que, em se tratando de tecnologia, não basta apenas implantá-la, é preciso saber exatamente o tipo de serviço que se pretende ter, o que se busca e como ganhar eficiência. “Não adianta termos linhas inúteis que não servem para nada. Não basta apenas dizer que vai funcionar. É importante implantar de forma correta e no local correto”, informou Pejo.
Outro convidado, Sérgio Lombardi, gerente de projetos da Siemens, deu exemplo quanto à necessidade de ter pleno conhecimento da tecnologia. “Por que o VLT não é considerado na matriz dos transportes? Ainda não se sabe ao certo e com propriedade tudo o que está por trás desse veículo, para uns ele é vantajoso, para outros não, mas ninguém explica o real motivo”, apontou.
O chairman do simpósio, Pedro Nogueira, acrescentou que para viabilizar o transporte de passageiros é preciso atualizar todo o leito ferroviário e trazer ao mercado novo material rodante de qualidade.
No segundo painel, Desbravando o gargalo logístico por meio de material rodante inovador, o jornalista e mediador, Gerson Toller, disse que, assim como no setor de passageiros, o Brasil está prestes a ver grandes mudanças no setor de transporte de cargas. “Hoje em dia o Brasil só possui sistemas para grandes cargas, é preciso termos também serviços para cargas intermediárias, assim como no passado”, disse.
O diretor da Progress Rail, João Sérgio Barra, afirmou que o nosso mercado está em constante evolução e que os engenheiros e a indústria são os responsáveis por fazer com que ele cresça cada vez mais. “É importante que procuremos e avaliemos as melhores soluções para nós”, ressaltou.
Sérgio Jabur, gerente de aplicação industrial e desenvolvimento de novos negócios da Scheffler, apresentou soluções nacionais e outras que poderiam vir para o Brasil. “É preciso analisar e aplicar a tecnologia que mais condiz com o nosso território e nossas necessidades”, defendeu.
O Brasil tem excelência no transporte de minério de ferro e segundo Pejo, precisamos buscar essa competência também para outros setores. “Atualmente apenas 2% do transporte de containers é feito por meio de nossas ferrovias o que faz com que ainda sejamos ineficientes nos segmentos que apresentam grande competição”, demonstrou.
Para o consultor, ser competitivo é ser competente. “Temos que fazer bem feito, não adianta implantar sem antes saber exatamente o que o mercado demanda”, disse. “O frete rodoviário ainda é muito alto porque nenhum outro setor ameaça esse mercado”, finalizou o consultor.