Nildo Carlos Oliveira
Por que os palácios? – me perguntaram algumas vezes. E a resposta é simples: Por que historicamente sempre foram e continuarão a ser os alvos preferenciais. Os protestos, ocorram eles onde quer seja, no oeste ou no leste, no sul ou no norte, invariavelmente terão em vista a direção do local onde se concentra o poder. Por isso, as hordas vão se movimentar, sem erro, rumo aos palácios.
Isso acontece em qualquer lugar do mundo, a exemplo do que sucede nos países em que as multidões, agora e nos anos recentes, se insurgiram e colocaram abaixo estátuas de poderosos. Os palácios, no meio dos conflitos, avultam como símbolos a serem alcançados. As multidões se reúnem nas avenidas, nas praças, nas estradas, mas um imã fatalmente as atrairá para o maior símbolo do poder.
É de lá, dos palácios, que emanam as diretrizes capazes de esgotar o bolso e extenuar a paciência dos súditos. Às vezes o trabalhador mais humilde está nos grotões mais profundos e inacessíveis, eventualmente morando sob um pé de manga ou numa casa de adobe. Mas será lá que ele será certeiramente atingido pelas cargas de impostos e tarifas ou pela enorme carência de saneamento, de educação e de falta de recursos para qualquer mobilidade. Morre sem nada, mas sempre deixará alguma coisa para os donos dos palácios.
E é nos palácios que são feitas as tramas para a continuidade do poder. Os grandes empresários e banqueiros cruzam pelas suas portas com a agilidade de acrobatas. São os donos da casa. E, lá, os súditos não têm vez, a não ser para receber óbolos dos programas assistencialistas utilizados para que o poder jamais troque de mãos.
De sorte que essas reflexões são motivadas pela importância dos palácios. É de lá que podem surgir alguma bondade. Mas é de lá que tradicionalmente emanam as medidas de arbítrio ou de usurpação das vontades populares. Daí, a preferência pelos palácios.
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Comentário:
Maravilhoso o seu texto. Nas linhas, nas entrelinhas e nos espaços das margens.
Álvaro Rodrigues dos Santos
Fonte: Nildo Carlos Oliveira
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