Viaduto de 8,8 km e túneis paralelos de 1.080 m constituem as etapas mais complexas da obra

Augusto Diniz – Suzano (SP)

As obras para colocar em operação o Rodoanel Leste em março do ano que vem seguem em ritmo acelerado. O trecho, que fará ligação mais rápida do aeroporto de Guarulhos e das rodovias Dutra e Ayrton Senna ao Sistema Anchieta/Imigrantes – e por consequência ao porto de Santos – obteve as últimas licenças ambientais para concluir o percurso de 43,8 km de extensão.

A construção, iniciada em março de 2011, está sendo conduzida pela Concessionária SPMAR, composta do Infra Bertin (95%; grupo que pertence à construtora Contern, que é a empresa responsável pelas obras) e da construtora Toniolo, Busnello (5%). A SPMAR já administra o Rodoanel Sul. Pelo contrato assinado com o Governo do Estado de São Paulo, o ganhador da concessão do trecho Sul (de 57 km) também seria responsável pela construção e operação do trecho Leste, por um período de 35 anos.

Pelo projeto, a rodovia, com três faixas de rolamento em cada sentido, terá 64 obras de arte e 16,4 km de pontes. Trabalham hoje na construção do Rodoanel Leste 5.200 operários. O custo total do projeto é de R$ 3,2 bilhões, incluindo obra, desapropriações e iniciativas ambientais.

Trafegarão pelo local 48 mil veículos/dia. Cerca de 1 mil desapropriações, sob responsabilidade do estado, ainda estão sendo feitas ao longo do trecho, que passa pelos municípios de Arujá, Itaquaquecetuba, Mauá, Poá, Ribeirão Pires e Suzano.

Encontro Leve Estruturado

Há 51 frentes de trabalho no Rodoanel Leste. Uma das mais importantes é a de construção do chamado Encontro Leve Estruturado, um viaduto de 8,8 km, o mais longo da rodovia, sobre as várzeas dos rios Tietê e Guaió.

Cantitraveller instalado para construção de longo viaduto no Rodoanel Leste

A estrutura, para dar mais velocidade de execução e menos impacto ambiental, está sendo executada com o auxílio de umcantitraveller– comumente utilizado em obras de porto. O equipamento, de 25 m de largura e 30 m de comprimento, com uma estrutura metálica pesando 130 t, serve de gabarito para cravação de estacas e avança apoiado sobre as já cravadas por ele para atingir o posicionamento para executar as estacas seguintes. O equipamento está sendo utilizado pela primeira vez no Brasil para construção de estrada.

Um guindaste de capacidade de 180 t apoiado sobre a estrutura faz o içamento das estacas para cravação, além de fazer o lançamento das vigas da pista por onde também se desloca ocantitraveller.

O uso do equipamento permite a diminuição expressiva da supressão vegetal (algo em torno de 90%, de acordo com a construtora), sem precisar fazer fundações e abrir caminhos de serviço. No entanto, com a necessidade de dar mais agilidade à obra, um guindaste de capacidade de 180 t posicionado em terra acompanha o avanço da obra e dá apoio aos trabalhos.

Por semana, o avanço médio com o uso docantitravellerno Encontro Leve Estruturado tem sido de 60 m. A construtora avalia que, se fosse adotado o sistema convencional de construção do viaduto, a obra avançaria 40 m por semana. As informações são dos engenheiros André Galetti e Marcelo Garcia de Lima e do supervisor de produção Nivaldo Alves Moreira.

Da esquerda para a direita: Marcelo Garcia de Lima, Nivaldo Alves Moreira e André Galetti

O viaduto será pavimentado com CBUQ (Concreto Betuminoso Usinado a Quente), mas a base e sub-base são de concreto. Um cimbramento móvel foi usado para colocação das vigas.

A opção pela construção do viaduto também foi influenciada pelo custo. Pelo sistema convencional, seriam necessárias drenagem, escavações ou aterros para a execução dos blocos de fundação, para depois posicionar os pilares e a superestrutura. O solo turfoso (típico de área de várzea) teria que ser removido também, exigindo intervenção ainda maior.

Calcula-se que a terraplenagem da área, se fosse feita nessas condições, atingiria 4,5 milhões m³. Optou-se então por um longo viaduto naquela seção da estrada. A implementação do viaduto exigiu, por outro lado, o uso muito maior de vigas e estacas, representando 183 mil m³ de concreto e 22 mil t de aço.

Túnel Santa Luzia

A construção do Túnel Santa Luzia, em Ribeirão Pires, o único do Rodoanel Leste, é outra intervenção importante na obra da estrada. A escavação terminou em março e levou 15 meses. Hoje se procedem os trabalhos de pavimentação e acabamento na seção do túnel.

Túneis paralelos já escavados e em fase de pavimentação. Uma das embocaduras dá para uma desativada pedreira

O trajeto de 1.080 m possui túneis paralelos, com três faixas de rolamento cada, cuja escavação foi desenvolvida pela Toniolo, Busnello.

Maurício Cavalli, engenheiro responsável pelo túnel, conta que a escavação superou muitas dificuldades. “Cada avanço era um novo túnel. A qualidade da rocha (granito) tinha que ser checada em um processo muito dinâmico. A rocha extremamente fraturada exigiu mais cuidado na escavação”, conta.

As condições do maciço rochoso demandaram o monitoramento das escavações quanto à convergência e possíveis recalques. Os trechos entre escavação de rocha “saudável” e rocha “fraturada” se intercalavam.

Jumbos hidráulicos executavam 150 furos na rocha para cada desmonte. Seguia-se o tratamento das escavações através de concreto projetado de alta resistência à compressão adicionado de fibras metálicas, e atirantamento de blocos rochosos com resis
tência à tração de até 10 t.

Um geólogo verificava o tipo de rocha para adequar o desmonte seguinte. O avanço foi de 4 m a 5 m/dia. Toda rocha resultante da escavação do túnel está sendo transformada em brita – cerca de 1 milhão de t dela – para ser utilizada na construção da base dos pavimentos asfáltico e de concreto da rodovia.

A seção de cada túnel tem 11 m de altura e 21 m de largura, aproximadamente – trata-se de uma das maiores seções rodoviárias já construídas no País, variando de 176,3 m² a 238,2 m². O lado sul da embocadura do túnel tinha uma antiga pedreira desativada há 15 anos, cuja área deverá ser revitalizada.

A partir do túnel até o encontro do Rodoanel Sul são 11 km de extensão – a terraplenagem já está pronta neste trecho e a pavimentação teve início. Já do túnel até o chamado Encontro Leve Estruturado (viaduto longo) são 13 km.

Trecho com terraplenagem pronta e já com os serviços de pavimentação em andamento

Contou-se para a construção dos túneis as seguintes máquinas e equipamentos: quatro jumbos de perfuração eletro-hidráulicos, 14 caminhões basculantes, 12 caminhões-betoneira, duas perfuratrizes de rocha, uma perfuratriz enfiladeira, sete escavadeiras, duas carregadeiras, três robôs de concreto projetado, quatro bombas de concreto projetado, além de geradores e compressores.

Fábrica de pré-moldados

A fábrica de pré-moldados, de cerca de 30 mil m² e com 550 operários, em Suzano, mesmo local de funcionamento do canteiro central de obras, produz as peças que estão sendo lançadas no Rodoanel Leste.

Fábrica de pré-moldados atende principalmente o viaduto longo de 8,8 km

Seis guindastes de pórtico completos Demag, com amplitude de 18 m, são usados na fábrica para elevação e transporte dos materiais, sendo quatro de 32 t de capacidade e dois de 16 t.

A produção no total alcançará 8.200 vigas, com média de 12,2 m cada e 30 t de peso. Já a produção de estacas será de 2.900 unidades no total. São dois tipos de estacas produzidas: estrela e circular. Elas medem em média12 m e pesam 3,5 t.

Ficha Técnica – Rodoanel Leste

– Localização: Região Metropolitana de São Paulo
– Extensão: 43,8 km
– Construção e operação: Concessionária SPMAR

Dados técnicos (estimativa)
– Volume de Escavação: 11.200.000 m³
– Volume total de brita (pavimento/concreto/drenos): 2.000.000 m³
– Volume de concreto: 550.000 m³
– Quantidade aço: 46.500.000 kg

Fonte: Revista O Empreiteiro