Aprefeitura de Nova York, Estados Unidos, dá exemplo a outras metrópoles globais no enfrentamento de fenômenos climáticos extremos, incluindo a subida do nível do mar que ameaça submergir as extensas partes baixas de Manhattan.
O prefeito de Nova York, Michel Bloomberg, divulgou o plano aguardado há tempo com o programa de obras traçado para enfrentar um outro furacão como o Sandy, com chuvas de excepcional intensidade, e os efeitos do aquecimento global que poderá elevar o nível do mar. O total a ser investido chega a US$ 19,5 bilhões, embora tenha incluído cerca de US$ 10 bilhões de investimentos públicos já em curso e os recursos que o governo federal já destinou à cidade para os danos provocados pela tormenta.
O relatório do projeto de 437 páginas envolve proteção costeira, edifícios, transportes, utilidades e demais infraestruturas, incluindo aspectos como recuperação econômica e seguro. Os estudos cobrem em profundidade as praias de Staten Island e outras regiões que o furacão atingiu. Seth Pinsky, presidente do órgão de desenvolvimento econômico da cidade, liderou a equipe que montou o documento chamado “Uma Nova York mais forte e resistente”.
O relatório recomenda alterar as regras de zoneamento, dando aos proprietários dos edifícios existentes mais flexibilidade, sem penalidades, em questões como a altura do prédio e a cota em que se situam os equipamentos mecânicos. Aconselha ainda o retrofitting das edificações atuais para incorporar maior resistência, que possuem na sua maioria idade próxima de 50 anos – época em que os códigos não previam medidas preventivas contra enchentes, embora a planície onde fica Nova York tenha um histórico de inundações de quase 100 anos.
A entidade New York Building Congress (NYBC) alertou que o estudo aponta a necessidade de reforçar a rede de distribuição de energia elétrica, tornando-a resistente a chuvas e ventos, mas não indicou as fontes de recursos públicos para tal. Na passagem mais recente do Sandy, extensas áreas ficaram às escuras dias a fio. Outro relatório do painel PlaNYC, sobre mudanças climáticas, atualizou as previsões anteriores sobre os riscos inerentes desse fenômeno. Mapas sobre riscos futuros de enchentes em regiões costeiras revelam que por volta de 2050 um quarto do território de Nova York estará sujeito a inundações.
O mapa de cheias de 100 anos da Federal Emergency Management Agency (FEMA) foi atualizado depois do Sandy e abrange uma área superior a 166 milhões de m² de edifícios da cidade. O prefeito Michel Bloomberg ressalta que estes estudos não consideram os eventos futuros por conta do aquecimento global, quando o painel PlanNYC indica que o nível do mar pode subir quase 1 m em meados do século atual. “Se nada for feito, teremos 64 km do litoral sujeitos a enchentes regulares, apenas com o regime normal de marés”, diz. O estudo divulgado pela prefeitura prevê milhares de intervenções, incluindo diques, reforço de drenagem, remodelação da rede de energia para torná-la imune a ventos, chuvas extremas etc.
Programa “Reparos Rápidos”restaurou o básico de 20 mil residências
A localidade de Breeze Point, na península de Rockaway Beach, na região de Queens, foi literalmente arrasada pela tormenta Sandy em 29 de outubro passado, com a destruição de 350 casas. No total, 125 delas foram atingidas por um incêndio que ocorreu naquela noite, e o restante na cheia de quase 2 m de altura que subiu do Oceano Atlântico. Muitas residências foram arrancadas das fundações e levadas pelas águas , sendo recolocadas no chão a esmo, a centenas de metros de distância do local original.
Também em outras regiões de frente para o oceano, como Long Island e New Jersey, os habitantes vivem o dilema de suas vidas. Reparar ou reconstruir as suas casas, ou participar do programa que permite vendê-las ao governo local e ir morar em outro lugar? Os moradores ainda precisam respeitar os novos mapas de cheias atualizados pela agência FEMA, elevando o nível de suas casas de acordo com as cotas indicadas, para não pagar prêmios exorbitantes de seguro.
O programa gratuito “Reparos Rápidos” da cidade de Nova York, considerado inédito, mobilizou 10 empreiteiras que foram designadas a regiões geográficas com os maiores danos, visando a restabelecer serviços essenciais como eletricidade, aquecimento e água quente nas casas atingidas, empregando brigadas de subempreiteiras locais. Esse programa começou em novembro e prosseguiu até março de 2013, recuperando as condições básicas de 11.700 edifícios e mais de 20 mil moradias.
A despeito do sucesso do programa e do volume de obras realizado, sem cobrar os custos dos moradores, houve críticas na imprensa por supostas “falhas nos reparos e demora na execução dos trabalhos”. A prefeitura reiterou que os reparos obedeceram aos códigos de edificação em vigor e apontou que os trabalhos se restringiam ao que era essencial para restabelecer os três tipos de serviço e a segurança estrutural das construções. Os proprietários ou moradores foram avisados que os serviços complementares de acabamento e renovação eram de responsabilidade pessoal de cada um. Entretanto, ao encerrar o programa, a municipalidade montou uma equipe de acompanhamento para monitorar as questões ainda pendentes nas moradias.
William De Camp, vice-presidente da Gilbane Building, uma das dez empreiteiras contratadas, lembrou que suas equipes estavam trabalhando sete dias por semana, de 14 a 16 horas por dia. Pararam apenas no Natal e no Ano-Novo. E que receberam apoio espontâneo dos moradores, que traziam refeições e bebidas quentes (era inverno no Hemisfério Norte). Além disso, as empreiteiras foram mobilizadas em prazos exíguos — em até 48 horas. Ele porém reconhece que esse tempo pode parecer uma eternidade para uma família sem teto. A empresa recuperou os serviços essenciais de 1.543 propriedades, envolvendo mais de 3 mil famílias.
Rich Cavallaro, executivo principal da Skanska USA Civil, também uma das empreiteiras mobilizadas, informa que reparou 3 mil casas na parte sul de Brooklyn, utilizando em média 250 trabalhadores por dia. “Ao contrário de obras normais, quando a empreiteira tem meses para se planejar, demoramos apenas uma semana para começar as obras. Outro problema é que tínhamos que convencer o proprietário a iniciar pelos serviços críticos e isso demorava até seis visitas a uma
única casa.” “Foi uma vitória da parceria entre público e privado, e possivelmente salvou vidas, já que estávamos no inverno”, disse.
É claro que o programa “Reparos Rápidos” teve falhas, inclusive a falta de um processo rápido de pagamento. Havia empreiteiras participantes que em meados de maio ainda não tinham recebido a totalidade dos pagamentos. Entidades do setor sugerem que Nova York tenha um contrato-padrão de intervenção em desastres naturais a ser licitado anualmente, com proteção contra ações legais para as empreiteiras participantes. Esse arcabouço legal facilitaria a intervenção no futuro, com um grupo de empreiteiras já previamente contratadas por licitação.
O American Institute of Architects (AIA), seção de Nova York, conseguiu aprovar um projeto de lei que dá imunidade contra ações legais aos engenheiros, arquitetos, topógrafos que prestam serviço voluntário em situações de desastres, mas não inclui empresas construtoras. O próximo passo será uma provisão que inclua as empreiteiras. Com isso, a cidade passa a contar com um exército de profissionais voluntários, para situações de emergência. Ainda é lembrada a participação da Turner Construction no período pós-atentados de 11 de Setembro, que se mobilizou nos trabalhos de salvamento, e acabou arcando com mais de 10 mil ações legais.
Dois túneis do metrô serão recuperados
Os túneis Montague, de 1.500 m, e Greenpoint, de 365 m, ficaram submersos até o teto e sofreram graves danos, inclusive cablagem, sinalização, aparelhos de mudança de via etc. A agência NYC Transit informou que o Sandy fez inundar nove dos 14 túneis do metrô situados debaixo dos rios, mas estes dois sofreram mais, além de numerosas estações alagadas. O túnel Montague, que leva a linha R sob o East River ligando Brooklyn e Manhattan, ficou imerso em água salina por 10 dias e sua reconstrução é praticamente uma nova obra.
Cada túnel será um projeto distinto e cada projeto terá provavelmente múltiplos contratos, alguns na modalidade projeto+construção. O túnel Montague vai mobilizar empreiteiras contratadas e vai exigir a suspensão da linha R na primeira semana de agosto próximo, por 14 meses. A agência estima os custos totais em cerca de US$ 100 milhões, cobertos por recursos federais.
Os trabalhos de reparo no túnel Greenpoint serão numa escala bem menor, mas a linha G será interrompida durante 12 fins de semana, começando no início de julho. As equipes internas da NYC Transit farão estes reparos, exceto a sinalização e a casa de bombas. Embora ambos os túneis estejam funcionando após reparos de emergência, os trabalhos de recuperação definitiva são inadiáveis. Uma das dificuldades aqui são as bancadas de dutos em ambos os lados do túnel Montague, que carregam cabos de energia, comunicação e outras utilidades, a serem demolidas com marteletes manuais, já que o uso de perfuratrizes pneumáticas de maior porte traz o risco de perfurar a seção do túnel. É um trabalho demorado, seguido de uma sequência cuidadosa de montagem de instalações.
Fonte: Revista O Empreiteiro
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