Nildo Carlos Oliveira

Essa tragédia que acaba de ocorrer em São Mateus, zona leste paulistana, com oito mortos e 26 feridos, mostra a irrelevância a que está relegada a pessoa humana, no caso, os operários que ali trabalhavam e a população do entorno. E evidencia que os órgãos da construção civil terão de se pronunciar a fim de que a boa engenharia, como conjunto, não saia desbotada na foto. Uma obra, seja ela pequena, média ou grande, não pode ser conduzida como se os parâmetros e as normas a serem obedecidos, não tivessem prioridade. E a prioridade 1 é a segurança.

Aos poucos as responsabilidades vão sendo apuradas. Já se sabe, por exemplo, que a obra, embargada, teria de ser imediatamente paralisada. Mas aí a fiscalização falhou. Não deu andamento aos trâmites seguintes. Não foi elaborado um boletim de ocorrência. Ela continuou andando como se o embargo não tivesse ocorrido. E, esse piso adicional? Quem sabia dele? Como não foi objeto de questionamento prévio? Como pode ter sido feito se o cálculo da estrutura aparentemente não o previa?

A sobrecarga excessiva, com o acréscimo da estocagem de material, como tijolos, na laje, teria fatalmente de resultar em colapso. E, além disso, pelos dados que vêm sendo divulgados, a construtora vinha realizando serviços suplementares, aparentemente sem a necessária autorização para isso, o que poderia ter influência na tragédia.

Em obra de engenharia, o foco principal é o projeto: o projeto de arquitetura, o projeto de cálculo, o projeto executivo. E a previsão da especificação dos materiais na conformidade estabelecida. Caso isso não venha sendo feito, o autor de cada um dos projetos deve e precisa abrir a boca no mundo. Tem que denunciar os desvios, as facilidades, o jeitinho. Senão, a impressão que fica é a de que houve um enorme, um extraordinário desprezo pela vida humana.

Fonte: Nildo Carlos Oliveira