*José Roberto Bernasconi

O Estado de São Paulo passa por sua mais longa e severa estiagem nos últimos 84 anos, com repercussões negativas na capacidade de armazenamento, tratamento e distribuição de água à população. As consequências dessa falta d´água se refletem no cotidiano da população de diversas cidades do Estado, em especial da macrometrópole paulista, com o governo paulista e a Sabesp tendo sido obrigados a recorrer à utilização do chamado volume morto da represa da Cantareira para abastecer as populações residentes nas zonas Norte e Oeste da capital paulista.
 

Apesar de terem sido feitos, nos últimos 20 anos, e sob o comando do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), dois planos de aproveitamento de recursos hídricos, o Hidroplan, de 1995 e com horizonte para 2020, e o Plano Diretor para Aproveitamento de Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista, de 2013 (horizonte para 2035), ambos de boa qualidade técnica, chegou-se a essa situação-limite. Isso se deve à conjunção de fatores climáticos quase impensáveis, do ponto de vista técnico. Tudo o que não poderia acontecer, do ponto de vista de regime de chuvas, aconteceu nestes dois últimos anos.

 

Neste momento, as medidas emergenciais, que visam à redução do consumo e à conscientização da população, são vitais para que não se chegue à solução mais drástica, o racionamento. Assim, a economia de água deve ser incentivada, como já vem sendo feito, com bons resultados. Mas, como contrapartida necessária nesse movimento, também deveria ser adotada a multa para os consumidores que superassem a sua média mensal. Além disso, é preciso que sejam estimuladas as medidas de economia de água nas residências e ainda a implantação cada vez maior de sistemas de reúso de água, de troca de equipamentos hidrossanitários (torneiras, bacias sanitárias etc.) antigos por outros, economizadores e a utilização de água de chuva para regar jardins e lavar calçadas são ações de grande impacto e forte diminuição do consumo.

 

 O sistema elétrico é um inspirador nas ações de engenharia que precisam ser feitas para evitar que uma estiagem prolongada tenha efeitos danosos para cidadãos, às empresas e à economia como um todo. A interligação do sistema, que permite transferir energia de regiões com produção elevada para outras com déficit, é também o que deve ser buscado na macrometrópole paulista. Urge que sejam planejadas e, principalmente, executadas as obras de interligação das diversas bacias e sistemas produtores, o que permitiria, hoje, a transferência de água dos sistemas das represas Billings e Guarapiranga para os que atendem às regiões Norte e Oeste da capital paulista, as que mais sofrem com os efeitos da seca prolongada. Além disso, é claro, é necessária e urgente a incorporação de novos sistemas produtores para aumentar a oferta de água para a macrometrópole paulista.

 

Essas obras, porém, são de longa maturação e exigem pesados investimentos. O governo do Estado e a Sabesp devem começar a definir os projetos e a viabilizar os investimentos necessários para isso. Os paulistas dos anos 2030 e posteriores agradecerão.

 

*José Roberto Bernasconi é presidente do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco)

Fonte: Revista O Empreiteiro