Contrato, assinado pelo Consórcio do Centro Administrativo do Distrito Federal (Centrad) integrado pelas construtoras Odebrecht e Via Engenharia, fez o projeto deslanchar. E, hoje, 92% das obras estão concluídas. Nildo Carlos Oliveira

O projeto do Centro Administrativo do Distrito Federal (CADF) previu a construção do complexo em área da ordem de 10 hectares, situada entre Taguatinga, Ceilândia, Samambaia, Águas Claras e Vicente Pires, já atendidas pelo metrô de Brasília e por acessos viários. Ele deve abrigar 15 mil servidores públicos do DF, em edificações que somam 182 mil m², distribuídos em dez prédios para as diversas secretarias: quatro torres com 15 andares cada e outras seis edificações cada uma com seis pavimentos.

O conjunto contará também com marquise cultural, anfiteatro, centro de convenções, mall de serviços, duas praças (uma cívica e outra comunitária), vias internas urbanizadas, capela ecumênica, estacionamento compatível com a demanda e outros serviços de apoio.

A concepção arquitetônica ficou a cargo do escritório do arquiteto Paulo Zimbres que, dentre vários trabalhos, elaborou perto de 50 projetos urbanísticos, como a Cidade de Águas Claras e o bairro Mangueiral, no Distrito Federal.

Em princípio, a transferência da sede do governo do DF, das instalações atuais no Palácio Buriti, para o novo CADF, na região de Taguatinga e Ceilândia, provocou naturais controvérsias, em especial por causa do traçado original de Brasília, que mantém o poder local centralizado onde está. Ocorre que o tempo passou, a cidade cresceu e o projeto, com moderna concepção arquitetônica, distribuindo espacialmente as diversas secretarias e órgãos administrativos, acabou assimilado, segundo novas exigências de trabalho e de volume de funcionários.

Além disso, a administração do DF entende que o CADF oferece melhores condições de organicidade e pode agilizar o fluxo dos serviços burocráticos do governo, contribuindo para a redução de custos operacionais em manutenção, segurança, transporte, aluguéis, água, energia elétrica, informática, telefonia e outros serviços.

Por outro lado, a outorga via PPP, em forma de concessão na modalidade administrativa, tendo como foco a construção, operação e manutenção, criou as condições consideradas satisfatórias para viabilizar o projeto de arquitetura e o empreendimento. O valor original do contrato (março/2008) era de R$ 600 milhões. A PPP previa dois anos de execução das obras e 21 anos para operação e manutenção.

Pelo contrato, a Odebrecht responderá por 50% da obra e a Via Engenharia, pelos 50% restantes. Ambas formam o Consórcio Construtor. Em contrapartida, a concessionária Centrad receberá um aluguel mensal que cobrirá as despesas de manutenção, vigilância e limpeza do complexo. O governo do DF calcula que, assim, passará a economizar mensalmente perto de R$ 10 milhões. Hoje, arca com despesas de cerca de R$ 15,7 milhões com os serviços terceirizados para a conservação do conjunto que vem ocupando na região central de Brasília.

A PPP, portanto, se revelou instrumento ágil naquele sentido, com a vantagem de haver permitido ao consórcio construtor adotar algumas medidas para acelerar a construção, buscando e aplicando técnicas diferenciadas e modernas, na obra.

Técnicas utilizadas na construção

O engenheiro André Alves de Araújo, diretor de contrato por parte do consórcio construtor, informa que a obra começou efetivamente em junho do ano passado. Poderia até ter começado em fevereiro de 2012, mas houve necessidade de atendimento a uma série de condições prévias, antes que isso acontecesse. Deflagrado o processo da construção, o andamento foi agilizado. De modo que, atualmente, segundo ele, 92% dos serviços são considerados concluídos.

Hoje, atuam nas várias frentes de trabalho cerca de 1.600 pessoas, incluindo engenheiros, operários, administradores e integrantes das equipes dirigentes. Mas, no pico, o contingente foi de 2.500 pessoas, 80% das quais, trabalhadores contratados no mercado de mão de obra local, que necessitaram de treinamento para desenvolver uma série de serviços especializados, incluindo operação de máquinas e equipamentos.

Ele diz que em razão da geologia do sítio das obras, suscetível a colapso, houve necessidade de se executar fundações profundas, utilizando-se estacas pré-fabricadas e centrifugadas fora do canteiro. Depois, elas eram transportadas para o local para a disposição final. Ressalta que o andamento dos trabalhos traduziu-se em avanço físico e na redução da quantidade de horas/homem trabalhadas, em razão das técnicas construtivas adotadas.

“Nesse sentido”, garante, “substituímos técnicas construtivas tradicionais por metodologias que consideramos inovadoras”. Uma dessas técnicas é a BubbleDeck, desenvolvida na Dinamarca e trazida para o Brasil por sugestão do consórcio. É uma técnica de execução de lajes que emprega esferas de polipropileno entre duas telas de aço, nos espaços onde o concreto desempenha função estrutural.

Com o método, a redução do consumo de concreto chegou a 35%. E houve diminuição também no peso das lajes e no tempo de construção. Pelos métodos convencionais, são necessários nove horas/homem trabalhadas por m² para se obter resultado semelhante. O uso da BubbleDeck permitiu que esse número fosse reduzido para aproximadamente quatro horas, segundo ele.

 “O emprego dessa metodologia ocorreu em 90% das obras”, explica o engenheiro. A concretagem das pré-lajes foi realizada no pátio de produção, espaço mantido para auxiliar no emprego do método. E, as peças pré-moldadas, quando concluídas, eram fixadas nas estruturas dos prédios por meio de gruas e guindastes. Outras técnicas que ele destaca são as seguintes: 

• Para a execução das estruturas e dos pilares, o consórcio optou por iniciativas que considera sustentáveis. Por exemplo: os blocos de concreto apoiados nas estacas, que transferem a carga das estruturas superiores para as fundações, foram produzidos com formas de PVC, material que permite que elas sejam reaproveitadas até cinco vezes. Elas substituíram, portanto, as formas de madeira, que podem ser reutilizadas apenas duas vezes.

• Para a execução de todos os pilares, a madeira, usada convencionalmente no apoio dessas estruturas, foi substituída por concretubos, que são formas de papelão reciclado. Os pilares recebem tratamento químico para evitar que o papelão reaja ao contato com o concreto e absorva água. Uma armação de ferro é inserida no tubo de papelão para posterior remoção, depois da cura do concreto.

• Houve inovação também na especificação dos equipamentos utilizados. Optou-se pelo uso de miniescavadeiras e minicarregadeiras. Isso permitiu maior agilidade e, consequentemente, maior produtividade na escavação de valas, maior flexibilidade operacional em ambientes confinados, maior velocidade no transporte de material e redução da quantidade de mão de obra.

• Na fase do arrasamento de estacas, foi dispensado o uso de martelete elétrico ou pneumático. Houve preferência pelo arrasador de estacas, um equipamento considerado de fácil manuseio. Ele funciona acoplado a uma escavadeira de 20 t e obtém uma produtividade de até 50 estacas/hora. Numa atividade de arrasamento convencional com martelete, a produção chega a apenas 4 estacas/hora.

• E, adicionalmente, foi utilizado nas operações em espaços acanhados, o miniguindaste aranha, que, operado por controle remoto, reduz a exposição de riscos às equipes. Além do aspecto relacionada à segurança, ele permite ganhos de produtividade, já que substitui a grua em atividades de içamento de mesas voadoras, formas e armação de pilares.

Nas fachadas

Uma das inovações mais significativas foi a utilizada na execução das fachadas das edificações do complexo. Houve, ali, a opção pelo uso da chamada “fachada unitizada”, em substituição às fachadas de alvenaria. Esse tipo de fachada, segundo o engenheiro, reduz riscos inerentes ao trabalho em altura, além revelar vantagem do ponto de vista do aumento da produtividade.

O método consiste de módulos formados por granitos, esquadrias metalizadas e vidros temperados. Os módulos são montados previamente no solo e depois são afixados nas estruturas. Nessa operação é usado o miniguindaste aranha. A fachada unitizada dispensa o emprego de balancim e andaimes. O processo permite que sejam instalados cerca de 90 m² de fachada/dia. “É um sistema muito ágil e limpo, que não requer vedação ou acabamento externos”, explica André Alves de Araújo.

Outras inovações que o consórcio adotou se referem ao sistema de economia de energia, uma vez que as edificações aproveitam ao máximo a iluminação natural. A aeração também contribui para economizar energia. O ar será insuflado pelo piso. Ao ser liberado, ele sobe na medida em que o ambiente esquenta.

Haverá um sistema de drenagem e de reutilização de águas pluviais. As águas pluviais são captadas nas coberturas dos prédios e armazenadas em reservatórios para usos diversos. No conjunto, há cuidados com os dispositivos de controle de acesso e automação predial e com o controle de acesso de pessoas. O sistema de esgotamento sanitário incorpora exigências para o aproveitamento da água da chuva, de modo a reduzir a emissão de águas pluviais na rede pública. Dessa forma haverá atendimento ao Plano de Controle Ambiental (PCA), e ao Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), que surgiram em função do licenciamento ambiental do sítio escolhido e que hoje começa a fazer parte dos parâmetros da cidadania.

Ficha técnica – Centro Administrativo do Distrito Federal (CADF)

Localização: Região de Taguatinga, Ceilândia, Samambaia, Águas Claras e Vicente Pires

Arquitetura: Zimbres Arquitetos Associados

Construção: Consórcio Construtor CADF

Projeto de instalação predial: Sten Serviços Técnicos de Engenharia

Estruturas: Engest Engenharia e Estrutura, Betonstahl Engenharia, Ferenge Estruturas Metálicas e HM Engenharia Estrutural

Ar-condicionado: Engenharia de Sistemas Térmicos

Consultores: CQP estrutura – Bruzzi Consultoria e Projetos de Engenharia; CQP instalações – Cimtec Engenharia e Sistemas; CQP fundações – Geomec; Acústica – Audium Áudio e Acústica; Simulação energética – Engenharia de Sistemas Térmicos; Ambiental – Relva Consultoria Ambiental e Geo Lógica Consultoria Ambiental; Leed – Scom; Esquadrias – QMD Consultoria; Certificação – Cushman&Wakefield;
Comissionamento – W & R Lenzi; Concreto – Geyer Consultoria. 

Fonte: Revista O Empreiteiro