As instalações do novo terminal internacional de passageiros em Guarulhos (SP) têm 192 mil m2 de área construída

 

No aeroporto internacional de Guarulhos (SP), mudanças de gestão implementadas pela operadora privada disseminam nova cultura, feita de decisões compartilhadas — na qual o passageiro é tratado como cliente

Guilherme Azevedo

 

O problema é de todos; a solução, também. Pode ser sintetizada assim a filosofia que o mais movimentado aeroporto do Brasil vem adotando no direcionamento das atividades, com vistas à melhoria da qualidade de seus serviços.
 

A líder desse processo de renovação do Aeroporto Internacional de São Paulo André Franco Montoro, em Guarulhos (Grande São Paulo), é a concessionária GRU Airport, presidida por Antonio Miguel Marques. Ela conquistou o direito de administrar e explorar comercialmente o sítio aeroportuário por 20 anos, em leilão realizado em fevereiro de 2012.

 

Desde que assumiu efetivamente a gestão, substituindo a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (a estatal Infraero, que continua no negócio como sócia minoritária, com 49% das ações), a GRU Airport vem realizando uma série de transformações profundas, conforme firmado em contrato: ampliação e melhoria das instalações físicas, como a construção de um novo terminal de passageiros, e mudança e atualização de sistemas de Tecnologia da Informação.

O diretor de operações, Miguel Dau: Compartilhar decisões é preciso
 

O nome da “escola filosófica” à qual Guarulhos começa a se unir de forma pioneira no Brasil é a Airport Collaborative Decision Making (A-CDM), que conta com adeptos de peso pelo mundo, como o Aeroporto de Munique, na Alemanha. Em resumo, é um conjunto de processos e práticas destinado à tomada de decisões compartilhadas que nasce da relação direta e transparente dos principais envolvidos com a operação aeroportuária: administradores do sítio (concessionária), autoridades (Polícia Federal, Anvisa, órgãos de trânsito etc.), companhias aéreas e empresas que fornecem serviços para a operação.

 

Desde junho deste ano representantes desses atores estão reunidos, inclusive fisicamente, assentados numa sala em cuja parede de fundo refulgem telas com imagens de vídeo e gráficos gerados com dados em tempo real das operações. Esse novo setor se chama Centro de Controle Operacional (CCO) e está sob a supervisão geral de Miguel Dau, o diretor de operações da GRU Airport. “Um dos nossos grandes desafios hoje é consolidar a cultura colaborativa”, contextualiza Dau. “As empresas não podem olhar mais para o próprio umbigo exclusivamente, mas para o aeroporto inteiro.”

 

Com a inauguração do terminal 3, o número de pontes de embarque subiu de 25 para 45 em Guarulhos
 

O CCO está dividido em seis coordenações, atentas a todo tipo de movimentação tanto no lado terra quanto no lado ar, a fim de identificar e se antecipar a possíveis contingências. A busca, aqui, é “manter a pontualidade no mais alto nível de performance”, sintetiza Alexandre César Freire, coordenador de gestão operacional do CCO. Para alguém de fora, a obsessão pela pontualidade pode parecer de importância relativa, e digo isso a César Freire. “Se eu for pensar em pontualidade, se tiver isso como foco, eu cuido de todo o fluxo, não só do de passageiros, mas também do de aeronaves, porque tudo está vinculado à saída da aeronave no horário”, explica o coordenador. Miguel Dau é mais incisivo: “O aeroporto tem recursos finitos, não tem ponte de embarque sobrando, por exemplo. E hoje quase um terço dos voos chegam atrasados”. Segundo o diretor de operações da GRU Airport, atraso é hoje um problema sistêmico no País, haja vista o número expressivo de aeroportos nacionais em obras, com impactos, naturalmente, sobre a operação regular. “Não vamos conseguir impedir os atrasos, mas mitigar é possível”, acredita Dau. Conta a favor do novo órgão de controle a permanência de antigos funcionários da Infraero, muitos deles com experiência de pátio, isto é, com a operação imediata. “Conhecem muito lá de baixo. E isso só pode enriquecer na hora de tomar uma decisão mais assertiva possível”, elogia César Freire.

Fonte: Revista O Empreiteiro