Obras do Crossrail, principal projeto de infraestrutura em andamento na Europa, com atuação de várias construtoras internacionais

 

Pesquisa exclusiva da revista ENR – Engineering News Record mostra as regiões globais que mais investiram em obras. Números atestam o volume de recursos disponível neste mercado — e com que país o Brasil concorre caso queira atrair esse fluxo de capital

 

Construtoras globais continuam ativas no mercado mundial, mas há sinais crescentes de preocupação sobre a estabilidade econômica. Em julho, a Arábia Saudita vendeu sua primeira emissão de títulos soberanos em oito anos, para cobrir o déficit das suas contas provocado pela queda dos preços do petróleo. A Rússia anunciou em agosto um declínio de 4,6% no PIB no segundo trimestre de 2015 pelo mesmo motivo. A China desvalorizou a sua moeda, o yuan, espalhando ondas de choque pelas bolsas de valores no mundo todo.

 

Essas incertezas econômicas se refletem nos números do ranking das 250 Construtoras Internacionais da revista ENR – Engineering News Record, compilado pelo faturamento global dessas empresas fora dos seus países de origem. Elas tiveram receita bruta de US$ 521,55 bilhões em 2014, 4,1% abaixo do total atingido no ano anterior. Essas mesmas construtoras faturaram ainda US$ 909,26 bilhões em obras nos mercados domésticos em 2014, 4,3% acima do ano anterior.

 

Em termos regionais, a África se revelou a principal beneficiada do ano com a receita internacional de obras na África Central e no Sul do continente, crescendo 14,7%. Os Estados Unidos mostraram a força do seu mercado com expansão de 5,7% na participação entre construtoras globais, num total de US$ 51,15 bilhões em 2014.

 

Na contramão, esse mercado contraiu 13,5% no Canadá, somando US$ 29,58 bilhões. A Europa também caiu 13,5%, ao passo que a Ásia-Austrália e o Oriente Médio caíram 6,3%, e a América Latina encolheu 7,2% em obras internacionais.

 

Parte da queda no faturamento total desse ranking pode ser atribuída à ausência de empresas globais, como Samsung Engineering Co., da Coreia do Sul, e Bilfinger, da Alemanha, que vendeu sua divisão de infraestrutura para a Porr AG, da Áustria, além de outras empresas tradicionais desse mercado.

 

Otimismo das construtoras europeias

Vinci Construction, baseada em Paris, expandiu em 5% sua carteira internacional de obras, que corresponde a 54% do total. A FCC Construcción, da Espanha, tem pouco mais de 50% da sua carteira de obras voltada ao exterior, em especial nas Américas, Europa, Oriente Médio e África do Norte – esta última região está retomando obras importantes a despeito de conflitos armados.

 

O continente europeu vê um número crescente de megaprojetos, como o programa Grand Paris, baseado no metrô, que vai gerar US$ 11 bilhões de obras ferroviárias na França na próxima década. O fundo garantidor proposto pela Comissão Europeia vai facilitar o financiamento de projetos nos próximos cinco anos, num volume estimado em US$ 330 bilhões, inclusive na modernização de infraestrutura na Europa Central e Oriental.

 

A Inglaterra é outro mercado em expansão, segundo a Vinci francesa, que tem se dedicado mais a obras que reúnem projeto e construção, que valoriza o lado da engenharia em si. A Bechtel norte-americana, ao ver sua participação no projeto Crossrail alcançar o pico, já prospecta outras obras. A FCC espanhola pretende avançar nos empreendimentos PPP no país, como a ponte Mersey Gateway, em construção (ler matéria intitulada “A PPP inimaginável”, na edição 542 da revista O Empreiteiro).

 

A queda dos preços do petróleo está causando estragos entre as empresas de engenharia que atuam no setor, como a Technip, que anunciou um programa de cortes para economizar US$ 925 milhões nos próximos dois anos, incluindo a redução de 6 mil postos de trabalho ao redor do mundo.

 

Entretanto, a empresa indiana Larsen & Toubro Ltd. aponta que as obras iniciadas de infraestrutura nos países do Oriente Médio não sofreram impacto, porque os recursos financeiros já estavam alocados pelos contratantes. Mas nos países africanos, dependentes de exportações de petróleo, os projetos já reduziram o ritmo. Na África, as empresas chinesas levam vantagem com farto financiamento de bancos estatais.

 

Na China, a menor expansão da economia local reduziu os preços de insumos, como cordoalha para armadura de concreto, mas a concorrência permanece feroz entre as empresas globais e domésticas. A Vinci, da França, está avançando em outros mercados da Ásia, como Vietnã e Indonésia, e adquiriu recentemente uma construtora na Nova Zelândia, com carteira expressiva de obras.

 

A Hochtief está otimista com o mercado da região, onde as suas associadas australianas têm forte tradição. A empresa consolida as operações, inclusive de projetos PPP sob o grupo CIMIC, tendo vendido a John Holland e retido as empresa Thiess e Leighton como marcas próprias.

 

Na América Latina, a FCC espanhola planeja nova expansão, agora com a participação do empresário mexicano Carlos Slim, que se tornou o principal acionista, com 25,6%, com aporte de US$ 1,1 bilhão. A Vinci comprou 20% da segunda maior construtora da Colômbia, ConConcreto S.A. A Skanska fechou as suas operações na região, preferindo se concentrar nas economias industrializadas.

 

A Strabag fez o seu ingresso no continente ao vencer a concessão da Autopista al Mar 1, na Colômbia, para construir e operar uma rodovia de 176 km. A Sacyr também tem prospectado oportunidades nos países de língua espanhola, principalmente de iniciativas complexas que somam projeto, construção, funding e operação.

 

Os Estados Unidos e o Canadá continuam atraindo as empresas europeias, inclusive na modalidade PPP, embora as disputas legais sobre estouro de custos sobre os orçamentos originais estejam reduzindo as margens. A Skanska conquistou seu maior contrato até hoje na região, na modalidade que moderniza o terminal central do aeroporto de La Guardia, em Nova York. A Vinci participa de projeto PPP na rodovia Regina Bypass, de 61 km, em Saskatchewan, no Canadá. Novos empreendimentos de ferrovias e hidrelétricas estão sendo desenvolvidos nos Estados Unidos como PPP.

Fonte: Revista O Empreiteiro