A Norte Energia começa 2016 celebrando a liberação da licença, pelo Ibama, autorizando o enchimento do reservatório da UHE de Belo Monte, e a conclusão do canal de derivação, considerado exemplo da excelência da engenharia brasileira
O consórcio Norte Energia, que constrói a hidrelétrica na bacia do rio Xingu, região de Altamira (PA), informa que superou as principais fases da concretagem e das montagens eletromecânicas e acaba de concluir o canal de derivação, considerado um exemplo de excelência da engenharia brasileira. Com a liberação concedida pelo Ibama, já deu os primeiros passos para a operação de enchimento do reservatório. Prevista para gerar, no pico, 11.233 MW, ela vai operar a fio d´água: quando a vazão for pequena, poderá gerar energia firme, média, de apenas 4.571 MW.
As mudanças impostas no projeto original, a partir do começo dos anos 1970, ensejaram estudos que resultaram em soluções consideradas inovadoras: a hidrelétrica vai funcionar com dois reservatórios e com um canal de derivação de 20 km de extensão, com 300 m de largura e 25 m de profundidade e 28 diques de contenção, alguns com até 60 m de altura e outros com até 2 mil m de comprimento. O extraordinário volume de solo e rocha ali escavado é considerado a metade do que foi retirado para formar o Canal do Panamá, com a vantagem, segundo a Norte Energia, de que o trabalho, na região do Xingu, foi feito em tempo recorde: quatro anos.
Os estudos previram a construção de um reservatório de 503 km², dos quais 228 km² correspondentes à calha do rio Xingu, com área inundada inferior a 1,6 mil km², em razão das adequações realizadas. As obras das estruturas principais, nos sítios Belo Monte e Pimental, têm se desenvolvido em ritmo satisfatório, segundo plano elaborado para recuperar o atraso ocasionado por conta dos impasses de reivindicações, sobretudo de organizações ligadas às questões dos direitos de tribos indígenas.
Obras principais
A previsão do consórcio Norte Energia é de que a primeira turbina da UHE entre em operação no dia 1º de março de 2016. O cálculo é de que, no pico da concretagem, seja empregado um volume de concreto da ordemde 3.389.008 m³. Só a usina da Casa de Força Pimental deverá consumir 2.867.287 m³, com um pormenor: na estrutura principal, escavada na rocha, serão instaladas as 18 turbinas da hidrelétrica. A região do rio Xingu, que corta o Estado do Pará, é considerada rica em migmatito, granito impermeável e de alta resistência. É nesse material rochoso que estão instaladas as turbinas.
A fase de concretagem começou em 2012. A partir de 2014 foi estabelecido como meta que, a cada mês, 100 mil m³ de concreto seriam lançados na obra.
Pelo planejamento elaborado, dos 2.289.008 m³ de concreto ali aplicados, 835.330 m³ seriam em concreto compactado com rolo (CCR) e, os demais 2.553.678 m³, de concreto convencional vibrado.
Montagens
Os serviços de montagem dos revestimentos nos poços das turbinas no sítio Pimental começaram em setembro de 2013 na turbina 1. Com diâmetros internos de 6,65 m e 9 m, os tubos têm a função de recuperar parte da energia do fluxo de água que passa pela turbina, de modo a conduzi-la ao canal de fuga, restituindo-a depois ao leito natural do Xingu.
Em julho daquele ano foi iniciada também a montagem das comportas tipo segmento dos 18 vãos do vertedouro do Sítio Pimental, onde se encontra instalada a casa de força complementar da hidrelétrica. Os 18 vãos do vertedouro da barragem, nesse sítio, têm capacidade de vazão de até 62 mil m³/segundo.
Canal de derivação
O canal de derivação foi revestido com 4,4 milhões de m² de rocha processada para o piso e 2,7 milhões de m² de rochas nos taludes. Todo o material usado tem origem nas escavações na área da hidrelétrica. Para formar os 20 km de extensão do canal foram escavados 110 milhões de m³ em solo e rocha.
Os estudos para a construção desse canal foram desenvolvidos e testados em modelo reduzido em laboratório de hidráulica de Curitiba (PR) e previram que as águas, a partir do rio Xingu, teriam de se movimentar lentas, densas, depois da cota 97, até chegar ao sítio de Belo Monte para, então, com desnível de 4 m, acionar as turbinas da hidrelétrica.
Chama a atenção, nas obras do canal, os trabalhos adicionais para protegê-lo da derivação das águas das chuvas e dos igarapés. Para esse fim foram projetados nove sistemas de drenagem independentes. A cadeia de soluções hidráulicas confere ao conjunto uma dimensão científica considerada inédita entre hidrelétricas, no Brasil.
Quando a usina de Belo Monte estiver completamente concluída, em 2019, será a terceira maior do mundo, depois de Três Gargantas, na China (22.720 MW) e de Itaipu (14 mil MW). Foi orçada em R$ 26 bilhões (valores de 2010).
Fonte: Revista O Empreiteiro
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