Estudo conduzido pela Eixo-SP Concessionária de Rodovias em parceria com a Stratura Asfaltos possibilitou a incorporação de polímeros reciclados pós-consumo (PCR) na recuperação de pavimentos rodoviários. O projeto foi implementado inicialmente no km170,8 a km 171,6 da rodovia Washington Luis (SP-310) em S.Paulo.
Segundo a concessionária, o trabalho se sobressai pela aplicação de uma tecnologia avançada e pelo comprometimento com práticas ambientais responsáveis, pois utiliza materiais provenientes de embalagens plásticas flexíveis de alimentos descartadas no ligante asfáltico. “O estudo não apenas representa uma solução ecologicamente sustentável, mas também reforça sua eficácia estrutural no pavimento por meio do levantamento de parâmetros realizado”, afirma a empresa. Para conduzir o estudo, foram necessárias cerca de 30 toneladas de asfalto com plástico reciclado, representando a reutilização de 450 kg de plástico reciclado.
Essa quantidade de plástico é equiparável a 200 mil unidades de embalagens de alimentos, gerando uma expressiva diminuição de impactos ambientais, resultando na redução de 900 kg de emissões de gases de efeito estufa, na economia de 450 litros de petróleo, na preservação de 1.360 kW de energia elétrica e na conservação de 3.550 litros de água, que de outra forma seriam utilizados no processo de fabricação de plástico virgem.
Os resultados do trecho experimental indicam melhorias estruturais e funcionais, com deflexões abaixo do limite admissível. A avaliação do Índice de Gravidade Global (IGG) revela uma significativa melhoria na condição da superfície do pavimento, eliminando defeitos observados no pavimento original.
A tecnologia de asfalto com plástico reciclado evidencia inovação nos aspectos de sustentabilidade ambiental, economia circular, logística reversa e eficiência. Em resumo: os benefícios da aplicação dessa inovação são evidenciados pelo desempenho estrutural, aprimoramento na superfície do pavimento, redução da irregularidades e menor afundamento de trilhas de roda. O ligante utilizado no material asfáltico é o CAP 30/45, adicionado ao Terpolímero Elastomérico Reativo (RET) e ao PCR. Esse ligante é caracterizado por apresentar menor suscetibilidade térmica, melhor adesão e coesão entre os agregados, maior resistência à oxidação e um ponto de amolecimento mais elevado, resultando em maior durabilidade, resistência a trincas e deformações permanentes em diversas condições climáticas.
Os agregados utilizados, assim como o processo de usinagem da mistura asfáltica com plástico, foram fornecidos pela Usina Stavias, localizada a cerca de 15 km do trecho experimental. Essa usina é do tipo volumétrica, equipada com um sistema de secagem por contrafluxo e um misturador do tipo pug-mill. Em um contexto no qual o Brasil se posiciona como o quarto maior produtor global de resíduos sólidos, gerando anualmente 11,4 milhões de toneladas, com apenas 1,28% desse total sendo reciclado, o estudo da EixoSP se destaca como uma resposta inovadora e sustentável.
Considerando que a malha rodoviária pavimentada do Brasil representa 443,8 mil km de extensão, a implementação de PCR em todas as rodovias pavimentadas do País reutilizaria mais de 80 bilhões de unidades de embalagens plásticas de alimentos. “Ao adotar o asfalto com plástico reciclado pós-consumo na pavimentação de rodovias, abre-se uma promissora via para solucionar desafios ambientais e alinhar-se às diretrizes ESG”, frisa a concessionária. Ainda de acordo com o estudo, se a tecnologia de asfalto com plástico fosse adotada nos 443,8 mil km de faixas pavimentadas no Brasil, pode-se vislumbrar uma redução potencial de 13,32 mil toneladas de gases de efeito estufa, economia de 6,66 milhões de litros de petróleo, a conservação de 20.064,73 MW de energia elétrica e a preservação de 52,12 milhões de litros de água.
Esses valores representam uma significativa mitigação dos impactos ambientais em relação ao processo de produção de novos plásticos. Embora estradas completamente compostas por plástico ainda não tenham sido desenvolvidas, a incorporação de resíduos plásticos na construção de estradas vem sendo aplicada em diversos países. O sul da Ásia é a principal do região mundo em termos de descarte inadequado de resíduos, totalizando 334 milhões de toneladas anuais, das quais 40 milhões correspondem a plásticos. Desde 2002, a Índia implementou mais de 2.500 km de estradas utilizando plástico reciclável, as quais apresentaram desempenho funcional e estrutural satisfatório por mais de 10 anos.
Já no Reino Unido, a aplicação de asfalto contendo plástico reciclado foi realizada em Durham, abrangendo uma seção da rodovia A689, bem como na pista de pouso, decolagem e taxiamento do Aeroporto de Carlisle. A tecnologia empregada no Reino Unido também foi implementada em rodovias nos EUA e na Austrália. Na Holanda, a tecnologia similar desenvolvida resultou em blocos pré-fabricados, modulares e ocos feitos de plástico reciclado, sendo aplicada inicialmente em ciclovias nos municípios de Zwolle e Steenwijkerland. Atualmente, essa tecnologia está sendo aprimorada para possibilitar sua aplicação em rodovias.
AUTORES
Assis Villela – Gerente de Pavimentação
Eixo-SP Concessionária de Rodovias
Robinson Avila – Diretor de Engenharia
Eixo-SP Concessionária de Rodovias – Emerson Rodrigues Maciel
Gerente de Operações e Tecnologia – Stratura Asfaltos