As Primeiras Hidrelétricas no Brasil
Ribeirão do Inferno: O marco inicial
Tudo começou na cidade mineira de Diamantina. Foi lá que, em 1883, entrou em operação a primeira usina hidrelétrica do Brasil, situada no Ribeirão do Inferno, um afluente do rio Jequitinhonha. A usina, do tipo fio d’água, foi instalada em uma queda bruta de 5 metros e possuía dois dínamos Gramme, com 4 e 8 HP, que geravam energia para movimentar bombas d’água usadas no desmonte das formações nas minas de diamante.
Além de ser a primeira iniciativa brasileira na geração de energia, a pequena Ribeirão do Inferno também possuía a maior linha de transmissão do mundo na época, com 2 km de extensão. Apesar de sua relevância histórica, a usina foi desativada e hoje resta pouco de sua memória. A área está sob concessão da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).
A Hidrelétrica Marmelos e a iluminação de Juiz de Fora
Depois de Ribeirão do Inferno, Minas Gerais conheceu outros projetos importantes, como a usina hidrelétrica da Companhia Fiação e Tecidos São Silvestre, instalada em 1885, e a hidrelétrica Ribeirão dos Macacos, de 1887. Contudo, foi com a usina Marmelos, em Juiz de Fora, que o setor deu um passo significativo.
Inaugurada em 1889, Marmelos foi a primeira hidrelétrica de maior porte, com dois grupos geradores de 125 kW. Implementada pelo industrial Bernardo Mascarenhas, a energia gerada pela usina iluminava Juiz de Fora com 180 lâmpadas incandescentes. Em poucos anos, a cidade já contava com centenas de lâmpadas e a energia passou a ser utilizada também para fins industriais.
O Crescimento das Hidrelétricas e a Participação Privada
A Era da Light e das Grandes Usinas
O início da construção de hidrelétricas no Brasil esteve ligado a pequenos produtores e distribuidores que buscavam autossuficiência energética. Contudo, o cenário mudou com a chegada de empresas estrangeiras. Em 1899, foi criada a São Paulo Railway Light and Power Company, que mais tarde se tornou a Light. Outra empresa marcante foi a American Foreign Power Company (Amforp). Essas companhias investiram em hidrelétricas de maior capacidade e dominaram o mercado nas décadas seguintes.
Entre os projetos da Light, destacam-se as usinas de Fontes (1908), Fontes Nova (1940) e Nilo Peçanha (1954), que acrescentaram potências significativas ao sistema elétrico brasileiro. Essas usinas marcaram a expansão da energia no eixo Rio-São Paulo e consolidaram a importância da iniciativa privada no setor.
A Transição para o Controle Estatal
Furnas: Um Pilar do Plano de Metas de JK
Na década de 1950, o Brasil enfrentava uma crise energética. O presidente Juscelino Kubitschek, dentro do seu Plano de Metas, criou Furnas em 1957, visando ampliar a capacidade de geração de energia no país. A usina de Furnas, no rio Grande, em Minas Gerais, começou a ser construtída em 1958 e suas primeiras turbinas entraram em operação em 1963.
Dotada de equipamentos de fabricantes como Siemens e General Electric, Furnas foi uma das maiores obras de infraestrutura do período. Desde então, a empresa passou a ser responsável por diversas outras usinas, consolidando o papel das estatais no setor.
O Papel das Estatais na Expansão Energética
A criação de empresas estatais como Copel (1953), Escelsa (1953) e Celg (1955) também foi fundamental para a ampliação do setor elétrico. Na década de 1970, projetos de grande porte, como Tucuruí e Itaipu, consolidaram o Brasil como um dos líderes mundiais em geração de energia hidrelétrica.
Hidrelétricas no Brasil Moderno
Privatizações e Geração Descentralizada
Nos anos 1990, o setor elétrico passou por uma onda de privatizações iniciada pelo Plano Nacional de Desestatização (PND). A primeira empresa a ser privatizada foi a Escelsa, em 1995. Desde então, o setor evoluiu para incluir fontes alternativas de energia e promover a geração descentralizada, suprindo necessidades específicas de indústrias e comércios.
A trajetória das hidrelétricas brasileiras reflete uma história de inovação, desafios e transformações, que continuam moldando o futuro energético do país.