Imagine, famílias morando sobre estruturas de madeiras, montadas dentro de rios, sem tratamento de esgoto – com dejetos sendo despejados entre as residências – sem qualidade de vida e, sobretudo, dignidade. Esse cenário, felizmente, virou passado para mais de 1,7 mil pessoas que residem em regiões de palafitas em Manaus, no Amazonas.
Com o objetivo de universalizar o serviço de coleta e tratamento de esgoto na capital amazonense, a concessionária Águas de Manaus, recentemente, lançou o programa Trata Bem Manaus, que instalou redes coletoras de esgoto sobre rios, considerando, inclusive, períodos de cheias e outros desafios, que vem mudando a vida de muitos manauaras. “Moro aqui há mais de 40 anos e só tive a chance de viver as melhorias que chegam com o saneamento agora.
Primeiro, com a chegada da água potável nas nossas torneiras e agora com o esgoto. Antes, tinha até vergonha de receber visitas, por causa do fedor que vinha debaixo das casas. Hoje nossa vida está melhor.
As crianças não adoecem mais por causa da água contaminada, temos um comprovante de residência e nossos dejetos não ficam mais no meio da comunidade. Hoje somos vistos. Tudo por causa da chegada do saneamento”, detalhou a moradora da comunidade Beco Nonato, Ivone Dantas. Beco Nonato fica no bairro Cachoeirinha, localidade pioneira a receber o serviço da concessionária.
Somente lá, mais de 900 pessoas foram beneficiadas. A área foi escolhida para receber a rede de esgotamento por ser simbólica das ações da Águas de Manaus desde o início. Na mesma região, em 2018, a concessionária começou o trabalho de implantação de redes de água em áreas vulneráveis, serviço que eliminou ligações irregulares e melhorou a qualidade de vida local.
Esse trabalho rendeu à Águas de Manaus o Prêmio Cases de Sucesso em Água e Saneamento 2019, Pacto Global das Nações Unidas, uma plataforma da ONU voltada para empresas que alinham suas estratégias à sustentabilidade. “Manaus possui mais de 2 milhões de habitantes e, nos últimos anos, executamos cerca de 300 km de rede de água, considerando a maioria das regiões em palafitas. No total, hoje, levamos água a mais de 150 mil famílias em áreas vulneráveis.
Foram reservatórios com capacidade de mais de 30 milhões de litros adicionados ao sistema. Agora, é levar infraestrutura e tratamento de esgoto com o Trata Bem Manaus”, contou Diego Dal Magro, diretor-presidente da Águas de Manaus, em entrevista à revista O Empreiteiro.
O PROCEDIMENTO E O DESAFIO DAS PALAFITAS
O programa Trata Bem Manaus é resultado de uma série de estudos realizados na cidade, que consideram as particularidades geográficas e dos corpos hídricos da capital amazonense. Os investimentos na iniciativa são de aproximadamente R$ 2 bilhões até 2033. A primeira área em palafitas a receber obras de esgotamento sanitário foi a comunidade de Beco Nonato.
Segundo a Águas de Manaus, o principal desafio foi entender as características de cada residência. Por ser uma área de palafitas, as estruturas variam, e foi necessário entrar de casa em casa para ver como a instalação dessas redes poderiam ser feitas. Além disso, o trabalho também já pondera tanto o período de cheia quanto o de vazante e isso acaba influenciando na estrutura – por exemplo, foi preciso colocar cimento ao redor dos tubos em algumas áreas, para que eles não flutuem com a subida das águas.
Sobre as obras, de acordo com a Águas de Manaus, foram utilizados no Beco Nonato tubos PVC OCRE de 150 mm, fornecidos pela Tigre, para a rede coletora, e de 100 mm, para interligação às residências. Por se tratar de uma área vulnerável, a concessionária realizou tanto a implantação de rede coletora, como a ligação às casas dos moradores.
Nestas ligações foram instaladas conexões para coleta do efluente doméstico (pontos de saída de pias, lavatórios e sanitários, que ficam localizados embaixo ou na lateral do assoalho de madeira). Por se tratar de uma área de palafita, as tubulações são aéreas e contam com uma estrutura de cimentos suspensa que garante seu suporte. Esses tubos e conexões são responsáveis pelo transporte (afastamento) do esgoto.
A rede coletora aérea passa em meio às palafitas, se adequando à geografia do local. Por estarem localizados em pontos baixos (fundos de vale), a rede conduz até uma Estação Elevatória de Esgoto (EEE), que é responsável por bombear o efluente até a rede coletora existente ou Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) mais próxima. Hoje, segundo a concessionária, este tipo de estrutura já foi expandido para outras áreas com as mesmas características, totalizando mais de 2,4 mil metros de rede que beneficiam mais de 1,7 mil pessoas.
De acordo com a Águas de Manaus, para os próximos anos, será feita a implantação de mais de 2,7 milhões de metros de redes coletoras de esgoto, além de construção de Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs). Somente nos próximos cinco anos serão, em média, 200 quilômetros de rede, por ano, em áreas como palafitas, becos e rip raps. “Temos muito a avançar.
A companhia já investiu cerca de 1 bilhão de reais em água e esgoto nos últimos cinco anos. Para 2024, teremos mais duas Estações de Tratamento de Esgoto e serão mais de R$300 milhões investidos, exclusivamente para saneamento dentro de Manaus. Isso significa um salto de mais de 10% na cobertura de esgoto na capital amazonense”, anuncia o diretor.
