Chu é um defensor do desenvolvimento de fontes de energia alternativas como o etanol, mas ele considera equivocada a maneira como o governo americano tem feito isso, gastando bilhões para subsidiar usinas que usam o milho como matéria-prima na produção do combustível e dificilmente seriam rentáveis nos dias de hoje se não recebessem ajuda oficial.
O etanol feito de milho gera menos energia do que a necessária para produzi-lo, se for contabilizada também a energia consumida no plantio e na colheita. Além disso, a expansão acelerada das usinas americanas nos últimos anos fez disparar os preços do milho, provocando aumentos nos preços dos alimentos no mundo todo.
“Nós podemos extrair combustível de plantas, mas o milho não é a planta certa”, disse Chu numa conferência recente. Ele acha que a prioridade dos EUA deveria ser desenvolver combustíveis como o etanol celulósico, que pode ser feito de palha, lascas de madeira e outros materiais vegetais, mas ainda não é viável comercialmente.
Vencedor do Nobel de Física com dois colegas em 1997, Chu dirige atualmente o Laboratório Nacional Lawrence em Berkeley, na Califórnia, um centro de pesquisas financiado pelo Departamento de Energia. Com a chegada de Chu em 2004, o laboratório passou a se concentrar em estudos sobre biocombustíveis e energia solar.
Os EUA têm capacidade para produzir 34 bilhões de litros de etanol ao ano. Metas da legislação em vigor prevêem o aumento da produção para 137 bilhões de litros até 2022 e impõem um limite para o avanço do etanol de milho ao determinar que ao menos 80 bilhões de litros sejam extraídos de outras matérias-primas.
As dificuldades que os laboratórios do governo e o setor privado têm encontrado nos EUA para tornar viável a nova geração de biocombustíveis podem criar oportunidades para o Brasil, onde o etanol de cana é feito de maneira muito mais eficiente do que nos EUA.
“O desenvolvimento das novas tecnologias ainda levará uma década para ser concluído”, diz o professor da Universidade de São Paulo (USP) José Goldemberg, que coordenou com Chu um amplo relatório sobre o tema.
“Isso criará uma janela de oportunidade que permitirá ao Brasil apresentar o etanol de cana como a melhor opção para suprir as necessidades do mercado americano.
”
O Brasil produz 26 milhões de litros de álcool por ano e os usineiros brasileiros vivem sonhando com o dia em que poderão exportar quantidades significativas de combustível para os EUA. Eles hoje enfrentam barreiras tarifárias que protegem as usinas americanas encarecendo o produto importado. A legislação em vigor garante essas barreiras até 2010.
Além de Chu, Obama também apresentou ontem os demais integrantes da equipe que coordenará suas políticas na área energética e no combate ao aquecimento global. Sua principal assessora para esses assuntos na Casa Branca será Carol Browner, que dirigiu a Agência de Proteção Ambiental americana (EPA, na sigla em inglês) nos anos 90.
A próxima presidente da EPA será Lisa Jackson, que atualmente dirige o órgão regulador ambiental do Estado de Nova Jersey. A pauta da EPA para o próximo ano inclui uma questão crucial para o futuro do mercado de biocombustíveis nos EUA e as oportunidades que poderão ser criadas para o etanol brasileiro.
A legislação em vigor determina que no cumprimento das metas previstas para o consumo de biocombustíveis o governo considere também o impacto ambiental das usinas. A indústria americana quer quer o desmatamento da Floresta Amazônica entre na conta das usinas brasileiras, o que poderia servir para erguer novas barreiras à importação do álcool do Brasil.
Os usineiros brasileiros são contra a proposta e é possível que tenham Steven Chu ao seu lado se ele for chamado a opinar no futuro.
O relatório que ele produziu com Goldemberg há dois anos diz a certa altura que “o impacto ambiental adverso associado com a produção de etanol de cana-de-açúcar em grande escala pode ser mitigado significativamente pela experiência e pelo cumprimento das leis ambientais”.
Fonte: Estadão
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