O litoral entre o Norte do Rio de Janeiro e o Sul do Espírito Santo foi pré-selecionado pelo governo federal para abrigar duas novas usinas nucleares planejadas para entrar em operação até 2030, disse o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, integrante do grupo que define a nova fase do Programa Nuclear Brasileiro.

“Em primeiro lugar, é preciso água, água e muita água nas proximidades”, afirmou o ministro a respeito dos critérios usados na seleção, pautada em estudos da Eletronuclear, estatal responsável pela construção de Angra 3 e pela operação das duas primeiras usinas nucleares brasileiras.

Segundo a reportagem publicada ontem pela “Folha de S. Paulo”, Lobão disse que está descartada a construção de uma usina em São Paulo por causa da grande concentração urbana – o Estado tem aproximadamente 40 milhões de habitantes distribuídos em 645 municípios.

A presidente da Agência de Serviços Públicos de Energia do Espírito Santo (Aspe), Maria Paula Martins, disse não saber de nenhum projeto para o Estado, mas não descarta a possibilidade.

“Não fomos comunicados de nada, mas caso a União realmente esteja planejando construir uma usina nuclear no Espírito Santo, o governo estadual não precisará, necessariamente, ser comunicado. A Constituição Federal diz que a geração e a manipulação da energia nuclear são de responsabilidade da União. Portanto, o governo federal pode, sim, ter um projeto e nós ainda não sabermos dele”, argumentou.

Áreas preferenciais

Embora o Litoral Sul do Espírito Santo esteja na lista de estudos do governo, Edison Lobão citou como áreas preferenciais para a instalação de usinas os municípios no Norte fluminense, Macaé e Campos, que já se destacam hoje pela exploração de petróleo.

Outras duas usinas, de um pacote de quatro a serem construídas até 2030, estão planejadas para o Nordeste. Mapeamentos de satélite orientam a escolha do local, prevista para ocorrer até 2010, entre o litoral da Bahia e de Pernambuco.

A definição de onde ficarão as novas usinas gera movimentos antagônicos. Governadores do Nordeste já disputam a primazia, sobretudo pela movimentação da economia local e pela perspectiva de aumento de arrecadação de impostos. No Sudeste, porém, a ampliação do número de usinas é objeto de polêmica.

O presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Guilherme Camargo, defende mais usinas em Angra dos Reis. “Não vejo por que não fazer lá, onde já existe toda a infraestrutura, seria o ideal”, questiona Camargo.

O Ibama concedeu no mês passado a licença de instalação da usina Angra 3. O documento é necessário para o início das obras. Em julho do ano passado, o órgão já havia concedido licença para a construção do canteiro de obras da usina carioca. (Com informações de Abdo Filho)

Cidade com lixo nuclear vai ganhar dinheiro

Em dois anos, a Eletronuclear, estatal responsável por Angra 3, começará a construir um protótipo do depósito, desenhado para estocar o combustível já resfriado por um período de 500 anos. O depósito de combustível serviria para abrigar o lixo nuclear. A ideia em discussão no governo é que haverá um leilão entre os municípios que se dispuserem a abrigá-lo, em troca de uma compensação financeira. O arranjo permitirá a reciclagem do combustível usado pelas usinas, baseado em urânio.

Energia nuclear

Hidrelétricas. Os contrários à energia nuclear dizem que há alternativas a serem consideradas além da energia nuclear – apenas 25% do potencial hidrelétrico do Brasil é aproveitado.

Muito cara. Além disso, para cada quilowatt gerado em uma usina nuclear são investidos US$ 6 mil, enquanto que, numa hidrelétrica, essa relação é de US$ 100 para cada kW. A opção nuclear é a de maior custo por causa dos investimentos em segurança dos sistemas de emergência, do armazenamento de resíduos radioativos e do descomissionamento (desmontagem definitiva e descontaminação das instalações) de usinas que atingiram suas vidas úteis.

Preocupação. A preocupação mundial em buscar fontes alternativas às convencionais (carvão, petróleo e hidrelétricas) baseia-se no caráter não-renovável dos combustíveis fósseis, na tentativa de diminuição da emissão de gás carbônico, no aumento da demanda por energia e na escassez de recursos fósseis e hídricos.

Meio ambiente. A energia nuclear, apesar de não colaborar para a emissão desses gases, precisa lidar com o incômodo problema dos resíduos radioativos, que requerem uma solução para o armazenamento a longo prazo e investimentos em segurança. Há ainda o fantasma de um acidente nuclear.

Urânio. Optar pela energia nuclear no Brasil tem como ponto favorável o fato de possuirmos a sexta maior reserva mundial de urânio (cerca de 300 mil toneladas), suficiente para nos assegurar a independência no suprimento de combustível por muito tempo.

Fonte: Estadão