José Roberto Mendonça de Barros – Economista, sócio da consultoria MB Associados, foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda

Contágio no Brasil – “Os dados do PIB (produto interno bruto) no quarto trimestre de 2008 e do emprego, entre outros, mostraram que a reação das famílias e das empresas brasileiras à crise foi muito rápida. No caso do setor corporativo, a deterioração do crédito no exterior foi transmitida instantaneamente para dentro do país. Esta é a primeira crise on-line que o mundo está vivendo. A crise da integração total”.

Ajuste – “No Brasil, o grosso do ajuste às novas condições já foi feito, especialmente na indústria. O ritmo de retração da economia passará a ser mais lento. Tivemos um degrau e agora vamos cair devagarzinho pelo que se pode chamar de efeitos secundários do primeiro ajuste”.

Governo – “Infelizmente, a resposta do governo tem sido muito modesta. Não há nenhuma perspectiva de melhoria do sistema tributário, até mesmo porque, é bom lembrar, a arrecadação já começou a cair. Vejo com muita preocupação e ceticismo a capacidade de avançar na melhoria da infraestrutura. Também na área de tecnologia, existe pouca disposição em avançar”.

Limitações fiscais – “A política fiscal poderia desempenhar um importante papel na indução do crescimento e na coordenação da recuperação. Entretanto, há muito pouco que possa ser feito no âmbito do governo federal, porque o bônus da arrecadação elevada dos últimos anos foi quase totalmente dissipado em empregar pessoas e em gastos de custeio”.

Propostas – “As políticas públicas deveriam buscar, de um lado, amenizar os efeitos sociais da crise e, de outro, desenvolver e pôr em prática um conjunto de medidas que aumente a competitividade do país. Muitas obras de infraestrutura estão hoje bloqueadas simplesmente pela incapacidade de algumas empresas em apresentar garantias.

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Essa é uma deficiência que acho factível que o governo consiga reduzir. Na área regulatória, há muito que se pode fazer e, aqui, o foco deve ser resolver suas próprias dubiedades. O Executivo também poderia desenhar medida de apoio a novas empresas, especialmente aquelas de base tecnológica”.

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Pedro Parente – Engenheiro, vice-presidente do grupo RBS, foi ministro da Casa Civil e do Planejamento.

Otimismo – “Há razões para certa visão positiva a respeito da nossa situação. Em primeiro lugar, não temos uma crise bancária, como nos Estados Unidos.

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A situação do sistema bancário brasileiro é extraordinária. No lado fiscal, tivemos um efeito estatístico, em função do recálculo do PIB, que foi positivo para o tamanho da nossa dívida. Outro fato extremamente importante foi a ‘desdolarização’ da dívida pública.

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Assim, a recente desvalorização cambial não nos afetou como em crises anteriores.
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As reservas internacionais não tiveram uma queda relevante. Continuam lá no nível dos 200 bilhões de dólares. Por fim, as empresas no Brasil estão capitalizadas. A economia do país segue em uma situação propícia e estará muito receptiva a medidas pontuais que o governo venha a tomar”.

Expectativas – “O governo tem um papel fundamental, que é o de coordenação de expectativas. Se elas melhorarem, o país poderá vivenciar realizações que me parecem essenciais: os bancos poderão se sentir mais confortáveis para reduzir seus juros e emprestar mais, e as empresas poderão voltar a fazer investimentos”.

Abílio Diniz – Administrador de empresas, é presidente do conselho de administração do grupo Pão de Açúcar.

Crise de crenças – “Esta é uma crise originada na ganância e em ideias erradas. Na crença, por exemplo, de que é muito fácil e rápido ganhar dinheiro, de que a rentabilidade poderia se manter em níveis extraordinários para sempre. Esta é uma crise originada no setor privado.
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Depois é que os governos foram envolvidos. O máximo que se pode dizer é que o poder público talvez tenha sido negligente em suas atribuições ao deixar acontecer essas coisas”.

Seleção natural – “As crises separam os ganhadores dos perdedores e é natural que ocorram fusões e aquisições. Contudo, à medida que isso ocorre, verifica-se redução no mercado de trabalho. Outro ponto que não pode ser esquecido é que, quando se observa um processo de consolidação, deixam de ser criados ativos novos, o que retarda o processo de retomada da economia”.

Emprego – “Não estou preocupado com a indústria. A sensação que tenho é que nela já ocorreu o grosso do ajuste. Estou preocupado com outros setores que não o fizeram e que empregam muita gente neste país, como a construção civil”.

Luiz Paulo Vellozo Lucas – Deputado federal (PSDB-ES), é presidente do Instituto Teotônio Vilela.

Ação insuficiente – “As medidas que foram adotadas pontualmente pelo governo, como a liberação do compulsório e a redução do IPI dos automóveis, estavam na direção correta. Mas infelizmente não formam um conjunto coerente, fundamentado em um diagnóstico verdadeiro da situação do país e em uma comunicação transparente das dificuldades”.

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Investimento público – “Neste momento de crise, a ampliação do investimento público é vista como uma das saídas possíveis. O problema é que o nível do investimento no Brasil é muito baixo, tanto como porcentual do PIB quanto da arrecadação. O destino da vultosa expansão de receita do governo nos últimos anos, principalmente da União, foi o aumento dos gastos com pessoal e custeio”.
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Estados e municípios – “Os estados e municípios têm de cumprir à risca a Lei de Responsabilidade Fiscal, e o governo federal não. A atual metodologia de controle das contas públicas praticamente obriga municípios saudáveis a fazer poupança e torna muito difícil a contratação de empréstimos”.

Fonte: Estadão