Enquanto discute com o governo o pagamento de dividendos retidos, a Eletrobrás tem planos de investir R$ 30,2 bilhões entre 2009 e 2012, contando parcerias, recursos a contratar e outros. Entre os projetos estão a usina nuclear Angra 3 e a gigantesca hidrelétrica Belo Monte (11.181 MW), no rio Xingu. O orçamento de investimentos para 2009 previsto no Programa de Ações Estratégicas da Eletrobrás (PAE), somando recursos de parceiros, é de R$ 8,7 bilhões. Até 2012 ela pretende aumentar sua capacidade de geração em 6.459 megawatts (MW), construir mais 10.386 quilômetros de linhas de transmissão de energia e começar a construir e testar Angra 3, prevista para entrar em operação em 2014. As empresas que fazem parte do Sistema Eletrobrás têm capacidade de gerar 39.402 MW, incluindo a metade de Itaipu Binacional, o que representa 38% da capacidade instalada de geração do Brasil, que é de 103.033 MW contando as térmicas movidas a gás natural e a carvão.

A holding controla Furnas, Chesf, Eletronorte, Eletrosul, Eletronuclear, a CGTEE e as distribuidoras Eletroacre (AC), Ceal (AL), Cepisa (PI), Ceron (RO), Amazonas Energia (AM) e Boa Vista Energia (RR), sem contar seu centro de pesquisas, o Cepel. Controla ainda 56% das linhas de transmissão do país, além dos projetos em andamento ou adquiridos no leilão realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na semana passada.

Além de Belo Monte, o plano de investimento contempla a disputa para construção de seis usinas hidrelétricas no rio Tapajós com capacidade de gerar 10.682 MW que serão licitadas até dezembro de 2010 e os estudos para construção das hidrelétricas Marabá (2.160 MW) e Serra Quebrada (2.328 MW). Os estudos de impacto ambiental das duas últimas serão concluídos até dezembro de 2009.

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Para o complexo de Tapajós, atual menina-dos-olhos do presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz, a empresa fechou um acordo com a francesa EDF, que vai participar dos estudos de viabilidade técnica e ambiental. Um documento foi assinado durante a vinda presidente da França, Nicolas Sarkozy, prevendo uma troca de informações entre Brasil e França por meio da EDF e da Eletrobrás. O acordo prevê ainda troca de informações sobre energia nuclear, da qual a francesa é uma das maiores especialistas do mundo.

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Astrogildo Quental, diretor financeiro da estatal, conta que a EDF propôs logo sua entrada no projeto, mas a avaliação foi que ainda era cedo.

Para Belo Monte a Eletrobrás já decidiu que vai participar apenas por intermédio de uma de suas subsidiárias, a Eletronorte, associada a parceiros privados, evitando o que aconteceu no leilão das hidrelétricas do Madeira, quando as subsidiárias disputaram entre si, cada uma associada a um consórcio de empresas privadas. ” Se nós perdermos, e essa for a regra do jogo, vamos ficar só com as usinas do Madeira ” , explica Quental.

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Além das ambiciosas metas de expansão do seu parque de geração no Brasil, a holding também tem planos grandiosos para outros países. A meta de internacionalização da Eletrobrás prevê a geração de até 18 mil MW no exterior e a construção de 11 mil quilômetros de linhas de transmissão de energia até 2012. A companhia montou na semana passada um escritório em Lima, no Peru, onde estuda projetos para construção de seis usinas na fronteira com o Brasil, as hidrelétricas Inambari (2.000 MW), Sumabeni (1.074 MW), Paquitzapango (2.000 MW), Urubamba (940 MW), Vizcatán (750 MW), Cuquipampa (800 MW), além de uma linha de transmissão. Também estuda a construção de uma hidrelétrica na África, na fronteira de Angola com a Namíbia.

O financiamento para tantos projetos deve vir, em grande parte, do BNDES, apesar da Eletrobrás se encontrar atualmente às voltas com uma nova negociação que permita ao banco emprestar R$ 4,5 bilhões para a construção de Angra 3.
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De novo, o BNDES já está no limite do financiamento para o setor público, o que vai exige uma nova excepcionalidade do Conselho Monetário Nacional (CMN) para que o empréstimo seja concedido. Dos R$ 7,5 bilhões previstos no orçamento para a construção da terceira usina nuclear brasileira, estão programados ainda um empréstimo internacional de R$ 1,5 bilhão vinculado à compra de equipamentos e mais R$ 1,5 bilhão em recursos da própria Eletrobrás.

Quental explica que no momento o BNDES também quer detalhamento do modelo de comercialização da energia que será produzida por Angra 3. Atualmente toda a geração de Angra 1 e Angra 2 tem Furnas como intermediária.

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Ela compra a energia da Eletronuclear e repassa a energia para o mercado, nem sempre com lucro na operação.

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“Esse modelo não é bom. Furnas já tem os problemas relacionados aos contratos de importação com a CIEN, a térmica do Pantanal e as usinas nucleares ” , ressalta o diretor.

Apesar dos grandes projetos de geração e transmissão de energia tomarem grande parte dos recursos da Eletrobrás, a empresa continua recebendo ofertas para aumentar sua participação ou entrar no capital de empresas de distribuição. Quental admite conversas para aumentar a participação na Celpa de 34% para 49%. Mas não é só. Segundo ele, a Eletrobrás também tem tido conversas com os estados de Goiás, Roraima e Amapá sobre as problemáticas distribuidoras Celg, Companhia Energética de Roraima (CER) e Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA). Além de inadimplentes com os pagamentos pela energia que consomem, elas querem uma participação da Eletrobrás em seu capital.

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“Não sei como vai acabar essa situação, não há nenhum acordo fechado, só conversas” , explica. Sobre a possibilidade de vender suas participações na distribuição para focar sua atuação e fazer caixa para investimentos, Quental diz que esse não é a intenção já manifestada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Além de controlar seis distribuidoras, a Eletrobrás tem participação acionária em outras empresas como a Cemar, do Maranhão, a Centrais Elétricas Matogrossenses (Cemat), a Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), a gaúcha Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP).

Fonte: Estadão