Não se trata de uma ação específica de Lula, mas da diplomacia brasileira. E tem como objetivo principal esvaziar a ofensiva diplomática do presidente venezuelano Hugo Chávez no continente. É um jogo com profundos significados futuros.

Historicamente a América Latina sempre foi área de influência dos Estados Unidos. Ao longo do século 20, à parte uns namoricos com o Eixo, Brasil e Argentina, Vargas e Perón disputaram influência junto ao governo americano.
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De sua parte, a diplomacia norte-americana sempre tratou de preservar o equilíbrio entre os dois parceiros, para não estimular uma competição perigosa.

De uns anos para cá, houve uma conjugação de eventos que mudou o panorama geopolítico na região. Um, o próprio encolhimento da influência norte-americana, principalmente após o fracasso das chamadas experiências neoliberais no continente.

De sua parte, a Venezuela amargou um desastre neoliberal terrível, que lhe custou uma crise bancária enorme, o fracasso de uma tentativa social-democrata de reerguer o país, e o advento de Hugo Chávez e seu “socialismo do século 21”.

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E aí se entra em um jogo complicado. O fracasso dos modelos neoliberais na distribuição de renda e na inclusão social abriu espaço para novas experiências no continente. Hoje em dia, estão claramente postas na mesa as alternativas venezuelana e brasileira.

A ofensiva de Chávez foi contida pela queda nos preços do petróleo, mas não desapareceu.

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Ele aposta no socialismo do século 21, criou o Partido Socialista Unido da Venezuela em 2004, os Conselhos Comunais em 2006, reforçou o nacionalismo, deu apoio amplo a países com governos de esquerda mais radical.

Criou a Petrocaribe e a ALBA (Alternativa Bolivariana para a América Latina e Caribe).

Nesses anos todos, o governo Lula tem se constituído na alternativa democrática de quebrar paradigmas, de valorizar a estabilidade econômica e política, visando um processo lento porém consolidado de inclusão social.

É uma estratégia que enerva, especialmente na condescendência com a política monetária do Banco Central.

Mas, no âmbito do continente, a diplomacia brasileira tem sido fundamental para que a Bolivia de Evo Morales – e a própria Venezuela, de Chávez – não enveredem pelo populismo alucinado que destruiu tantas democracias latino-americanas. Com Morales, Lula tem se comportado como o irmão mais velho, ajudando, puxando as orelhas, impedindo atos heróicos inúteis.

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Na outra ponta, Chávez botando fogo.

Com a eleição de Fernando Lugo para presidente do Paraguai, esse conflito veio parar no quintal do Brasil.

A ajuda do Brasil não deveria se limitar a essa revisão do Tratado de Itaipu, mas a um programa que, contribuindo para desenvolver o país, o livrasse definitivamente do risco de aventuras populistas ou de continuar submetido ao crime organizado. E com contrapartidas que permitissem ganhos ao Brasil.

Fonte: Estadão