As siderúrgicas podem se frustrar com a esperada recuperação do setor se retomarem a produção em um ritmo mais forte do que a volta da demanda por aço, afirmou nesta terça-feira o presidente do comitê econômico da Associação Mundial do Aço, Daniel Novegil.
“Há ainda muita volatilidade no mercado e a reativação dos alto-fornos agora pode frustrar a retomada do setor”, disse Novegil, que também é presidente-executivo da produtora de aço Ternium.
Segundo ele, agora que os estoques do insumo voltaram aos níveis históricos, não se sabe exatamente se a compra de produtos siderúrgicos decorre de recomposição dos inventários ou por aumento do consumo aparente.
Dados da Associação Mundial do Aço indicam que 74 alto-fornos no mundo foram desligados entre o final de 2008 e o início de 2009, em meio ao agravamento da crise econômica global, a partir de um levantamento que engloba 119 siderúrgicas. Desse total inoperante, 36 alto-fornos já foram religados. Os dados não incluem números da China.
Pelos dados da entidade, o mundo tem capacidade instalada para produzir 1,8 bilhão de toneladas de aço por ano, mas o consumo previsto para 2009 é de cerca de 1,1 bilhão de toneladas. Em 2008, a capacidade era de 1,7 bilhão de toneladas e o consumo, de 1,3 bilhão.
Enquanto isso, o Brasil, com uma capacidade instalada que deve chegar a 41 milhões de toneladas no final do ano, projeta uma produção de 27,292 milhões de toneladas e vendas de 16,62 milhões em 2009, segundo o Instituto Aço Brasil, antigo Instituto Brasileiro de Siderurgia.
Tom de Cautela
A opinião de Novegil encontrou eco em comentários de executivos das principais siderúrgicas brasileiras, Usiminas, Gerdau e CSN, que adotaram um tom de “otimismo cauteloso” sobre a indústria para os próximos trimestres.
“Lá fora, as coisas estão melhorando às custas de trilhões de dólares injetados nas economias.
Não há ainda, de forma consistente, informação de para onde caminhará a economia”, afirmou o presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, comentando que “é preciso ter cuidado antes de se reconhecer que o pior já passou”.
Segundo o executivo, a demanda no segundo semestre deste ano está forte, mas, para 2010, o cenário é nebuloso.
O excesso de capacidade produtiva de aço, segundo Novegil, está mais evidente na Europa, Japão e países integrantes do antigo bloco socialista.
A Europa tem excesso de 121 milhões de toneladas de capacidade produtiva, enquanto a América Latina tem sobra de 28 milhões de toneladas.
Apesar das ameaças de excesso de aço com o religamento de alto-fornos, Novegil afirmou que os preços de referência da bobina a quente começam a se recuperar.
Em abril, estavam em 350 dólares a tonelada e avançaram para 525 dólares em agosto.
Competição Internacional
Com cerca de 700 milhões de toneladas de excesso de capacidade produtiva no mundo, a preocupação das siderúrgicas brasileiras voltou-se ao estabelecimento de mecanismos que as protejam de importações sob condições desleais. Além disso, os empresários também defenderam aceleração das reformas estruturais do Brasil, como na área tributária, e dos investimentos em infraestrutura.
“Protecionismo existe sim e precisamos aprimorar nossos mecanismos de defesa. É preciso um esforço maior do governo”, disse José Armando de Figueiredo Campos, conselheiro da ArcelorMittal Brasil, defendendo também investimentos maciços do Brasil em infraestrutura.
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, o Brasil elevou os gastos anuais em transporte e logística de 7 bilhões de reais para 15 bilhões de reais entre 2003 e 2008, mas a necessidade para a solução de gargalos competitivos seria de 24 bilhões de reais.
A preocupação com a competitividade das exportações também foi citada pelo presidente da associação de montadoras de veículos do país, Anfavea, Jackson Schneider. Segundo ele, a capacidade ociosa da indústria mundial de veículos é sete vezes maior que a produção brasileira de 3 milhões de unidades por ano.
O setor, que comprou no ano passado 7,4 milhões das 33,7 milhões de toneladas de aço produzidas no país, “não se sustenta apenas com o mercado interno”, afirmou Schneider.
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