Os números mostram que o PAC 2 pode tornar-se real. Corroborando o escritor inglês J. G. Ballard: a ficção está aí. Resta ao governo inventar a realidade.

O PAC 2 acena com investimentos da ordem de R$ 1,600 trilhão, R$ 980 bilhões dos quais no período de 2011 a 2014. Esse montante de recursos destina-se a obras nos segmentos de saneamento, saúde, geração de energia e exploração de petróleo e gás.

Mas o dinheiro que efetivamente sairá do Orçamento somará apenas R$ 220 bilhões. O restante está nas mãos dos outros: com empreendedores privados, estatais e por aí afora.

Além da dificuldade de ter de botar a mão no bolso alheio para arranjar dinheiro, o governo enfrentará outra, que está no primeiro PAC e que não deixará de fazer parte da engrenagem do segundo: a qualidade os projetos. Ou a ausência deles.

Para fazer obras há necessidade de projetos. E o volume até agora disponível é insatisfatório. Vários dos projetos que existem estão exigindo adequações, melhorias. Para serem benfeitos, precisam de prazos técnicos, enquanto o governo só tem olhos para os prazos políticos.

O que chama a atenção, no PAC 2, é a ênfase aos programas de geração de energia. Dentre outras, esta é uma área que constitui o calcanhar de aquiles de qualquer governo.

Em 2001, época do presidente Fernando Henrique, houve apagão memorável. Mas em 2009, o governo Lula sofreria abalo semelhante, conquanto em prazo mais curto. A responsabilidade, nesse caso, não foi o baixo nível de água nos reservatórios. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a atribuiu diretamente a falhas no sistema de transmissão de Furnas Centrais Elétricas. A estatal rechaça a acusação, informando que de 2005 a 2009 investiu mais de R$ 1,2 bilhão na modernização de seus equipamentos. Assim, o blecaute ficaria por conta de condições climáticas adversas.

É para exorcizar o fantasma do apagão de 2009, que o PAC 2 pretende investir mais em energia elétrica.

Resumindo: as obras do PAC 2 são muitas, mas o dinheiro não se colhe em árvores. Por isso, o caminho da ficção à realidade tem algumas pedras.

Fonte: Estadão