Na hora da largada, Serra e Dilma partem por caminhos diferentes, na tentativa de chegarem ao mesmo lugar. Ele tem a experiência de uma longa trajetória na vida legislativa e na administração pública. Ela, embora tenha a experiência da militância e dos sete anos e meio em que privou das atividades de governo, foi moldada candidata como expressão de uma vontade pessoal, de um voluntarismo que a torna refém de quem a criou. Ele é visto como candidato natural do caminho na vida pública. Ela, como a alternativa, num quadro partidário abalado pelos que se julgavam blindados pelo poder. Ambos invocam obras públicas para demonstrar o que fizeram e o que podem fazer pelo País: ela, agitando a bandeira do Programa de Aceleração do Crescimento, em especial aquele que mais pode mexer com o cotidiano das pessoas: a questão habitacional, explícita no programa Minha casa, minha vida. Ele, mostrando as obras do metrô, do Rodoanel, além de escolas, hospitais e estradas pelo interior paulista. Ambos podem se ferir muito, tanto por causa das farpas próprias, quanto das farpas alheias. Ele diz, por exemplo: "Aqui não se cultivam escândalos, roubalheira, mas também porque nunca incentivamos o silêncio da cumplicidade e da conivência com o malfeito". E ela inclui o adversário entre "os viúvos do Brasil que crescia pouco, da estagnação e que fingem ignorar que essa mudança é substancial". Enquanto ele se revela com vontade própria e insista em falar na primeira pessoa – "Jamais incentivei o confronto gratuito, não vou mudar", ela afirma não pretender ter "voo solo", nem se desvencilhar do governo do presidente Lula. Independentemente da idiossincrasia de cada um, o Brasil é grande. Repele picuinhas, veleidades, mediocridade. Contudo, terá de engoli-los.
Fonte: Estadão