Leio que a rede hospitalar privada paulistana vem se transformando num imenso canteiro de obras. No conjunto, cerca de 20 instituições hospitalares aplicam R$ 3,4 bilhões em ampliação ou, conforme salienta o noticiário, em novas torres. Elas crescem predominantemente no centro e nas zonas oeste, sul e leste. Em um desses casos, uma edificação antiga, que preserva traços dos anos 60 ou 70, será colocada por terra para dar espaço a uma torre de dez ou mais pavimentos. Em outro, o hospital será transferido para um prédio de 22 pisos. E, dentro dessas modernas construções para a saúde, as adequações não ficarão por menos: receberão mobiliário e equipamentos de última geração. Ali funcionarão maternidade, centro de diagnóstico e ambulatórios similares aos mais modernos do mundo. Perifericamente chovem as justificativas para efeito externo. Por exemplo: os hospitais, ampliados e modernizados, jamais serão problema para o sistema viário. A CET pode dormir tranquila. Ao contrário do que se poderia imaginar, os novos estabelecimentos abrirão mais de 4 mil vagas de garagem dentro deles ou no entorno. Além disso, o crescimento da rede terá impacto positivo nos hospitais públicos, uma vez que haverá mais espaço para os pacientes do Sistema Único de Saúde. Mas, se analisadas algumas particularidades do noticiário, vamos observar que o cenário não é bem assim. Os R$ 3,4 bilhões que serão empregados nessas novas "catedrais da saúde", serão financiados, em grande medida, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). E, do ponto de vista de exigências sociais (não esquecer o S do Social do BNDES), o sistema público vem carecendo muito mais de melhorias do que o sistema privado. No fundo, a parte da população que hoje continua sem acesso àqueles hospitais, pois não tem meios para pagar um plano de saúde, continuará a olhar paia essas imensas construções convencida de que elas apenas balizam o lugar que lhe resta. E, para ela, esse lugar é cada vez mais restrito. – Uma evidência de sua imensa e imperdoável exclusão.

Fonte: Estadão