Eles sobem os morros. Ou se ajeitam na planície. Seja onde for, colocam em risco o único bem que possuem: a vida.
Quando vêm as chuvas e os deslizamentos acontecem, as casas precárias rolam encosta abaixo. O maior número de mortos, nessas tragédias, está entre os que subiram os morros e não encontraram outro meio de descer de lá a tempo.
Mas, não são apenas os mortos, os que oferecem margem para as estatísticas do drama comum. Há os que sobrevivem, depois de perderem familiares e os objetos das tarefas cotidianas. Eles são milhares de desabrigados, que continuarão a colocar a vida em risco, junto com outros que buscam igualmente os locais mais inadequados à segurança a qualquer tipo de moradia. Questionados, expõem a realidade: não têm para onde ir, nem lhes é oferecida outra saída, senão o risco.
Veja-se o caso hoje, no Rio. Seriam, segundo as estatísticas oficiais, 10 mil moradias em áreas de risco. E, áreas desse tipo estão espalhadas, ameaçadoras, pelo país afora. Elas proliferaram em São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Minas, Bahia, em todos os Estados. Na capital paulista, o Jardim Patanal é um local onde a vida, à flor d´água, está permanentemente por um fio.
Mas vêm os governos e, quando as tragédias colocam essas populações em evidência, dizem que elas não podem viver em áreas de risco. Apesar de todo o aparato ministerial ou secretarial que possuem, não conseguem estancar o processo de ocupação desordenada em áreas perigosas.
Há falha de planejamento e falha de previsão. As mortes são uma questão de responsabilidade pública de administradores que nada fazem e jamais reconhecem que falharam. E, no entanto, foram demagogos, cínicos e cúmplices
Fonte: Estadão
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