Ainda não há como fugir ao tema. A consciência não deixa. As imagens e a tristeza de todos – de todas as famílias – alimentam a indignação e mantém de pé a pergunta: Por que o poder público permitiu essa tragédia? – E ela se torna muito mais abrangente: Por que a sociedade deixou que isso acontecesse?
O morro do Bumbo virou sepultara para dezenas de pessoas. Até ontem haviam sido resgatados 37 corpos. Foi necessário que isso ocorresse para que o governo local anunciasse a remoção de 2.350 pessoas, de oito favelas, das áreas de risco onde famílias, que não tinham aonde ir, acabaram se arranchando.
As ocupações de áreas de risco não são de hoje nem de ontem. Elas proliferam no Rio e em praticamente todas as regiões urbanas brasileiras. São um fenômeno do inchaço urbano provocado pela falta de condições de vida no campo. Mas, se o inchaço se torna inevitável, é preciso evitar que ele resulte nessas grandes tragédias coletivas. E isso pode ser feito.
Inconcebível, nos tempos de evolução, em todos os aspectos, o atraso na falta de planejamento. Uma falha na abertura de estudos que indiquem onde é possível colocar uma casa, por mais miserável que seja, em condições mínimas de segurança.
O Brasil tem meios para construir grandes obras de engenharia e colocar diante do mundo, uma arquitetura de Primeiro Mundo. Mas suas autoridades não têm tido sensibilidade nem responsabilidade para coibir a ocupação desordenada de áreas de risco. E não convocam a engenharia para prevenir tragédias dessa ordem. Quando a convocam, é porque já é tarde demais e precisam mascarar o túmulo que elas mesmas escavaram.
Por isso, acredito ser importante que as entidades da engenharia e da arquitetura ouçam mais a voz da sociedade e insistam em difundi-la para prevenir ocorrências desse tipo. Elas não devem ser apenas instrumentos para elaborar documentos ou defender interesses corporativos. Precisam condenar a irresponsabilidade pública. E, o caso de um lixão como o do morro do Bumbo, transformado em área para assentamento habitacional, prova que o caso não é apenas de irresponsabilidade; é de irracionalidade.
O Brasil não tem sofrido o impacto de terremotos nem tem visto lavas de vulcões descendo sobre cidades. Mas tem lixões com assentamento em cima. E isso é o bastante para estigmatizar qualquer governo.
Fonte: Estadão
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