Um debate, ontem (25), na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), sobre os atrasos das obras dos estádios e da infraestrutura local para a Copa de 2014 e para a Olimpíada de 2016. Continuidade dos encontros que a revista O Empreiteiro e a Totvs vêm mantendo com empresários, arquitetos, engenheiros.

Invariavelmente a pedra de toque são as questões dos investimentos, dos atrasos de cronograma, falta de planejamento e gerenciamento e do legado a ser deixado, depois dos eventos esportivos, para a população carioca.

Mas, será que no fundo, no fundo, haveria uma preocupação com eventual legado? Talvez, dentre alguns poucos, haja essa preocupação. O interesse maior é lucrar com a Copa e com a Olimpíada. O resto, caso haja resto, ficaria para depois. Se preocupação maior houvesse, ao longo dos anos, de décadas, com o legado de qualquer coisa para o Rio e para outras cidades, o País não estaria na atual situação: desarrumado, anárquico, espelhando esse desequilíbrio social e urbano que chega ao limite do absolutamente insuportável.

Uma pequena polêmica travou-se entre Francis Bogossian, presidente do Clube de Engenharia, e o arquiteto Leon Myssior, coordenador do chamado Time dos Arquitetos da Copa. Enquanto Myssior chamava a atenção para a necessidade de planejamento, Bogossian batia na tecla de que chega o momento em que não se pode mais contemporizar, pois as obras têm de ser feitas.

Reconheçamos: a falta de planejamento tem produzido monstrengos em nossas cidades. O resultado disso são os graves prejuízos ocasionados pela negligência em planejar, o que acaba derivando para a construção de obras sem projetos urbanísticos amadurecidos no tempo certo ou com projetos inadequados. Um exemplo emblemático disso é o Minhocão. Obra tocada às avessas, prejudicou área importante da Paulicéia ao longo de seu traçado e, hoje, ainda não se sabe, rigorosamente, o que fazer com ele, para que não continue como uma nódoa urbana.

O temor é de que, sem planejamento satisfatório, as obras da Copa e da Olimpíada se transformem, depois, em elefantes brancos, sem real utilidade para a população.

E tudo seria diferente se obedecidas as etapas necessárias: tempo de planejar, de projetar, de fazer as obras e de colher os frutos dessas obras, em especial, o equilíbrio do funcionamento da cidade.

Sem a obediência ao tempo certo para a manutenção desse equilíbrio, incorre-se em erros devastadores. É o caso, hoje, da Linha 4 do metrô paulistano, que começa a operar com décadas de atraso. Mas, voltemos ao Rio. Ele não merece que, por conta da falta de planejamento, seus aeroportos, em especial o Santos Dumont, sejam transformados, como disse Myssior, em "rodoviárias de avião".

Fonte: Estadão