Não é tanto assim. As obras, por este país cheio de necessidades, poderiam ser mais, muito mais. Contudo, para as obras projetadas e para aquelas que estão em andamento, faltam engenheiros. E, dentre aqueles que estão no batente, a formação tem sido considerada insuficiente.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) vai mais além. Calcula que até 2012 haverá no Brasil 150 mil vagas de engenharia e que, até aquela data, elas não terão como ser preenchidas. Considerando o volume de engenheiros anualmente formados, somente um, em cada quatro, possui formação que possa ser apontada como adequada. Quem diz isso é o professor José Roberto Cardoso, diretor da Escola Politécnica da USP.
Várias dessas informações foram veiculadas em evento realizado em Curitiba-PR, ocasião em que entidades setoriais enfatizaram um dado sumamente preocupante: o Brasil estaria perdendo cerca de US$ 15 bilhões com a má formação dos profissionais da engenharia.
Diante desse quadro, objeto também de pesquisas encomendadas pela Câmara Americana de Comércio (Amcham), a solução não viria apenas das escolas, com o ritual das mudanças curriculares e outras providências. Viria simultaneamente das empresas e do governo. As medidas formalizadas no encontro são transcritas abaixo:
Ensino médio
No processo de formação há necessidade de focar os estudantes do ensino médio, com as seguintes providências:
Questionar os jovens, especialmente as mulheres, para entender por que poucos optam pelas carreiras técnicas e criar programas para motivá-los a reverem essa postura;
Aumentar o teor tecnológico no ensino médio com muita prática laboratorial;
Estimular a dignidade das profissões técnicas;
Criar centros de excelência em ciências exatas onde os talentos sejam aproveitados e incentivados;
Ofertar bolsas de incentivo a formandos selecionados para que tenham acesso facilitado a cursos de nível elevado em universidades públicas;
Desenvolver um programa intensivo de melhoria do ensino de matemática e ciências;
Reorganizar o currículo por áreas, não disciplinas;
Adotar novas estratégias de abordagem do aluno, incentivando que aprendam fazendo;
Permitir que alunos de engenharia e engenheiros formados lecionem cursos de física, química e matemática;
Instituir reforço escolar no contra-período das escolas públicas para ciências, matemática e comunicação, ministrados por alunos bolsistas do ensino superior.
Ensino superior
Com relação ao papel das universidades, os especialistas sugerem:
Incluir temas ligados à ciência de serviços – ou seja, a dinâmica do relacionamento com clientes e fornecedores – e à sustentabilidade nos currículos das áreas técnicas;
Reduzir a quantidade de denominações de diferentes modalidades de engenharia;
Recuperar cursos que não têm qualidade adequada;
Estimular que os graduandos "coloquem a mão na massa" desde o primeiro ano;
Implementar progressivamente campi avançados dos melhores cursos em cidades de porte médio.
"Se adotarmos programas para melhorar os cursos de engenharia de modo a permitir que seu rendimento passe dos 20% (de ingressantes que conseguem se formar) para 40%, dobraremos a oferta de engenheiros", afirmou José Roberto Cardoso, diretor da Escola Politécnica da USP.
Papel das empresas
Quanto ao papel das empresas foi sugerido:
Formar pessoas que possam preparar outras;
Estabelecer parcerias com outras empresas e instituições de ensino;
Aumentar o conceito de inclusão, contratando pessoas sem todos os requisitos desejados, mas com disposição para aprender;
Oferecer boas oportunidades de treinamento;
Abrir espaço para experiências internacionais;
Acelerar o desenvolvimento dos profissionais;
Investir na formação de pós-graduados e PhDs;
Ofertar bolsas de estudo para alunos de carreiras tecnológicas em larga escala;
Financiar escolas de engenharia para melhorarem sua base laboratorial e de tecnologia da informação e comunicações;
Apoiar programas voltados a aumentar o rendimento de estudantes.
Governo
Quanto às ações do governo, as sugestões foram as seguintes:
Aprovação de uma lei que garanta incentivos fiscais às companhias que investem em capacitação de profissionais;
Financiamento para escolas de engenharia promoverem melhorias de infraesrutura;
Desburocratização da autorização de funcionamento de cursos de tecnologia e flexibilização da composição das grades curriculares conforme a necessidade do mercado.
Pelo que li e pelas informações que me chegaram de participantes do evento em Curitiba, a saída para o problema depende de uma forte vontade política que uma, em torno de um mesmo objetivo, escolas, empresas e governo. Se essa união não ocorrer, ou se ocorrer de um lado só, nada feito. De nada adianta o profissional sair da universidade com uma boa formação, se não ingressar no canteiro de obra ou se preferir prestar concurso para uma carreira que o levará, inevitavelmente, para o gueto da burocracia. (Nildo Carlos Oliveira)
Fonte: Estadão
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