É necessário um pouco de racionalidade nessa questão dos estádios para a Copa. De modo mais específico: no caso de um estádio alternativo, caso o Morumbi seja mesmo descartado pelos cartolas.

Sabe-se que há empresa desenvolvendo planos, antevendo até montagem de canteiro de obras para construir um estádio na região de Pirituba. A pressa leva até a batizá-lo de Piritubão. A aposta leva em conta o bolso, infinitamente generoso, do poder público.

E, para justificar o plano, desenha-se um complexo dentro do qual o estádio seria apenas um item. Ganhariam notoriedade, na divulgação do complexo, para dourar a pílula e induzir ao convencimento público, um centro de convenções – talvez teatros e cinemas – ao lado de um projeto de urbanização que alcançaria o entorno amplo, com sólidos benefícios para o bairro de Pirituba e, extensivamente, para toda a região.

Penso no esquema similar montado no Rio de Janeiro, quando da divulgação dos Jogos Olímpicos de 2007. O estádio que hoje se chama popularmente Engenhão também veio em embalagem semelhante. O tradicional bairro Engenho de Dentro, que há séculos aguarda alguma melhoria do poder público carioca, experimentaria inéditas maravilhas de interferência urbanística. Acessos de todos os lados seriam construídos. E a população seria a principal beneficiária de tudo aquilo que então se divulgava.

Antes que seja tarde, é necessário botar racionalidade nessa história. E, pelo que me parece, o prezado José Roberto Bernasconi, da regional São Paulo do Sindicato das Empresas de Engenharia e Arquitetura Consultiva (Sinaenco) expõe pensamento parecido.

Se, acaso, o plano do complexo para Pirituba vingar, que seja elaborado no tempo certo, sem as amarras de um cronograma asfixiante, que só serviria para drenar mais recursos para os bolsos dos interessados. Estádio por estádio está aí o do Morumbi ou outros mais, suscetíveis de reformas, mas com capacidade para os jogos da Copa. Não há porque jogar dinheiro naquilo que pode se transformar em um formidável elefante branco a custa do sacrifício da população.

Outra coisa: uma Copa não deve ser justificativa para plano urbanístico. A justificativa é a própria cidade, seus moradores, crescimento, exigências de qualidade de vida. O plano deve prosperar sem a necessidade de muleta daquela ordem. Além do que, dinheiro para a construção de novo estádio teria maior utilidade se destinado a obras, por exemplo, de prevenção de tragédias em áreas de risco, ou para dar alguma racionalidade ao transporte público, uma engrenagem que continua, aos poucos, ano a ano e no dia a dia, a triturar o cidadão no trajeto casa-trabalho, trabalho-casa, sem que ninguém dê a mínima para a sua exaustão, esgotamento e morte precoce.

Fonte: Estadão