Dificilmente a usina hidrelétrica de Belo Monte, com potência instalada de 11.233 MW, deixará aquela área de sombra desenhada pela polêmica em que está colocada desde que o governo decidiu que ela deveria ser projetada e construída.
A lembrança histórica leva ao ano de 1975, quando foram iniciados os inventários do reservatório do rio Xingu, a cerca de 40 km da cidade de Altamira, Pará. Mas muito antes disso já se falava, à boca pequena, que a obra daria panos pra manga. E foi assim durante a elaboração do projeto; na fase em que o projeto original teve de ser alterado para atender aos reclamos de ambientalista; durante o 1º Encontro dos Povos Indígenas e ao longo do processo de licenciamento, pelo Ibama.
Presumia-se que, após o leilão, em 20 de abril último, vencido pelo Consórcio Norte Energia (Chesf, Queiroz Galvão, Gaia Energia, e Participações, Galvão Engenharia, Mendes Energia, Serveng, J. Malucelli Construtora, Contern Construções e Cetenco Engenharia), tudo passasse a acontecer sem traumas e depressões.
Pelo visto, a hidrelétrica não se sustentará por conta própria. Exige-se ali a presença do governo. Primeiro, por intermédio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que deverá liberar os recursos necessários para a construção e, segundo, por intermédio da Eletrobrás, que deverá comprar a energia produzida pela usina, destinada ao mercado livre. Portanto, para onde quer que se vire, para tentar livrar-se do peso de Belo Monte, o governo se apercebe de que é refém do empreendimento. Na prática, terá de administrá-lo. Belo Monte continua, assim, como um pólo a atrair controvérsias.
A construção de um personagem
Colocadas as candidaturas presidenciais em condição polarizada, a dificuldade da oposição é observar que a situação conseguiu construir bem o seu personagem. Ele foi estruturado de tal modo, que não será fácil desconstruí-lo. O candidato oposicionista tem medo de partir para o ataque e a candidata situacionista parece bem acomodada, fora da linha de tiro. Mas não é de hoje que a população brasileira é vítima dessa enganação: vota num candidato a fim de ser governada por outro, que parece ser, mas jamais será, o candidato original.
Fonte: Estadão
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