A notícia de que 33 mineiros chilenos se encontram soterrados nos fundos de uma mina de cobre no deserto de Atacama, e que estão desempregados por conta da falência da empresa pela qual entraram naquele buraco, me levaram ao O caminho para Wigan, de George Orwell, em particular para a observação: “… homens decentes, fitando seu destino com a surpresa de um animal preso numa armadilha”.
É assim que os imagino. Eles ficaram emparedados, sem saída, depois que enormes blocos de pedra cederam em diversos pontos da mina, bloqueando qualquer possibilidade de rota de fuga. E ali vivem desespero coletivo, sem saber que todo o empenho para resgatá-los obedece a um trabalho de risco, conquanto amparado em um cuidadoso planejamento de engenharia para perfurar um túnel pelo qual deverão ser içados um por um. São 33 homens, cujas famílias gravitam em torno da área e que dependem deles para sobreviver.
Vítimas da mina, vítimas também da lógica implacável do capital predatório. A empresa, falida, deixa-os sem emprego e na dependência de terceiros para eventualmente encontrarem uma futura ocupação.
Alimentados precariamente e resistindo às condições ambientais em que a temperatura chega aos 40º C, estão sujeitos a toda sorte de doenças. E quem pode dizer que novos blocos de pedra não se movimentarão limitando-lhes a possibilidade de sobrevida?
O trabalho para resgatá-los deve se arrastar por longos quatro meses. Ou mais. E eles sequer sabem disso. Estão na expectativa de que logo mais possam rever o sol. Sobretudo, a luz dos olhos das mulheres e filhos. O perigo é que a situação deles, com o passar dos dias, e sem a cobertura maciça e constante da imprensa, acabe caindo na rotina dos fatos cotidianos. A rotina também é uma forma de soterrar. E esquecer.
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