Já nas livrarias o romance Solar, do inglês Ian McEwan. A obra, com tradução precisa de Jorio Dauster, publicado pela Companhia das Letras, retoma a tradição da qualidade impecável da ficção britânica. McEwan vem se notabilizando pelo estilo, engenhosidade e fabulação, seguindo e evoluindo a partir do exemplo de outros romances que ele escreveu, tais como Sábado e Reparação.

Coloco Solar em blog que a rigor trata de assuntos da engenharia porque, nesse caso, o autor resolveu mexer num tema que, embora de interesse geral, ainda não despertou consciências, pelo menos naquele meio, elitizado, que poderia influenciar nas mudanças profundas das políticas para o meio ambiente no mundo.

O autor centra a ficção – ou a sua realidade – na primeira década deste século e cria o personagem, Michael Beard, um físico internacionalmente reconhecido. E é ele quem, durante uma conferência para uma elite que não está nem aí, destrava a língua, ao dizer e, sobretudo, ao mostrar que “o planeta está doente”. Diz ele que a sociedade precisa substituir a gasolina rapidamente. Dentre as razões relacionadas para isso, ele destaca a principal: o petróleo vai acabar.

“Ninguém”, afirma o personagem para uma platéia cética e acomodada, “sabe exatamente quando, mas existe consenso de que registraremos o pico de produção de petróleo dentro de cinco a quinze anos. Depois disso, a produção declinará, enquanto a demanda por energia continuará crescendo à medida que a população se expande…”

Há vários aspectos que ele vai esclarecendo, desnudando, até advertir: “Não se deixem levar pela ilusão de que a economia mundial e as bolsas de ações podem existir sem relação com o meio ambiente do mundo”. Tudo está vinculado ao discurso do ecologicamente correto e à constatação de que, sem mudanças na estrutura atual não haverá saída, a menos que o sujeito pule desse planeta para outro e desde que o outro ofereça condições de sobrevida ao gênero humano.

McEwan conseguiu colocar um tema fastidioso desse tipo num romance que tem o sabor das grandes obras romanescas.

Fonte: Estadão