Historicamente o centro exerce um fascínio imemorial. É ali que a cidade acontece em dose maior de cidade. Por isso, sempre pesquisei o centro, em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife e em outras metrópoles do mundo por onde, acaso, precisei circular. Em São Paulo, me aborrece andar por estas ruas centrais quando o comércio e outras atividades se retraem. Elas se esvaziam e dão a sensação de que podemos encontrar, mesmo nas tardes de domingo e dos feriados, fantasmas a voejar em cada esquina.
A revitalização dessas áreas, mediante a restauração de edificações para fins culturais, sempre deixava, em meu entender, uma interrogação no ar: E por que não restaurar esses soberbos edifícios, com cara de antigamente nas fachadas e nos pequenos detalhes das janelas, portas, escadarias e corredores, para fins residenciais? Pensava: Quem vier morar nesses prédios pode privar de salas e quartos maiores, da proximidade com livrarias e sebos, terá ônibus e metrô à mão, além de supermercados e lojas de comércio variado, na vizinhança. Os moradores ressuscitariam a vida urbana e encontrariam mais conforto aqui do que nas remotas periferias.
Assim pensava e assim, agora, me entusiasmo, com um fio de esperança, ao ler na revista São Paulo, da FSP (edição de domingo, dia 7 último), matéria da jornalista Natália Zonta, dando conta de que o centro voltará a ter futuro. Há um esforço em favor da revitalização, mediante o retrofit de diversos edifícios: Frei Caneca, Mood, Laura Cristina, Marian, Antônio Carlos, Central Life e por aí afora. Construtoras vêm se interessando por eles e cuidando das melhorias para que voltem a ser ocupados.
Pelo menos ali não vai ocorrer o que o prezado arquiteto Walter Caldana, diretor da FAU/Mackenzie, tem veementemente criticado: construir ruas onde não há cidade. Porque é isso o que tem acontecido na periferia. Constrói-se a rua e o morador fica na expectativa de que, com o passar do tempo, a cidade dali se aproxime. No centro, a cidade já existe. Basta que se lhe insufle um pouco de oxigênio, a fim de que notemos uma obviedade: ela está cheia de vida. Viva o Centro.
Fonte: Estadão
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