No país do barulho, artificial e retórico, a falta de planejamento dificulta a costura da realidade e o que parece prioritário hoje, deixa de sê-lo amanhã. Ensaia-se um empreendimento sem uma perspectiva clara de como será viabilizado técnica ou economicamente e, depois, a realidade se encarrega de adiá-lo, às vezes para sempre. Cérebros são sacrificados, iniciativas são sufocadas. Basta que o jogo de interesses não dê certo para que uma ideia seja pulverizada, desapareça no ar.
A falta de planejamento leva o projeto do trem-bala ao adiamento. Agora, a próxima data do leilão é abril. O governo, que já prometeu mundos e fundos – sobretudo fundos – para atrair a formação de consórcios e a entrega de propostas – corre o risco de virar refém dos grupos que manipulam as possibilidades de parcerias.
No segmento ferroviário, ele bate cabeça. Abandonou projetos antigos, deixou linhas ferroviárias importantes apodrecerem ao sabor das intempéries, construiu até ponte rodoferroviária que jamais foi utilizada ou que acabou sacrificada pela subutilização e, de repente, quer construir nada mais, nada menos do que um trem-bala, sistema que reconhecidamente requer subsídios governamentais, arrancados do bolso dos contribuintes, para manter-se de pé ou melhor, nos trilhos.
Isso ocorre com o projeto do trem-bala e está ocorrendo também com os portos e aeroportos. Os números que os estudos do Construbusiness apresentam nesta segunda-feira, aqui em SP, escancaram essa realidade. E sequer seria necessário o Construbusiness para mostrar o que está evidente.
Outra coisa
No país do barulho, a ocupação de comunidades nos morros cariocas mostra o erro secular da sociedade e do Estado brasileiro: deixa-se que a falta absoluta de perspectiva de vida fertilize o terreno para o crime organizado e, depois, tenta-se extirpá-lo pela raiz. Quando a raiz está mais embaixo. Ou em cima.
Fonte: Estadão
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