Prometer e continuar prometendo. Praticar a promessa até a exaustão. Esta é a estratégia das administrações, em todas as instâncias. Tão logo surge, na mídia, uma notícia baseada em fatos reais, mas que lhes pareça negativa, a saída é a promessa, em escala maior ou menor, mas sempre repetitiva e monotonamente massacrante. E, quem promete, confia na falta de memória popular. Acha que amanhã ou depois, o fato que provocou o escapismo e, em seguida, a promessa, desaparecerá do noticiário e tudo será como dantes, porque o passado constitui uma imensa sepultura.

Penso nessas coisas ao examinar a enxurrada de informações sobre enchentes em São Paulo e nas demais regiões brasileiras. As tragédias se repetem e o ritual também. O administrador eventualmente comparece ao local das ocorrências e ali refaz ou inova as promessas. Cita números e datas para prometer obras e invariavelmente renova o estoque de esperanças do povo humilde. Ora, quem tem esperança conta, a rigor, com duas opções: lutar desesperadamente por um objetivo ou se entregar ao comodismo, na expectativa de que o motivo de sua esperança seja alcançado pela força da inércia. É com esse jogo de empurrar com a barriga que as administrações públicas vão se reciclando e se perpetuando, se possível, até com mais votos do que antes.

Falo disso depois de ler que o prefeito paulistano, Gilberto Kassab, prometeu acabar, rigorosamente no prazo de seis anos,com todas as áreas de risco da cidade. E me lembro das promessas governamentais, tantos anos passados, para eliminar a possibilidade de eliminar a poluição e as enchentes do rio Tietê. Os piscinões também. Quantas promessas.

Áreas de risco são uma chaga social. Quanto mais desamparo e mais falta de opções para morar, mais áreas de risco aparecerão ocupadas. De modo que, fazer promessa dessa ordem, não é levar em conta as contingências futuras. É confiar demais no poder da promessa.

Fonte: Estadão