Se acaso o prezado amigo dispuser de algum tempo, no final da semana, aceite uma sugestão: leia Tolstói. Não me refiro aos romances "Ana Karenina" ou "Guerra e Paz", já amplamente conhecidos e reconhecidos, mas ao conjunto de ensaios, artigos, cartas e fragmentos de memórias reunidos no livro "Os últimos dias", que a Penguim (Cia. das Letras), acaba de publicar, com prefácio de Jay Parini, biógrafo do escritor.
O volume é um estímulo à análise dos nossos dias, a partir do pensamento que ele imortalizou no ocaso da vida, recolhido à sua propriedade, na casa ancestral de Iásnaia Poliana. E o que diz Tolstói, a ponto de me incentivar a repassar a outros a vontade de que ele seja lido, digerido, consultado? Muito simples: a visão universalista e atualizada que ele tinha do mundo.
Vou citar alguns exemplos. Em um de seus ensaios ele diz que os governos e as classes dirigentes "não se apoiam hoje no direito, nem sequer em uma aparência de justiça, mas em uma organização tão engenhosa, que todas as pessoas estão enredadas em um círculo de violência do qual não há qualquer possibilidade de escapar".
Um dos meios que ele cita para o governo manter as pessoas naquele círculo é a intimidação imposta pela organização do Estado. Outro método é a corrupção, que consiste em "arrancar a riqueza do laborioso povo trabalhador por meio de tributos pecuniários, a fim de distribuir essa riqueza entre funcionários que, a troco disso, estão incumbidos de sustentar e fortalecer a submissão do povo". Outros pensamentos vão por aí mostrando como o Poder se aproveita da ignorância do povo para mantê-lo ainda mais na ignorância e, com isso, se perpetuar.
Mas, mudando de assunto…
O senador Roberto Requião, do PMDB, está fazendo de tudo para manter as mãos na pensão vitalícia mensal concedida a ex-governadores do Estado. Valor da pensão vitalícia: R$ 24 mil. Enquanto isso, mesmo revirando mundos e fundos, os aposentados do INSS não conseguem atualizar as magras pensões que recebem.
Vem aí a reforma política. Segundo uma das propostas, o eleitor votará em listas fechadas parta deputados e vereadores. O voto irá para o partido e não para o candidato que, do ponto de vista ideológico ou sob outros aspectos, seja da preferência de quem vai elegê-lo.
E está aprovada a medida provisória 511, que vai facilitar os acessos às fontes de financiamento para a construção do Trem de Alta Velocidade, na ligação RJ-SP- Campinas. O governo insiste na informação de que a obra custará R$ 33,1 bilhões (preços de 2008). Quem viver verá.
Fonte: Estadão
Compartilhar
Compartilhar essa página com seus contatos!