A incompetência da assessoria de comunicação, do serviço de imprensa e da burocracia da concessionária Fonte Nova Negócios e Participações (FNP), formada pelas construtoras OAS e Odebrecht, barrou a Revista O Empreiteiro no canteiro das obras da Arena Fonte, que as duas empresas vêm construindo para a Copa de 2014.
O editor da revista, Nildo Carlos Oliveira, fora convidado por uma empresa internacional de máquinas e equipamentos, a acompanhar ao local, dia 3 deste mês, uma equipe que realizava registro visual das obras para um trabalho de divulgação. Ele considerou que a visita seria da maior importância, uma vez que significaria a continuidade de um programa editorial destinado a mostrar aspectos técnicos da engenharia nos estádios que estão sendo construídos. Ainda recentemente, ele havia redigido matéria (OE 496/abril/11) sobre as obras da Arena Amazônia, em Manaus, a cargo da Construtora Andrade Gutierrez e pretendia conhecer os trabalhos das duas construtoras baianas, em Fonte Nova. Há cerca de meio século a revista está acostumada a visitar canteiros de obras no Brasil e no exterior.

Para surpresa do jornalista e das pessoas que o convidaram a ver as obras, o clima no canteiro foi surreal. A assessora de comunicação alegou que a presença da revista estava fora de agenda e que o editor não poderia entrevistar ninguém. No período em que ela acompanhou a equipe para as tomadas fotográficas, o jornalista, que ficara no escritório do canteiro da obra, achou que deveria, ao menos a título de cortesia, entregar o cartão de visita e um exemplar da revista – exatamente aquela em que publicara matéria sobre a Arena da Amazônia – ao responsável pelos trabalhos de engenharia da nova arena. Informada por alguma secretária, pelo celular, dessa iniciativa, a assessora bloqueou até mesmo a possibilidade desse pequeno gesto de cidadania.

O jornalista acabou encaminhado à sala do diretor comercial, que se revelou constrangido, uma vez que nada tinha a falar para atendimento dos objetivos apresentados pelo jornalista. Julgou que possivelmente estivesse ocorrendo um mal-entendido. Mas não se tratava de um mal-entendido: o que aconteceu no canteiro de Fonte Nova foi apenas um ato de absoluta incompetência no tratamento que deve ser dado a qualquer cidadão e à imprensa de um modo geral.

A obra de Fonte Nova, conquanto não seja pública, é de interesse público e vem sendo construída, em grande parte, com recursos públicos. Mesmo que a direção da concessionária se julgasse inapta, naquele momento, a prestar quaisquer informações de engenharia a uma publicação técnica, deveria, ao menos, deixar um caminho aberto para uma pauta posterior.

Ao final, a assessora, questionada sobre fato tão surreal, alegou que agia daquele modo porque estava seguindo a orientação de um manual. Caso esse manual exista e esteja, assim, sendo obedecido, não passará de um atestado da incompetência e da mediocridade a que se chegou no tratamento de uma empresa, em relação à imprensa e a qualquer cidadão.

A informação sobre um bem público – no caso, o estádio, cujas obras estão sendo executadas pela empresa concessionária – pertence à sociedade e até o governo é mero agente ao realizar a concessão. Apesar do bloqueio surreal imposto à revista, a matéria sobre as obras da Arena Fonte Nova será feita e publicada.

Fonte: Estadão